Otimização dos resultados em celulite associando a Manta Térmica e a Argiloterapia

A lipodistrofa ginoide (LDG), conhecida como celulite, é uma condição complexa e multifatorial, que inclui fatores desencadeantes, perpetuadores e exacerbadores. Uma teoria extensivamente estudada sobre a etiopatogenia da LDG é a de distúrbios da circulação microvascular e linfática, do tecido adiposo subcutâneo. Esse fato faz com que a região afetada tenha prejuízos a nível nutricional pela falta de oxigenação.

Uma grande alternativa é a utilização de duas terapias milenares, que possuem desfecho positivo na atualidade: a hipertermoterapia e argiloterapia. Lucena, 1991, define Hipertermoterapia superficial como sendo o tratamento através da ação do agente terapêutico de forma localizada, e alcançando pouca profundidade (poucos milímetros) no segmento corporal, resultando em alteração térmica superficial. Desta forma, terapias de calor passivo melhoram a hiperemia térmica cutânea por meio de uma melhor biodisponibilidade do óxido nítrico. Esse fator torna-se interessante para a aplicação
do calor superficial como alternativa de tratamento da celulite, com objetivo da melhora da microcirculacão local.

Já as terapias com argila possuem diversos benefícios, como efeitos de limpeza, ação tensora e aquecimento, além da promoção de ação estimulante, suavizante e também ionizante, por ser composta de minerais que, em contato com a pele, têm ação da troca de eletrólitos.

Celulite e suas principais características

O termo “celulite” refere-se a uma alteração que confere à pele uma aparência ondulada e irregular, e afeta 80% a 90% das mulheres após a puberdade. Também conhecida como lipodistrofa ginóide (LDG), ela é uma doença estrutural, inflamatória que ocorre por distúrbios bioquímicos do tecido subcutâneo, que causam alterações na topografa da pele. Tais alterações derivam em saliências da pele e depressões, localizadas principalmente nas nádegas, membros inferiores e abdome.

A lipodistrofa ginoide é uma condição complexa e multifatorial que inclui fatores desencadeantes, perpetuadores e exacerbadores. Pode ser resultado de alterações estruturais, bioquímicas, metabólicas, inflamatórias e alterações morfológicas, mas uma explicação etiopatogênica única ainda não é determinada.

Os processos hormonais estrogênicos desempenham um papel importante na LDG. Evidências mostram que tais processos provocam lipogênese e inibem a lipólise, que resultam em hipertrofia do tecido adiposo. Esse mecanismo pode explicar parcialmente uma maior prevalência de LDG em mulheres e uma correlação casual devido a uma exacerbação desta condição durante os períodos de alto estrogênio, ou seja, durante gravidez, amamentação, menstruação e o uso de contraceptivos orais. Em outras palavras, os estrogênios expõem os locais onde a LDG é mais comum porque esses locais têm mais atividade hormonal.

Uma teoria extensivamente estudada sobre a etiopatogenia da LDG é a de distúrbios da circulação microvascular e linfática do tecido adiposo subcutâneo. Nas nádegas e coxas (locais onde o ligamento da drenagem linfática e a circulação
vascular são baixas) há uma maior predisposição ao aumento do microedema no tecido subcutâneo, o que promove anormalidades na pele.

Stecco classifica a celulite como uma herniação da gordura subcutânea dentro do tecido conjuntivo fibroso, que se manifesta topograficamente como ondulações na pele e nodularidade. Segundo Sterzi, as mulheres têm mais células de gordura no tecido adiposo superficial, os ligamentos da pele são mais finos e os lóbulos de gordura estão dispostos em várias camadas. As características do tecido subcutâneo variam em todo o corpo, em particular o tecido adiposo superficial e o profundo diferem em espessura, forma e disposição dos lobos adiposos e septos fibrosos. O retináculo cutis superfcialis são geralmente quase perpendicular.

Semelhantemente, Rossi propôs quatro estágios evolutivos na fisiopatologia
da LDG:

1. Modificações na permeabilidade capilar-venular-linfática, bem como estase capilar e edema intercapilar e interadiposo.

2. Edema que causa alterações metabólicas e resulta em hiperplasia e hipertrofia da estrutura reticular.

3. As fibras de colágeno se unem ao redor dos adipócitos e formam micronódulos no tecido adiposo.

4. Desenvolvimento de esclerose que induz a formação de tecido adiposo
com macronódulos.

Terapia por indução de calor superficial

O estudo sobre hipertermia ou hipertenso terapia já é antigo, e utilizado desde
então; porém antes disso, é importante elucidar ao leitor, a fisiologia da regulação térmica corpórea. Guyton, em 2006, descreve que a temperatura é administrada na região anterior do hipotálamo, local onde é identificado o centro responsável pelo controle da temperatura do corpo, denominado termostato hipotalâmico; ocorre que ao ser constatado que a temperatura corpórea está anômala, ativa-se, em termos de organismo, procedimentos direcionados a reduzir ou aumentar a temperatura na busca pelo equilíbrio, através da homeostase corporal. Ainda ressalta que para este mecanismo acontecer, é demandado especial gasto energético.

Como define Lucena, 1991, Hipertermoterapia superficial “é o tratamento
através da ação do agente terapêutico de forma localizada, e alcançando pouca profundidade (poucos milímetros) no segmento corporal, resultando em alteração térmica superficial”.

Nessa classificação, a manta térmica, muito conhecida pelos profissionais estetas, se enquadraria na categoria de Hipertermoterapia Superficial. A versatilidade da terapia é tamanha, que ela pode ser usada desde tratamento estético, como elenquei até aqui, ao tratamento clínico numa sala de cirurgia, conforme pesquisa feita no hospital Sírio Libanês em São Paulo em 2007, divulgada através de artigo científico, que classifica como fundamental o uso da manta térmica para se evitar a hipotermia e minimizar os efeitos colaterais da anestesia, uma vez que se consegue aumentar, aproximadamente, temperatura corporal, em média, em 0,75°C por hora.

Várias evidências indicam que a termoterapia pode funcionar também promovendo a angiogênese. Segundo Kuhlenhoelter e colaboradores, em 2016, o estresse calórico do corpo inteiro induzido pela sauna seca no infravermelho distante ou um cobertor de aquecimento(citado assim pela referência), promove a expressão do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) do mediador pró-angiogênico e aumenta a densidade capilar no miocárdio. O estudo foi feito com ratos saudáveis e hipertensos, bem como em um modelo de infarto do miocárdio; em todos eles foi observada esta resposta.

Outro fator que corrobora com a hipótese angiogênica é que as células endoteliais expostas a um leve estresse térmico têm uma capacidade aprimorada para a formação de tubos vasculares, o que é indicativo de atividade de angiogênese.

Dentre as atividades exercidas pelo calor no corpo, pode-se destacar a ativação de hsp›s, em particular, a Hsp90. Esta é cofator essencial para óxido nítrico (NO) endotelial. Segundo autores como Gryka (2020), Ikeda (2005), Brunt (2016) e Akasaki (2006), a terapia de calor passivo melhora a hiperemia térmica cutânea por meio de uma melhor biodisponibilidade do NO. Esse fator torna-se interessante para a aplicação do calor superficial como alternativa de tratamento da celulite, já que um dos seus desdobramentos negativos é a própria diminuição da microcirculação local, como visto anteriormente.

Terapias com argila e remineralizacão tecidual

As argilas podem ser utilizadas como produtos cosméticos, destinados ao tratamento de pele e dos cabelos. Os atuais interesses por parte da Cosmetologia no desenvolvimento de pesquisas desta formulação atribuem aos efeitos de
limpeza, ação tensora e aquecimento, além da promoção de ação estimulante, suavizante e também ionizante. Já que a mesma é composta por elementos minerais que em contato com a pele têm ação da troca de eletrólitos. (Terramater, 2010).

Bourgeois, em 2006, evidencia que a quantidade de óxido de ferro hidratado (limonita) que se encontra presente na argila pode diferenciar as cores das mesmas – em amarela, roxa, branca, marrom, azul, cinza ou verde.

O principal efeito da argila é como grande doador de biominerais, tanto como excipiente como em forma ativa. Conhecemos este efeito como remineralização.

A Fangoterapia é conhecida como a aplicação local ou generalizada de preparação denominada pelóides ou frango. Estes, por sua vez, são produtos naturais nos quais as argilas passam por um processo de maturação com água termomineral. Leonardi (2008) afirma que os processos de maturação podem ocorrer na natureza ou em tanques artificiais e necessitam de período de tempo, pois a matéria orgânica no fango contém a principal fonte de nutrientes para a pele.

No caso dos fangos, algumas propriedades da própria argila podem se potencializar, como a plasticidade e a capacidade de absorção aumentam, enquanto o tamanho das partículas diminui. Geralmente, a aplicação destes produtos é feita com água quente e o local é coberto por um material impermeável para conservar o calor (Zangue et al., 2007).

Para o tratamento da celulite ser assertivo é importante raciocínio clínico e, por vezes, a adoção em conjunto de terapias já citadas aqui com outras técnicas, como corrente russa, ultrassom, ventosaterapia, radiofrequência, DLM etc.

Assim, ao pensar em tratamento para celulite, deve-se ter estratégias para englobar a multifatoriedade peculiar da afecção. Vale ressaltar que a base dos desdobramentos celulósicos envolve má circulação e má nutrição tecidual. Por isso, é estratégico a associação destas terapias no manejo do paciente, sendo usadas tanto em uma mesma sessão, quanto em sessões intercaladas, além de poder usar com outras técnicas dependendo da avaliação. Caso esta se apresente em conjunto à flacidez muscular e tissular, associa-se este terapia com correntes excitomotoras e radiofrequência; caso haja a presença de gordura localizada, as terapias cavitacionais são boas opções; caso o foco seja o edema, trabalha-se em conjunto às terapias manuais. Porém em todos estes exemplos, existe uma forte necessidade de nutrição dérmica, remineralização e cuidado com a circulação local. Neste contexto, realizar ambas as técnicas (manta térmica e argiloterapia/fangoterapia) seria estratégico.

Amanda Fernandes @amanda.eu é formada em Fisioterapia e possui pós-graduação em Dermatofuncional e Cosmetologia. Também possui formação em Modulação Intestinal. É criadora do Método Amanda Fernandes, técnica exclusiva que combina movimentos da drenagem linfática manual, com posturas, alongamentos e respirações, proporcionando um resultado visível, fisiológico e progressivo.

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