Tão importante quanto respeitar as leis do plano de gerenciamento de resíduos, que passa pelo cuidado com o meio ambiente e com a saúde (a sua e a do consumidor), sob a pena de pagar uma multa doída no bolso, está a urgência de repensar o descarte de tudo o que é gerado aí no seu espaço de estética. Por dois bons motivos: 1) o planeta está colapso; 2) seu cliente está de olho em você.
Shâmia Salem (@shamiasalem)
Descarte é coisa séria em clínicas de estética por se tratar de uma área de interesse para a saúde. Por isso, é fundamental adotar no seu espaço uma série de cuidados com os resíduos ali gerados. Desde a escolha do modelo da lixeira e do tipo de saco plástico utilizado até o local em que ele deve ser acondicionado enquanto a coleta não passa, sendo que pode ser que ela também precise ser diferenciada. Muita coisa para se preocupar? É, mas isso faz todo sentido, como explicou em uma live recente a Juliana Cardoso, especialista em regularização sanitária e sócia da Consultoria e Treinamentos Sanitários Defina Estética: “Trabalhamos prestando serviços de interesse à saúde. Portanto, qualquer descuido pode comprometer a nossa saúde, a do nosso cliente e até mesmo o meio ambiente. Sendo assim, é preciso ter no espaço o PGRSS, o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, e realizar periodicamente o treinamento sobre os cuidados que se deve ter com os resíduos infectantes com os seus parceiros e prestadores de serviços, e documentar esse treinamento. Em casos de descarte de resíduos infectantes em via pública o estabelecimento poderá ser multado, e os valores variam entre R$ 819,81 e R$ 16.003,53”, alerta. E olha só o que outra notícia bomba que ela dá: uma das principais queixas que a Anvisa recebe sobre os serviços de estética, beleza e áreas afins é o descarte incorreto dos lixos infectantes. Uma estatística triste, mas que você pode ficar fora dela, manter a consciência tranquila e ainda trabalhar sem medo se fizer a gestão correta dos resíduos gerados no seu ambiente de trabalho. Veja como a seguir.
Gestão de resíduos
A especialista em biossegurança Daniela Pontes, professora de biossegurança em pós-graduação em estética e tricologia, explica que os resíduos se dividem em grupos, e os de interesse para a área da estética são os seguintes:
GRUPO A
- Tipo de resíduo Infectante, como são considerados todos os materiais que tiveram contato com sangue, mucosa ou secreção. Geralmente a gente pensa em algodão, luva e gaze usados, por exemplo, para fazer limpeza de pele ou micropigmentação. Mas, se durante o atendimento, eventualmente algum outro item for atingido por sangue, mucosa ou secreção, como o papel para a maca ou o avental de TNT, ele também deve ser descartado como infectante em vez de ir para a lixeira comum.
- Como é a coleta
— É preciso manter dentro da sala de atendimento uma lixeira exclusiva com pedal e tampa para resíduos infectantes.
— Ela deve estar sinalizada, com um adesivo, para não ser confundida com a lixeira comum.
— O saco plástico usado deve ser branco leitoso e com o símbolo de risco infectante.
— Este saco deve ser substituído ao atingir 2/3 de sua capacidade.
— A coleta deve ser feita por uma empresa especializada e que tenha registro junto à prefeitura – exija uma cópia desse documento para anexar ao seu PGRSS. Antes de fazer a contratação particular, verifique se esse serviço não é subsidiado de maneira total ou parcial no seu município.
— Atente para os dias e horários de coleta, porque o lixo infectante não pode, em hipótese alguma, ser colocado em lixeira comum, muito menos na calçada, sob pena de multa grave.
— Enquanto a coleta não passa, os sacos devem ser acondicionados em um contêiner com tampa e onde haja apenas outros sacos de resíduos infectantes. Ou seja, nada de amontoá-los num canto com os sacos pretos.
GRUPO D
- Tipo de resíduo Comum. Mais para frente vamos falar de reciclagem, mas, regra geral, neste grupo está tudo o que vai para o descarte comum (desde que não esteja contaminado com sangue, secreção ou mucosa, conforme explicado anteriormente): espátula, luva, papel de maca, lençol de TNT, touca, propé, copo de café e de água, lixo de banheiro…
- Como é a coleta
— A lixeira usada para este tipo de resíduo também deve ter tampa e pedal.
— O saco plástico usado pode ser o preto comum.
— Assim como no resíduo infectante, o ideal é usar apenas 2/3 da capacidade do saco para ter uma folga para amarrá-lo e não correr o risco dele ficar tão cheio a ponto de impedir o completo fechamento da tampa – o que pode favorecer o aparecimento de insetos.
— Ao ser retirado da lixeira da sala de atendimento, o saco deve ser colocado no descarte do prédio, se o seu espaço fica numa sala comercial. Caso contrário, ele deve ser mantido em um contêiner com tampa até a coleta.
GRUPO E
- Tipo de resíduo Ítens perfurocortantes, que devem ser descartados dentro da caixinha de papelão amarelo chamada descarpack. Nela vão agulha, pinça descartável, dermaroller, etc.
- Como é a coleta
— A mesma empresa especializada que recolhe o resíduo infectante, recolhe os resíduos perfurocortantes.
— O esquema de recolhimento também é o mesmo: você verifica se o seu município disponibiliza esse serviço de maneira gratuita ou cobrando uma taxa ou se é necessário contratá-lo de maneira particular. Nesse caso, é fundamental se certificar de que a empresa tenha registro junto à prefeitura e exigir uma cópia desse documento para anexar ao seu PGRSS. Só para ter idéia da seriedade disso, caso a empresa descarte seus resíduos de maneira inadequada e num rastreamento fique constatado que eles são seus, você é a responsável pela infração e por pagar a multa. Imagina a dor de cabeça?
E o que pode ser reciclado?
O fisioterapeuta, professor e doutor em drenagem linfática Daniel Zucchi Libanore conta que pela Flávia Medeiros Clínica de Estética Integrativa ficar em um prédio comercial, que disponibiliza o serviço de separação do lixo reciclado, esse processo é muito facilitado. “Colocamos tudo num saco único e no próprio condomínio eles separam. Depois, vem a empresa de reciclagem”, explica ele.
Caso o seu espaço não possua esse tipo de serviço e você queira aderir à reciclagem, a dica é contatar a prefeitura para verificar se há coleta seletiva na sua região ou pedir o endereço do posto mais próximo, que também pode ser encontrado facilmente na internet.
Logística reversa no setor cosmético
Prepare-se para ouvir falar cada vez mais de logística reversa, que é um dos principais instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Essa ferramenta tem como objetivo dar um direcionamento às embalagens e materiais depois que os produtos são consumidos, e dar a eles um novo significado, seja enviando-os para a reciclagem ou para a obtenção de energia. O importante é impedir que sigam para o aterro ou o para o lixão, onde geram grande impacto ambiental negativo. Diante disso, ficou estabelecido por lei que a responsabilidade de uma empresa por um produto não acaba quando ele é comprado pelo consumidor, mas apenas quando essa mesma empresa consegue retornar seus resíduos para a cadeia produtiva.
A esta altura você deve estar se perguntando como é possível uma marca resgatar todos os seus cosméticos vendidos para fazer a logística reversa. Quem responde é a líder da equipe de gestão ambiental da Bioextratus Cosméticos Naturais, Luciana Repolês: “Como é impossível rastrear onde todas as nossas embalagens foram parar depois do produto comprado, bem como comprovar nossas ações para reduzir o impacto ambiental provocado por elas, aderimos à logística reversa das embalagens através do conceito de compensação ambiental. Nele, a cada produto que vendemos, uma quantidade equivalente do mesmo material da embalagem é reciclada em um operador no Brasil, através da parceria com diversas cooperativas e operadores de reciclagem por meio da nossa adesão ao selo eureciclo”.
A Santa Clara optou por outro caminho tão interessante quanto o da Bioextratus: recolher ela mesma seus clientes utensílios de plástico, como pente e tigela para tintura, e transformá-los em novos produtos plásticos. Uma forma de assumir sua responsabilidade com a preservação do planeta e de estreitar laços com esteticista que consome seus produtos profissionais.