A busca por procedimentos estéticos disparou na quarentena – e a harmonização facial esteve entre os top 3 de pedidos. Mas, como tudo que faz sucesso de maneira muito rápida, sempre há o risco de informações que não são verdadeiras serem compartilhadas, induzindo gente séria e profissional a erro. Então, venha saber mais sobre a técnica para não cair na perigosas e infelizmente ainda incontroláveis fake news
Karina Hollo (@karinahollo)
Não dá para negar que as redes sociais e apps de embelezamento têm um papel importante nas buscas de procedimentos estéticos – que cresceram consideravelmente no Brasil, durante a pandemia, segundo dados da Decode, empresa de big data analytics. De acordo com o levantamento, foxy eyes está em primeiro lugar (+860%), lipo HD em segundo (+680%) e harmonização facial em terceiro (+115%).
O desejo de rosto e corpo perfeitos, inspirados pela aparência dos famosos (e por filtros de aplicativos), também é tendência. “No Youtube, a produção de vídeos que tratam de assuntos como toxina botulínica e harmonização facial vêm crescendo. Sinal de um mecanismo de retroalimentação entre aquilo que desperta e ao mesmo tempo responde ao interesse do público”, observa Carol Garrido, gerente de conteúdo da Decode.
Fato é que a harmonização facial é um procedimento muito conhecido no mundo das celebridades, mas muitos mitos cercam o assunto. “A harmonização facial é um conjunto de procedimentos estéticos minimamente invasivos combinados com o objetivo de melhorar a harmonia facial, valorizando algumas características individuais e tratando o envelhecimento. Porém, não tem a capacidade de substituir a Cirurgia Plástica, na verdade são procedimentos que se complementam”, diz o cirurgião plástico Alieksiéi Carrijo. Confira 11 mitos sobre a técnica, para não cair em cilada.
1 Pensar que todos os efeitos são para sempre
Os procedimentos estéticos como toxina botulínica, preenchedores e bioestimuladores têm reversibilidade se forem utilizados produtos absorvíveis como o ácido hialurônico. Além disso, a aplicação de toxina botulínica dura em média 4 a 6 meses, o preenchedor de ácido hialurônico oferece um resultado que varia de 12 a 18 meses e os bioestimuladores, no caso a policaprolactona, pode chegar até a 36 meses. “A combinação destes tratamentos, que se bem executado chamamos de Harmonização Facial, pode oferecer um resultado de melhora da aparência em torno de 24 meses”, diz dr. Carrijo.
Pode parecer lógico querer produtos que durem para sempre, mas na verdade isso não é uma boa ideia, já que continuamos a envelhecer e a sofrer mudanças variadas ao longo dos anos. “Então, um produto que seja estático, que continue do mesmo jeito 20, 30 anos após injetado, pode resultar numa aparência nada boa no futuro. Não fosse isso o bastante, os produtos permanentes se mostraram, de forma geral, menos seguros do que os temporários”, diz Jaciara Hunnicutt, dermatologista.
2 Acreditar que é fácil reverter – e que não dói nada
“É preciso esclarecer que existe, sim, um produto que ‘dissolve’ o ácido hialurônico, mas esse processo não é tão simples nem isento de riscos. Isto porque esse produto pode causar diversos efeitos colaterais, entre eles o choque anafilático, costuma desencadear respostas inflamatórias de intensidade variável e não existe um protocolo padrão para seu uso”, ressalta Jaciara. Outros procedimentos são ainda mais complicados para serem revertidos e outros são impossíveis.
Além disso, todo procedimento minimamente invasivo que envolve o uso de agulhas gera uma dor leve. “Para amenizar esta dor e não transformar o procedimento em um sofrimento para o paciente, usamos cremes anestésicos ou a infiltração de anestésicos locais”, explica dr. Carrijo. Perdas de sensibilidade em áreas submetidas a procedimentos estéticos podem sinalizar intercorrências e complicações do procedimento. “Em 99% dos casos, o paciente apresenta no máximo um desconforto no local da aplicação nas primeiras 24 horas, sem qualquer restrição às atividades diárias, apenas orientações em relação a prática de atividades físicas nos primeiros dias”, continua ele.
3 Copiar o estilo alheio
“O corpo humano é único! Não há como ter ‘referências’ e promessas de resultados”, fala Dr. Alexandre Kataoka, cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e Diretor do DEPRO (Departamento de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica). A Harmonização Facial popularizou-se por transformações apresentadas em fotos de antes e depois nas redes sociais. Nestes casos, foram utilizados preenchedores de ácido hialurônico, em sua grande maioria, repondo o volume facial perdido durante o processo de envelhecimento e projetando estruturas sabidamente rejuvenescedoras como a maçã do rosto e o contorno mandibular. “Não é raro eu receber pacientes que me trazem fotos de famosos e me dizem que querem aquela boca ou aquela mandíbula. Gosto de ver as fotos com meus pacientes para discutirmos seus gostos pessoais e expectativas, mas sempre deixo claro que cada ser humano é único e que devemos respeitar as características de cada um”, fala Jaciara. O belo está no conjunto. Podemos melhorar, podemos mudar, mas sempre respeitando todo o contexto daquela face, tão única e tão especial que é a dela.
4 Indicar porque é moda
“A harmonização facial é indicada para quem deseja melhorar pequenas áreas específicas da face, mas sempre tomando o cuidado de não exagerar. O resultado deve ser harmônico”, diz dr. Alexandre. Mas tem gente que busca o procedimento e nem sabe ao certo do que se trata. “Não têm uma queixa específica, nem algo que o incomoda muito em seu rosto. Isso não é um problema, pois estudaremos juntos sua fisionomia e desejos e pensaremos se há algo para ser melhorado. Mas é importante saber que não se deve fazer um procedimento sem estudar sua real necessidade, só porque está super em voga”, alerta Dra. Jaciara. Nem tudo o que está na moda se adequa a todo mundo. Além disso, moda passa mais rápido do que o resultado de boa parte dos procedimentos. Então, você deve fazer porque o resultado agrada hoje e continuará agradando daqui a algum tempo.
5 Não pensar na técnica como algo multidisciplinar
“Até mesmo psicólogos podem estar envolvidos nessa avaliação”, exemplifica Alexandre. O procedimento pode ser feito com toxina botulínica naqueles casos em que o paciente deseja um rejuvenescimento do olhar mas na maioria dos casos a harmonização facial é realizada com preenchedores de ácido hialurônico com o objetivo de corrigir imperfeições do nariz, lábios e até mesmo restaurar um contorno facial, projetando estruturas como o queixo e a mandíbula. É preciso fazer procedimentos dentro de um plano de tratamento. Na maior parte dos casos, é necessário mais de uma sessão para se chegar ao melhor resultado. “Já vi situações em que o profissional vai fazendo o procedimento desejado (por ele ou pelo paciente) sem que seja feito um planejamento global. Isso pode levar ao desperdício de recursos do paciente, aumento dos riscos e diminuição da eficácia. Por exemplo, se um paciente tem flacidez e precisa de estímulo de colágeno, é preciso saber que o resultado final somente será visto após 90 dias em média. Então, se este paciente fizer preenchimento na mesma área após apenas 30 dias do bioestimulador pode ser tratado incorretamente com quantidades maiores de ácido hialurônico do que o que realmente precisa”, conta Jaciara.
6 Achar que o resultado é imediato
Imediatamente o paciente já percebe as mudanças, porém o resultado final seria em torno de 1 a 4 semanas dependendo do produto utilizado. E, ainda assim, há de se levar em conta a resposta individual, ou seja, o tempo de cada pessoa. Prometer datas exatas para finalização de efeitos é cilada.
7 Indicar para todos
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica a realização de procedimentos estéticos deve ser preferencialmente a partir dos 16 anos de idade, pois neste período o indivíduo apresenta a sua estrutura anatômica totalmente desenvolvida e sempre com a autorização dos pais. Além disso, a anamnese existe para que o profissional possa avaliar se o paciente está realmente pronto para os procedimentos e, principalmente, se tem consciência plena do que deseja e do que é possível, do tempo de recuperação, dos riscos e dos cuidados durante o pós-operatório.
8 Não procurar atendimento especializado
Este talvez seja o maior dentre todos os erros. “Num conceito amplo, harmonização facial engloba tudo aquilo que deixará a face mais harmônica, sendo que, para isso há diversos procedimentos. Quando o indicado for preenchimento, fios de sustentação, bioestímulo, por exemplo, a pessoa deve escolher um médico que tenha experiência e conhecimento das indicações, contraindicações, técnicas e de como tratar as possíveis complicações”, fala dra. Jaciara. “É importante que as pessoas saibam que não basta saber injetar, é preciso ter um conhecimento muito mais amplo do que isso. Por exemplo, uma contraindicação ao preenchimento é o paciente ter alguma colagenose, mas se o injetor não sabe diagnosticar esse grupo de doenças, como vai saber se seu paciente tem ou não alguma delas?” Os sintomas podem ser bem sutis, como boca seca, e o paciente pode nem saber que tem alguma doença prévia. “Pacientes com doenças ativas cujo tratamento ainda não estabilizou, gestantes são contra-indicações, mas o principal é ter a avaliação médica com uma anamnese detalhada. Por mais simples que seja, todo procedimento oferece riscos e deve ser feito apenas por profissionais qualificados”, completa Alexandre.
9 Ignorar outros cuidados com a pele
Seria bem mais fácil se fôssemos ao médico, ele fizesse um procedimento e não precisássemos de mais nada! “Mas essa não é a realidade e um erro bem comum é se comportar como se fosse. A pele é o maior órgão do corpo humano e super complexa, por isso requer diversos cuidados, vários no consultório médico e muitos em casa”, ensina Jaciara.
10 Escolher pelo preço
Esse é outro erro gigantesco. É claro que, quando temos dois produtos iguais, é natural escolher o mais barato. “Mas quando falamos em procedimentos, isso não é tão simples assim, porque há muitos elementos envolvidos. A composição final do preço do procedimento envolve o custo do produto, o custo da especialização da mão de obra, o custo do armazenamento, das licenças, do ambiente, da equipe, etc”, observa Jaciara. Por exemplo, em relação ao custo do produto, há diversos ácidos hialurônicos no mercado, com preços e qualidades variáveis; já em relação à mão de obra, a experiência de aplicação é um fator importante na precificação. “Para um profissional se preparar adequadamente para atender o paciente com conhecimento e segurança, ele precisa investir bastante na sua formação”, diz ela.
Os preenchedores autorizados são: ácido hialurônico (substância natural produzida pelo corpo); hidroxiapatita de cálcio (bio estimulador de colágeno); caprolactona (bio estimulador de colágeno); gordura (produzida pelo próprio corpo). “Seus benefícios são rejuvenescimento da pele; suavização de rugas, flacidez e linhas de expressão; correção de cicatriz; reparo de contornos; trazem mais firmeza para a pele; hidrata”, fala Alexandre. Os não liberados são silicone industrial (composto químico para aplicações industriais); PMMA (polímero sintético / plástico); hidrogel (gel não absorvível pelo corpo), sob risco de necroses, inflamações, infecções.
11 Não escolher um médico especializado com quem você se sinta muito à vontade e em quem tenha enorme confiança
Fazer um procedimento é coisa muita séria, sempre. “Fazer um procedimento que pode mudar a face, minimamente que seja, é mais sério ainda. O paciente precisa sentir-se completamente à vontade para esclarecer todas as suas dúvidas, discutir opções, entender os riscos, expor seus desejos e anseios. Precisa sentir que confia no médico, que este dará o seu melhor, sempre; tanto antes, quanto durante e também após o procedimento”, finaliza a médica.