A pandemia colocou em xeque a divisão que existia entre a vida pessoal e a profissional, pois nós passamos a trabalhar dentro de casa, em qualquer horário, através de qualquer dispositivo e isso tem seu ônus e bônus. O bônus é claro: percebemos que somos seres adaptados e adaptáveis. Rapidamente nos organizamos com ajuda dos suportes tecnológicos – celulares, videochamadas, ferramentas de troca de mensagens, arquivos compartilhados em nuvem – e continuamos a trabalhar e a produzir, ainda que muitas vezes, à distância.
Já o ônus é o sentimento que estamos (e devemos ficar) constantemente “ligados”, atentos, e isso gera ansiedade. A falta de pausas, de descontração, de hobbies tem um peso grande sobre a saúde do nosso cérebro. Um estudo realizado na China, divulgado pela revista Exame, descobriu que os profissionais que praticavam algum passatempo ou hobby eram mais produtivos e dispostos no dia seguinte. Atividades como a prática de esportes, a leitura e o estudo eram as que mais beneficiavam a produtividade. Por outro lado, aqueles cuja vida era marcada por aborrecimentos e excesso de trabalho após o horário regular, mostraram menor rendimento e disposição.
Por exemplo: em uma situação de estresse, uma das estruturas acionadas é o hipotálamo, que ativa a liberação de hormônios, como o cortisol e a adrenalina, e são eles que preparam o nosso organismo para se defender. Assim, ocorre o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e do ritmo da respiração. É uma resposta natural, não necessariamente ruim, o problema é quando esse sentimento é persistente. E este período que vivemos, as incertezas, o medo, a ansiedade e o estresse foram as palavras que marcaram a rotina de muitos brasileiros. E para quem é empresário há ainda uma palavra para acrescentar nessa triste lista: responsabilidade. Afinal, você empresário/empreendedor é responsável por outras pessoas.
Uma pesquisa inédita realizada pela Troposlab em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais analisou a saúde mental de empreendedores em tempos de pandemia. Os resultados mostraram que 51,1% tiveram a vida afetada, mas se sentem bem a maior parte do tempo; 24,9% afirmam que foram muito afetados e 15,6% passaram por acompanhamento médico com o início do uso de medicamentos, como antidepressivos e ansiolíticos. O cenário é mais preocupante quando olhamos para as mulheres: 28,5% apresentavam ansiedade; 5,36%, estresse e 10,4%, depressão. E não é difícil entender esses dados, afinal muitas mulheres realizam jornadas duplas no negócio e em casa e, com a pandemia, como mãe e professora.
Nosso cérebro possui um lado racional, mais ativado durante o trabalho, e uma área mais criativa, social e relacional que precisa ser desenvolvida, possibilitando assim um repertório de ferramentas e habilidades muito úteis para a tomada de decisão, para o aumento da criatividade e da inovação, para o desenvolvimento da empatia e da capacidade de gerenciamento de crises. Por isso, é importante dedicar um tempo para sua saúde mental, para buscar esse equilíbrio entre o pessoal e o profissional.
Existem diferentes técnicas que podem te auxiliar a criar essas pausas, além é claro da continuidade da rotina pré-pandemia, ou seja, um horário para “parar de trabalhar”, com a leitura de um livro, a prática de uma atividade física, um momento em família com jogos ou filmes… A lista de possibilidades é grande, mesmo para quem está em isolamento.
Mas quero focar aqui na importância da respiração e como ela pode ser a chave para o fim do processo automático que o cérebro desencadeia com o estresse. A respiração lenta e profunda auxilia a oxigenar melhor o cérebro e isso tem um efeito emocional rápido. Lembre-se de que a respiração não está só associada aos pulmões, o diafragma é muito importante. Atentar-se a este músculo tem grandes benefícios, por isso coloque uma mão no abdômen e outra no peito. Mantenha os ombros eretos e respire profunda e lentamente. Observe sua mão mover-se com o abdômen, depois o ar vai migrar para seu peito e, por fim, expire pela boca até o máximo. Repita essa operação algumas vezes até sentir os músculos mais relaxados. Caso precise, coloque uma música calma para lhe auxiliar, mas lembre-se: o foco é concentrar sua total atenção na respiração.