Devido ao sucesso que tem feito entre profissionais e pacientes, o procedimento virou alvo de fake news e gerado questões pertinentes envolvendo indicação, contraindicação, associações, preparo da pele pré e cuidado pós-tratamento. As respostas estão todas aqui.
Shâmia Salem (@shamiasalem)
1. Como explicar didaticamente para a cliente o que é plasma?
Lembra das aulas de física na escola, em que o professor falava dos estados sólido, líquido e gasoso? Pois existe um quarto estado da matéria: é o plasma, do qual cerca de 99% da atmosfera é formada e que também está presente na aurora boreal, nas luzes de neon, na tela de plasma dos computadores e das tevês, no raio que cai durante a tempestade. “A formação do plasma acontece quando uma fonte de energia excita um átomo de gás a ponto dos elétrons se libertarem desse átomo e se transformarem íons, permitindo assim a geração de um gás ionizado, que é um ótimo condutor de corrente elétrica. Por isso é que a faísca que vemos nas ponteiras dos equipamentos utilizados para o tratamento de jato de plasma se chama arco elétrico”, esclarece o doutor em dermatologia pela USP e professor universitário Abdo Salomão Jr., de Guaxupé (MG), sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e membro da American Academy of Dermatology.
2. Por que o jato de plasma é comumente comparado à uma blefaroplastia sem cortes? É justo fazer esse paralelo?
“Muito justo, porque a contração que o plasma faz nas pálpebras é intensa o suficiente para diminuir o excesso de pele na região. Claro que a plástica remove esse excedente de uma única vez, e com o jato de plasma, dependendo do caso, podem ser necessárias algumas sessões; o que, convenhamos, não é um problema para quem não quer operar ou deseja adiar ao máximo a cirurgia”, diz o doutor Abdo Salomão Abdo Jr.
3. No Instagram há inúmeras postagens do jato de plasma sendo usado para tratar flacidez de pálpebras; essa é a única indicação do tratamento?
Não, porém, é a mais conhecida e com resultados extraordinários. “Mas, o jato de plasma também pode ser usado para tratar rugas periorais, ao redor dos lábios, além de linhas do pescoço e retirar pequenas pintas”, diz o dermatologista Abdo Salomão Jr.
4. É verdade que o jato de plasma funciona melhor em regiões que têm a pele fina?
“Sim, porque na pele fina a contração é muito maior e, consequentemente, melhor. O que também explica o resultado do tratamento não ser tão significativo em áreas em que a pele é mais espessa, caso da testa e das laterais da face, já que a contração acaba sendo menor”, esclarece o dermatologista.
5. A pele deve ser preparada antes de fazer o jato de plasma?
“Com certeza! É preciso, primeiro, equilibrar a estrutura e resgatar a funcionalidade cutânea para, então, iniciar o tratamento que vai provocar um processo inflamatório controlado a fim de estimular o colágeno, entre outros benefícios. Particularmente, nessa preparação foco na hidratação e na desglicação”, comenta a cosmiatra e especialista em dermatocosmética Ludmila Bonelli, de Belo Horizonte (MG).
6. O jato de plasma pode ser feito em áreas que têm preenchimento ou toxina botulínica?
“Sim, ele pode ser usado, até porque cada procedimento é realizado em um plano cutâneo diferente: a toxina no muscular, o preenchimento no subcutâneo e o jato de plasma, na superfície da pele. Apesar disso, a recomendação é não realizar o plasma no mesmo dia dos injetáveis; sendo ideal dar um intervalo de pelo menos 15 dias entre eles, independentemente da ordem em que sejam feitos”, avisa o doutor Abdo Salomão Jr.
7. Plasma rico em plaquetas, o famoso PRP, tem alguma coisa a ver com o jato de plasma?
Nada, são procedimentos absolutamente diferentes. “O PRP é uma fração do sangue periférico rico em plaquetas e que tem fator de crescimento. Já o jato de plasma é uma tecnologia que ioniza o ar entre a ponta do handpiece e a pele e libera uma faísca que vai ter efeito de aquecimento e de vaporização nas camadas superficiais da pele”, resume o dermatologista Abdo Salomão Jr.
8. Quais cuidados devem ser seguidos durante a sessão de jato de plasma, até para garantir que ela seja mais eficaz?
“Uma das orientações mais importantes para otimizar o resultado é garantir que as aplicações sejam pontuais, com espaçamento de, no mínimo, 2 mm entre elas”, resume a biomédica esteta Nathaly Brandão, de Sorocaba (SP).
9. Em quais situações a pele da paciente contraindica o uso do jato de plasma?
“A finalidade do jato de plasma é induzir uma inflamação tecidual para estimular sua regeneração e, assim, promover o rejuvenescimento. Justamente por produzir essa ação agressiva e inflamatória é que o procedimento é contraindicado para peles glicadas, inflamadas, manchadas ou imunologicamente alteradas”, lista a cosmiatra e especialista em dermatocosmética Ludmila Bonelli, que esclarece:
- quando está imunologicamente alterado o tecido não tem estrutura para receber tecnologias agressivas, podendo sofrer intercorrências sérias, até mesmo queimaduras;
- já a pele glicada é excessivamente desidratada, e o jato de plasma precisa de uma pele hidratada para promover a sublimação;
- quanto à pele reativa ou inflamada, caso da que sofre com rosácea, inicialmente é necessário resgatar a funcionalidade dela, desinflamando-a, para, só depois, atuar com esta tecnologia inflamatória proposta pelo jato de plasma;
- por fim, o melasma deixa o tecido instável, e, quando ele sofre a agressão térmica do jato de plasma, pode responder com uma reação que libera ainda mais melanina, intensificando as manchas.
10. Há algum protocolo especial a ser seguido com pacientes que têm tendência a melasma?
“É importante ficar atento a isso já na hora da consulta, para orientar como deve ser o pós-tratamento e também para reforçar a importância da pessoa seguir à risca a indicação de usar produtos calmantes, anti-inflamatórios, despigmentantes e antioxidantes, esses também em versão oral, como o polypodium leucotomos”, entrega Nathaly Brandão.
11. O jato de plasma pode ser associado ao drug delivery?
Melhor não, diz o dermatologista Abdo Salomão Júnior. “O jato de plasma é bem agressivo, e aproveitar a lesão para aplicar ativos pode prejudicar a cicatrização cutânea, especialmente se o produto usado não for esterilizado e contiver álcool ou outros itens que agridam a pele que já está debilitada. Até por isso a única coisa que prescrevo após a sessão é uma pomada cicatrizante com antibiótico”, conta o médico.
12. Há diferentes equipamentos para realizar o jato de plasma?
Segundo o dermatologista Abdo Salomão Jr., de maneira geral, podemos dizer que há aparelhos que promovem fulguração e os que provocam sublimação. “O plasma que tem efeito terapêutico é aquele em que o handpiece não toca a superfície cutânea, fica à distância, e ioniza as partículas de gás no ar entre a ponta dessa peça e a pele para formar o plasma. Com isso, um arco elétrico é criado, o que resulta em sublimação. Já os aparelhos que tocam a pele, disparando uma faísca elétrica sobre ela, oferecem a fulguração, que não é a proposta que queremos oferecer”, diz o médico.
13. Na falta de um aparelho de jato de plasma, o eletrocautério é uma boa alternativa?
“Eletrocautério não tem nada a ver com jato de plasma. Aliás, a maioria das canetas chinesas de plasma comercializadas principalmente na internet e que não têm aprovação da Anvisa funcionam como eletrocautério. Ou seja, promovem a fulguração, enquanto o plasma terapêutico oferece sublimação”, alerta o doutor Abdo Salomão Jr.
14. Quais associações podem ser feitas com jato de plasma e com qual propósito?
“Como o jato de plasma provoca colunas relativamente distantes umas das outras na pele, o procedimento pode ser combinado com o laser fracionado de herbium ou de CO2 para tratar o tecido que não foi atingido pelo plasma, oferecendo, assim, a contração máxima da pele. A associação é indicada em graus mais alto de envelhecimento e flacidez cutânea”, explica o dermatologista Abdo Salomão Jr.
15. Quais as melhores estratégias para vender o tratamento de jato de plasma à cliente?
“Na minha experiência, o melhor retorno acontece quando a venda é feita com verdade, tendo como base as reais necessidades de cada cliente. Na prática, indico o tratamento para as pacientes que querem prevenir a flacidez de pálpebras, que se incomodam com cicatrizes, estrias recentes ou linhas finas. Também comento sobre associação da técnica com quem pretende fazer toxina botulínica ou preenchimento e gosta de sugestões para ter resultados ainda mais completos e naturais”, comenta Nathaly Brandão.
16. Durante a avaliação do paciente, o que deve ser considerado para confirmar se ele está apto ou não a realizar o jato de plasma?
O médico Abdo Salomão Jr. esclarece que o procedimento é indicado para fototipos baixos, até no máximo 3, ou em casos selecionadíssimos até 4 baixo. “Outra recomendação é que a pessoa tenha um grau de envelhecimento, porque o plasma contrai muito o tecido. Também contraindico a técnica para tabagistas e para quem não podem se submeter ao downtime, já que o tempo de recuperação da sessão gira em torno de 10 a 15 dias”, lembra o dermatologista.
17. É possível controlar a profundidade ou intensidade de ação do jato de plasma?
“Dependendo do equipamento usado, a gente consegue calibrar a largura das lesões e a profundidade e intensidade do plasma com o propósito de fazer tratamentos mais ou menos agressivos de acordo com os anseios e necessidades do paciente”, conta o dermatologista Abdo Salomão Jr.
18. Quais cuidados tomar ao finalizar a sessão de jato de plasma na cabine?
Segundo Ludmila Bonelli, uma das estratégias mais importantes é que não fazer nada que interfira no processo de inflamação provocado pelo tratamento. “Afinal, essa ação foi causada justamente com o propósito de estimular que a pele reagir produzindo colágeno”, destaca a especialista.
19. O protetor solar deve ser usado no mesmo dia da sessão de jato de plasma? Ele pode ter cor?
Ludmila Bonelli diz que o recomendado é deixar para usar o filtro no dia seguinte, para que ele não penetre na pele após o procedimento, já que o jato de plasma é uma tecnologia levemente ablativa.
20. E a maquiagem, deve-se esperar quanto tempo para usar depois de fazer o jato de plasma?
Para a cosmiatra, o ideal é esperar entre 4 e 5 dias para maquiar a região dos olhos. Outro cuidado que precisa ser reforçado é o da cliente aplicar o demaquilante de maneira muito suave, sem fricções excessivas, para não lesionar a área que está em recuperação.
21. Como compor um bom kit para home care pós-jato de plasma?
“Brinco com as minhas pacientes chamando esse kit de blindagem dérmica, porque ele contém produtos pensados exclusivamente para proteger a pele. São eles: sabonete hidratante, e mesmo assim ressalto que o elaborado com ácido glicólico é contraindicado; tônico, que ajuda a manter o equilíbrio cutâneo; antioxidante, sendo a minha preferida a vitamina C; antiglicante, sendo que gosto muito do alistin; ácido hialurônico, para reforçar a hidratação; e protetor solar com PPD, que quantifica a proteção oferecida contra a radiação ultravioleta A, que penetra profundamente na pele e é a principal causadora do fotoenvelhecimento”, esclarece Ludmila Bonelli.
22. Diante de tantos equipamentos incríveis, quais ganhos o profissional da área de estética tem ao oferecer o jato de plasma em seu espaço de beleza?
“Destaco como o principal deles o resultado significativo alcançado ao tratar o envelhecimento da região dos olhos, uma reclamação que todo mundo vai ter em algum momento da vida. Além disso, estamos vivenciando um aumento na busca de procedimentos cada vez menos invasivos para essa região, devido ao uso de máscaras contra a Covid-19 e pelo número expressivo de reuniões online. Não é todo mundo que deseja fazer injetáveis ou procedimentos cirúrgicos, e ainda há os que buscam alternativas eficazes que possam adiar ao máximo essas intervenções; e o jato de plasma é sem dúvida uma das melhores estratégias”, afirma o doutor Abdo Salomão Jr.
23. Quais orientações mais importantes devem ser dadas ao paciente depois de uma sessão de jato de plasma?
“Entre as principais estão não se expor ao sol nem ao calor, por exemplo, ao cozinhar ou entrar no carro estacionado a céu aberto, beber bastante água e usar protetor solar. Também é fundamental esclarecer que a pessoa não deve retirar as casquinhas direta ou indiretamente, ou seja, ao cutucar a pele com as unhas ou ao se secar esfregando a toalha no rosto. E, essas precauções devem ser tomadas durante todo o tempo de recuperação da pele”, avisa a biomédica esteta Nathaly Brandão.
24. Jato de plasma é uma alternativa a quais outros tratamentos?
“Ao microagulhamento e ao laser de CO2 fracionado, já que todos – e o jato de plasma está incluído nisso – têm como objetivo estimular os fibroblastos a aumentarem a produção de colágeno, para deixar a pele mais firme. No entanto, eles fazem isso por diferentes meios: o jato usa o plasma, o microagulhamento, as microagulhas, e CO2, a energia do laser”, esclarece a biomédica esteta.
25. Quais as intercorrências mais comuns no jato de plasma?
“Nosso objetivo ao usar o jato de plasma é realmente inflamar a região tratada para que haja a reparação do tecido e, consequentemente, estímulo de colágeno. Porém, essa inflamação pode levar a um eritema persistente ou hiperpigmentação pós-inflamatória se o profissional fizer sobreposição de aplicação ou desbridamento agressivo ou se o paciente desenvolver uma dermatite de contato depois do procedimento, se a cicatrização for retardada por uma infecção ou pelo uso de substância irritante”, esclarece a biomédica esteta Nathaly Brandão.
26. Ainda há muita confusão envolvendo a indicação do jato de plasma. Em quais casos ele não deve ser usado ou pode ser substituído por opções mais eficazes?
“Considero uma contraindicação absoluta usar o procedimento para clarear manchas, seja no rosto, seja na região íntima, onde, aliás, é extremamente perigoso atuar com esta tecnologia. E, apesar de não haver contraindicação, não acho que o plasma seja a melhor opção para tratar cicatrizes de acne nem flacidez, rugas profundas ou estrias, que estão num nível dérmico mais profundo e aonde o plasma não chega”, justifica Ludmila Bonelli.
27. Após a aplicação é mesmo necessário utilizar pomada cicatrizante e regeneradora no home care?
Nathaly Brandão diz que sim. “É válido porque a pele da região tratada, por estar lesionada, vai perder água facilmente para o ambiente; e a gente sabe que uma pele bem hidratada tem melhores condições de passar por um processo de reparação, que é o que se deseja após um jato de plasma”, esclarece ela. Hoje, no mercado, já existem regeneradores e cicatrizes específicos para jato de plasma, muitos deles elaborados com vitamina C e fatores de crescimento.
28. Qual a estratégia para que o profissional consiga contornar possíveis tremores em suas mãos e, assim, oferecer uma aplicação mais segura e precisa do jato de plasma?
“Esse tratamento realmente exige controle e precisão, o que é conquistado com bom conhecimento técnico, para que o profissional se sinta seguro sobre o que está fazendo, além de muito, muito treino”, diz a biomédica esteta.
29. Qual a importância do antisséptico no pós-tratamento?
Ele é fundamental para ajudar a prevenir infecção na pele que está lesionada. O que pode acontecer em situações rotineiras, como o simples fato da cliente deixar o cabelo solto e passando no rosto, se deitar sobre uma fronha que já vem sendo usada há alguns dias, colocar um capacete de moto, compartilhar a toalha de rosto com todos que moram na casa. Daí a importância de usar o antisséptico por três dias, durante três vezes ao dia.
30. E se houver dor ou edema?
Produtos calmantes, sejam medicamento, cosmético industrializado ou manipulado, podem ser usados também durante três dias, por três vezes ao dia.
“Nosso objetivo ao usar o jato de plasma é realmente inflamar a região tratada para que haja a reparação do tecido e, consequentemente, estímulo de colágeno”
Nathaly Brandão, biomédica esteta
“Dependendo do equipamento usado, a gente consegue calibrar a largura das lesões e a profundidade e intensidade do plasma com o propósito de fazer tratamentos mais ou menos agressivos de acordo com os anseios e necessidades do paciente”
Abdo Salomão Jr., dermatologista
“A finalidade do jato de plasma é induzir uma inflamação tecidual para estimular sua regeneração e, assim, promover o rejuvenescimento. Justamente por produzir essa ação agressiva e inflamatória é que o procedimento é contraindicado para peles glicadas, inflamadas, manchadas ou imunologicamente alteradas”
Ludmila Bonelli, cosmiatra e especialista em dermatocosmética