Mesmo que um ou outro paciente, seja ele adolescente ou adulto, precise de medicação prescrita, o tratamento em cabine é fundamental em 100% dos casos de acne. Daí a importância de todo profissional de estética conhecer os principais ativos usados no combate às espinhas e o que fazer para potencializar os resultados. Shâmia Salem (@shamiasalem)
Antes de falar sobre os ativos-sensação contra a acne, é importante se atualizar sobre o tema: estudos recentes derrubaram a ideia de que apenas os hormônios e a genética estão por trás do problema. “Hoje, a gente já se sabe que se trata de um conjunto de fatores muito mais complexos, que podem estar relacionados à poluição, estresse, exposição exagerada ao sol, suplementação proteica e de nutrientes, principalmente de vitaminas do complexo B, além de ingestão de laticínios, fumo, queda na imunidade da pele e até uso incorreto de cosméticos”, lista a dermatologista Tatiana Mattar, de São Paulo. “No caso da acne adulta, tem-se observado que há ainda uma maior quantidade de receptores ao redor das glândulas sebáceas, que fazem com que elas sejam muito mais estimuladas, perpetuando o problema”, completa a dermatologista Manoela Fassina, da Clínica Leger, em São Paulo.
Daí a importância de caprichar ainda mais na anamnese para avaliar não só se há histórico de acne na família, mas também atentar para o estilo de vida, os hábitos diários e o resultado de exames clínicos. “Essa análise pode mostrar que a clássica isotretinoína, tida como padrão-ouro para adolescentes por diminuir as glândulas sebáceas, reduzir a oleosidade e deixar a pele menos suscetível às bactérias causadoras da acne, pode não ser a melhor solução e que o tratamento ideal deverá passar, por exemplo, pelo bloqueio dos receptores de hormônios na pele ou, então, pela necessidade de organizar a flora cutânea a partir de probióticos orais e tópicos”, diz a dermatologista Patrícia Fabrini, de Belo Horizonte (MG).
Soluções na cabine
Novidades à parte e seja qual for a escolha do tratamento e o fato da acne atingir um adolescente ou uma mulher adulta, certo mesmo é que os protocolos realizados em cabine continuam sendo essenciais em absolutamente todas as situações. E, estes são os cinco ativos-sensação mais utilizados:
— Ácido salicílico
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) rotula o ativo como um beta-hidroxiácido de ação queratolítica e anti-inflamatória. Traduzindo, isso significa que ele promove uma esfoliação suave, reduz o processo inflamatório, diminui a produção de sebo, desobstrui os poros e melhora a textura da pele. “Por ser um secativo altamente eficaz e de rápida ação, é a primeira escolha dos profissionais quando o paciente apresenta muitas lesões ativas e pústulas”, diz a dermatologista da Clínica Leger, Manoela Fassina.
— Adapaleno
“Excelente pedida em casos de acne inflamada, é um dos retinóides mais usados por ajudar a impedir a formação de comedões, o popular cravo; de pápulas, que são pequenas lesões sólidas elevadas, arredondadas, endurecidas e avermelhadas; e pústulas, que são as pápulas com pus, as famosas espinhas; além de diminuir a ação das glândulas sebáceas e promover a renovação celular, clareando manchas e uniformizando alterações da superfície da pele. O lado B é que, dependendo da concentração o adapaleno, ele pode causar uma sensibilidade que tende a ser confundida com alergia”, alerta a doutora Manoela Fassina. Segundo ela, uma boa combinação é recomendar o adapaleno para uso em casa e, na clínica, aplicar o ácido retinóico a 5% em forma de peeling uma vez por semana.
— Peróxido de benzoíla
Segundo a dermatologista Manoela Fassina, o ativo tem ação bactericida em casos leves a moderados de acne e também efeito queratolítico, afinando a pele. “O peróxido de benzoíla reage com a parede das células bacterianas, matando a bactérias causadoras da acne, e ainda reduz a inflamação causada por ela, tanto que alguns médicos chegam a prescrevê-lo até para o paciente usar em casa, de forma isolada, à noite”, diz a médica.
— Ácido glicólico
“Gosto bastante desse ativo para tratar acnes menos infladas, já que ele é menos irritante do que o ácido retinóico e, apesar disso, cumpre bem a missão de diminuir a espessura da pele, promovendo um clareamento e estimulando a produção de colágeno. Daí a explicação para agir na reversão e prevenção do envelhecimento cutâneo, na melhora das manchas e cicatrizes de acne, além de fechar os poros. Dependendo do caso e da pressa da paciente pelo resultado, intercalo os dois ácidos, aplicando um numa semana e o outro, dali a sete dias”, conta a doutora Manoela Fassina.
— Ácido mandélico
“Adoro o efeito despigmentante dele naqueles casos em que a pessoa cutucou a pele e ficou cheia de manchas”, avisa a dermatologista. Outras vantagens são que o ácido mandélico pode ser usado sozinho ou associado a outro ativo, inclusive em fototipos altos e peles sensíveis, e tem ação hidratante, clareadora, antibacteriana e fungicida. E, mais do que combater espinhas e cravos, o ativo ainda promove a renovação celular, hidrata profundamente a pele, reduz rugas e linhas de expressão.
FRASES
“Pode não parecer, mas a pele acneica é sensível e precisa de hidratação para manter a barreira cutânea íntegra, reduzir a oleosidade excessiva e ter uma melhor resposta ao tratamento realizado, qualquer que seja ele.”
Tereza Assunção, esteticista de São Paulo
“Manchas e cicatrizes de acne incomodam demais o paciente, porém, eles são um grande desafio para o profissional, que precisa deixar claro desde o início do tratamento que esses incômodos serão os últimos a darem resultado e que o foco principal e inicial é combater as lesões para não surgirem novas marcas.”
Manoela Fassina, dermatologista da Clínica Leger, em São Paulo
BOX
Adolescente versus adulto
Cada público tem um tipo de acne característica. Nas meninas, ela costuma aparecer próximo da primeira menstruação, ou seja, entre os 12 e 16 anos, enquanto nos meninos surge por volta dos 14 anos. E, em ambos os casos as espinhas acometem o rosto de maneira global por conta do início da produção de hormônios sexuais que interferem na regulação das glândulas sebáceas, que aumentam a produção de sebo e, consequentemente, levam ao entupimento dos poros da pele, causando espinhas, cravos e inchaço.
Já na vida adulta, o problema dá as caras entre os 25 e 40 anos, mesmo em quem não teve espinhas na puberdade, e atinge o terço inferior do rosto, chamado zona U, composto por mandíbula, queixo e pescoço. O alvo preferencial são as mulheres – 40% delas têm e, em comparação com os homens, a proporção é de 1 para cada 4 mulheres! “Enquanto o adolescente usa um gel secativo e a lesão costuma melhorar de um dia para o outro, o adulto sofre mais com aquela acne interna, como se fosse um nódulo, que tende a ser mais dolorida e duradoura”, destaca a dermatologista Manoela Fassina.
(ATENÇÃO, ARTE: info complementar ao box anterior)
(imagem de uma mulher adulta)
- 40% das mulheres adultas têm acne
- a proporção é de 4 mulheres para cada 1 homem
- as mais atingidas têm entre 25 e 40 anos
- o problema acomete a zona U, que inclui mandíbula, queixo e pescoço
(imagem de um adolescente menino ou menina)
- entre 70% a 80% dos adolescentes sofrem com acne
- nas meninas, as espinhas tendem a surgir antes da primeira menstruação, dos 12 aos 16 anos
- nos meninos, o problema aparece por volta dos 14 anos
- o rosto todo é acometido
BOX 2
Maskne: a acne causada pelo uso da máscara
Por trás da acne que tem aparecido na pandemia do coronavírus, exatamente na região coberta pela máscara, está a oclusão causada pelo tecido, que aumenta a temperatura, o suor e a produção de sebo, favorecendo o entupimento dos poros e o aparecimento das espinhas. Some a isso a fricção da peça no rosto, que altera os micro-organismos protetores, provocando irritação, também conhecida como dermatite de contato. Além de, claro, o estresse da situação, que estimula o cérebro a liberar uma substância que potencializa a inflamação já em curso, piorando ainda mais o problema.
Como deixar de usar máscara não é opção e, ao que tudo indica, ela ainda vai fazer parte da nossa vida por um bom tempo, o negócio é se cuidar. “Regra geral, a solução inclui trocar a máscara a cada 4 horas, ou antes, se sentir que ela está úmida; evitar make ou maquiar apenas a região dos olhos; lavar o rosto pela manhã e à noite; aplicar máscara facial hidratante com lactobacilos, para restabelecer a barreira de proteção natural da pele; fazer LED, para melhorar a vascularização local, bem como a oferta de oxigênio e nutrientes; peelings, para afinar e renovar a pele; laser, para destruir a bactéria causadora da acne; ou terapia fotodinâmica, que tem afinidade pela glândula sebácea e pelas bactérias”, sugere a dermatologista Patrícia Fabrini.
BOX 3
Home care não é opcional A realidade nua e crua é que pouco adianta o profissional de estética fazer um belíssimo trabalho em seu espaço de atendimento se o cliente não fizer a lição de casa. “O resultado dos procedimentos só virá se a pessoa tomar os cuidados básicos e diários, que incluem limpeza, hidratação e proteção solar”, alerta a esteticista Tereza Assunção, de São Paulo. Na prática, isso significa usar sabonete para pele oleosa e acneica, que pode ser à base de ácido glicólico ou salicílico; hidratante em gel, gel-creme ou sérum com ação matificante, livre de óleo ou elaborado com probióticos, para alimentar as bactérias boas da pele e ajudar a manter a saúde e o equilíbrio da barreira de proteção cutânea; e protetor solar FPS 50 com cor, efeito mate e textura gel, gel-creme ou sérum.