Inteligência Artificial cria ponto de inflexão para a humanidade. Você, profissional da área, está pronto para viver esse ponto de virada? Se você respondeu sim, ótimo, siga lendo porque informação nunca é demais; caso a sua resposta seja não, melhor ainda porque nesta reportagem juntamos tudo o que há de mais importante para se conhecer agora
Renata Deos
A Inteligência Artificial está mudando e promete mudar ainda mais nossas vidas de diversas maneiras. Não seria diferente com o nosso setor. Mas de que maneira a IA vai mudar o segmento de Estética? Tal pergunta foi feita a alguns especialistas, mas por que não perguntar também à própria Inteligência Artificial (IA)?
A resposta veio em poucos segundos e de maneira coerente e bastante completa, apesar de resumida.
Segundo o ChatGPT 4.0, a Inteligência Artificial já está causando impactos significativos em diversos setores, incluindo o segmento de estética. Em resumo, a IA tem o potencial de transformar esse segmento, tornando-o mais personalizado, eficiente e inovador. Essas tecnologias oferecem oportunidades para melhorar a experiência do cliente, a qualidade dos tratamentos e produtos, e a eficiência operacional das empresas do setor.
Dentre as mudanças que podemos esperar nessa área estão: personalização de tratamentos e produtos, diagnóstico de condições da pele, desenvolvimento de produtos, realidade aumentada e virtual para teste antes de procedimentos, automação de serviços, marketing, tendências e educação.
Ao conversar com especialistas, vários disseram esperar mudanças como essas apontadas pela própria IA. Hoje já convivemos com muitas dessas mudanças. Quer um exemplo bem simples? Quando você entra em contato com algum serviço ao cliente você tem certeza de estar falando com um atendente ou um chatbot? O que até poucos anos atrás levava as empresas a contratarem centenas de atendentes de telemarketing e instalá-los em prédios inteiros, hoje foi substituído por alguns poucos funcionários que trabalham de casa atendendo apenas chamados para os quais a IA não foi ainda treinada para resolver. E na velocidade que vai, essa realidade mudará bem antes do que se imagina.
Segundo Neto Paim (@neto_paim), especialista em Inteligência Artificial, professor, palestrante e consultor da área da beleza pelo Sebrae, de 3 em 3 meses surge algo muito novo. Exemplo recente é o Sora, que faz vídeos em qualidade cinematográfica com um realismo absurdo. Se você ainda não viu nenhum vídeo produzido pelo Sora, só dar uma pesquisada no Google, Youtube, Instagram, LinkedIn. Está por toda parte. E em quanto tempo após o anúncio do ChatGPT?
A velocidade com que a tecnologia avança e da maneira que avança com a Inteligência Artificial, pode-se considerar que nos encontramos hoje num “Ponto de Inflexão” ou “Ponto de Virada”, aquele momento único capaz de mudar os rumos da humanidade. Aconteceu no século XV com a invenção da imprensa, no século XVIII com a revolução industrial e suas máquinas a vapor, o uso do petróleo em meados do século XIX, a invenção do transistor no século XX e mais recentemente o advento da Internet, os smartphones e a Inteligência Artificial.
Sabemos que num “Ponto de Virada”, abrem-se “n” possibilidades para aplicações. A própria IA elencou algumas dessas aplicações como descrito acima para o segmento da Estética.
Vamos entender um pouco mais sobre elas?
Na Personalização de Tratamentos e Produtos a IA pode analisar grandes quantidades de dados sobre tipos de pele, preferências pessoais e tendências de beleza para criar tratamentos e produtos personalizados. Isso pode incluir recomendações de produtos de cuidados com a pele, cosméticos e tratamentos estéticos baseados nas características individuais do cliente.
Através de algoritmos avançados e tecnologias de imagem, a IA pode ajudar no Diagnóstico de Condições da Pele, como acne, rosácea, manchas e sinais de envelhecimento, de forma mais precisa. Isso permite que profissionais de estética ofereçam tratamentos mais direcionados.
Apesar de analisar dados, preferências e tendências, o que a IA faz é uma recomendação. E é importante ressaltar isso. A IA não tem a capacidade sozinha de determinar um protocolo de tratamento. Ela sugere e o profissional avalia e adequa de acordo com sua formação e experiência com pacientes. Segundo Josi Helena(@negravaidosa), esteta cosmetóloga, tricologista e especialista em estética de pessoas negras , um dos riscos que a introdução da IA pode trazer é do profissional ficar acomodado e esquecer a importância do raciocínio clínico. “Repetir protocolos prontos é muito ruim”, diz Josi Helena. “Tratar manchas com um ativo específico para manchas não basta. É preciso levar em conta a história e necessidade de cada indivíduo”, complementa Josi. Ela conta o caso de uma paciente que foi ao seu consultório tratar uma mancha. “A paciente era chefe de cozinha. Estava exposta a altas temperaturas por um tempo prolongado. Há ativos que jamais podem ser prescritos porque inclusive podem agravar o quadro”, conclui Josi.
A consciência do profissional de fazer a avaliação caso a caso antes de aplicar os resultados trazidos pela IA é importantíssima. Assim como as orientações pós-atendimento. Segundo a esteta cosmetóloga, existem intercorrências que podem nunca ter acontecido antes e o acompanhamento próximo da paciente é fundamental. “Estamos falando de saúde. É preciso muito cuidado com procedimentos estéticos”, diz Josi.
Para a profissional, a IA dificilmente terá a “malícia” para questionar os pacientes, como um bom profissional tem.
Nisto o especialista em Inteligência Artificial, Neto Paim, concorda. “A IA co-pilota, mas não toma a decisão sozinha”, diz Paim. Para Neto Paim, a IA vai pressionar o especialista a ser de fato especialista.
Já a dermatologista Taiz Campbell (@grupotaizcampbell), que em sua clínica tem revolucionado os cuidados estéticos criando conceitos como Daycare® e Quiet Beauty®, diz que a inovação tecnológica é muito positiva para a sociedade, mas que como praticamente tudo, pode sim acabar sendo usada para o mal, intencionalmente ou não. “Preocupações incluem questões éticas, como a disseminação de informações na Internet que com a IA pode gerar contextos irreais e mentirosos”, afirma a dermatologista. Para ela, outro risco seria o de perpetuar padrões estéticos que podem causar um gap de percepção da realidade, e acentuar ainda mais os dismorfismos, baixo auto-estima e depressão. Assim como Josi e Paim, Taiz acredita que a dependência excessiva de sistemas de IA pode levar à falta de habilidades humanas essenciais.
Quando pensamos no Desenvolvimento de Produtos e cuidados com a pele, a IA pode ser usada para analisar a eficácia dos ingredientes, prever reações alérgicas ou efeitos colaterais, e até mesmo para criar novos ingredientes e fórmulas.
Atualmente vemos diversas empresas fazendo testes de DNA. Ex. 23andMe, meuDNA, Genera, MyHeritage etc.. Testes que produzem uma quantidade enorme de dados sobre aquele indivíduo analisado. Imagine cruzar seus dados com fórmulas e ingredientes? Hoje a indústria já disponibiliza aparelhos para analisar a pele e produzir por exemplo uma base de maquiagem exatamente na tonalidade daquele momento de vida. Se você tomou sol, a base sairá um pouco mais escura. Quer uma cor personalizada de batom? Só comprar o aparelho Rouge sur Mesure de YSL. Se nunca ouviu falar do Giorgio Armani Meta Profiler, vale conhecer. A ferramenta analisa a pele e desenvolve um produto personalizado. E a fórmula do seu tratamento capilar? Hoje a BehScience promete formular um shampoo de acordo com os resultados da análise.
Inúmeras empresas abraçaram a personalização e estão desenvolvendo produtos para esse novo segmento de clientes. Porém, ainda esbarram em questões éticas e com os viéses de programação da Inteligência Artificial. Quando falamos em populações minorizadas, será que a IA responde da melhor maneira? Para a especialista em estética de pessoas negras, Josi Helena, essa população é muito traumatizada porque sofreu com erros de profissionais não capacitados ao longo da história. Apenas há poucos anos, e ainda nem todas empresas, se dedicam ao desenvolvimento de produtos para esse público.
Ao falar de uma Inteligência Artificial Generativa, quem faz o treinamento dela leva em conta vieses e diversidade?
Se a IA trabalha com a probabilidade do próximo evento, palavra ou pixel, será que consegue trabalhar com as inúmeras nuances da diversidade?
E quando falamos de Realidade Aumentada e Virtual?
Tecnologias de realidade aumentada e virtual, alimentadas por IA, podem permitir que os clientes “testem” produtos de maquiagem ou visualizem possíveis resultados de procedimentos estéticos de forma virtual antes de se comprometerem com eles.
Até hoje os espelhos virtuais, as plataformas de teste de cor de cabelo etc. não são precisas. Ela ajudam? Ajudam, mas o resultado final vai depender por exemplo de todo um contexto. Ou seja, da reação química do fio que recebe o produto no caso de uma descoloração. É um fio saudável ou passou por um chuveiro com cobre e vai interferir no resultado final?
São questionamentos como esse que o profissional experiente deve fazer, mesmo com uma análise prévia de qualquer máquina.
A area em que a IA tem tido mais uso é a Automação de Serviços. A IA pode automatizar certos serviços como atendimento e pós-atendimento, tornando-os mais velozes e acessíveis.
Hoje, pequenas empresas ou até mesmo empresas individuais, usam esse tipo de automação. Se você faz parte de grupos de whatsapp comerciais, sabe como funciona. Se clicou em algum anúncio do Instagram também.
Além da automação, a IA também tem encontrado um bom espaço no Marketing e Tendências de profissionais de estética e clínicas especializadas.
A IA tem ajudado as empresas de estética a compreender as tendências emergentes, personalizar campanhas de marketing e melhorar a experiência do cliente.
Na clínica da dermatologista Taiz Campbell, com quase 100 colaboradores distribuídos em 10 diferentes departamentos, ela diz que praticamente todos já usam algum tipo de IA. “Seja para coletar e analisar dados para melhora da experiência do paciente. Ou uso de dispositivos como Apple Vision, Ray-Ban Meta, ChatGPT para auxílio e suporte na realização de aulas, vídeos entre outros”, afirma a dermatologista.
Falando em tendências, em uma palestra que Neto Paim dá no Sebrae, ele ilustra que vivemos um momento de várias belezas: Beleza Inteligente, Beleza Emocional e Beleza Natural. São consumidores de múltiplas belezas que usam desde avançados Neurocosméticos e Cosméticos Clean Beauty até as que optam pela simplicidade em satisfazer seus próprios padrões de beleza e aceitação.
Vivemos uma fase da humanidade, que passou do mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) para o BANI (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível) com todos seus desafios, mas com um potencial nunca antes imaginado de mudanças e mudanças rápidas.
Quer outro exemplo? Na area de Educação e Treinamento a IA pode ser utilizada para treinar profissionais de estética, oferecendo simulações realistas e análise de desempenho, garantindo que eles estejam atualizados com as últimas técnicas e tecnologias. Uma descoberta acontece hoje e a propensão é que em 3 meses ela esteja na tela do celular de qualquer pessoa.
E nessa fase atual da humanidade, a frase atribuída ao neurocientista americano, Ralph Gerard, cabe perfeitamente: “A razão pode responder perguntas, mas a imaginação tem que perguntá-las.” Vai virar o jogo quem conseguir fazer as melhores perguntas para a IA. Você, profissional da beleza, está pronta (o)?