O papel do esteta no tratamento capilar pós-COVID-19

A atual pandemia trouxe inúmeros desafios aos profissionais da Saúde Estética, mas também várias possibilidades de crescimento pessoal e profissional. A atuação desse profissional precisou se adaptar às diversas dificuldades sanitárias vividas no Brasil e no mundo. A pandemia da COVID-19 acometeu milhares de pessoas e está longe de acabar. Com isso, novos sinais e sintomas vêm sendo descritos ao longo dos últimos meses e um deles é o Eflúvio Telógeno, presente em quase 30% 1 dos pacientes. Esses dados abrem portas para o profissional esteta, capacitado e habilitado, atuar mediando os efeitos dessa queda capilar e tornando a recuperação mais rápida e efetiva para o paciente.

Sabe-se que a COVID-19 é uma doença sistêmica e respiratória grave em muitos casos, gerando um processo inflamatório sistêmico. É tratada clinicamente com uma abordagem farmacológica polimedicamentosa, sem tratamento específico. SARS-CoV-2 é o agente viral de alto risco envolvido na recente pandemia.

Os principais sinais e sintomas são: febre, dispneia, astenia, tosse, anosmia, disgeusia, sintomas gastrointestinais, dor de cabeça e dor de garganta. Em casos graves: síndrome da angústia respiratória aguda com pneumonia aguda intersticial bilateral, podendo levar à falência de múltiplos órgãos e à morte. Alguns outros sintomas podem estar associados, como: frieiras, urticárias e tremores.

Hoffmann et all (2020)2 demonstraram que o SARS-CoV-2 utilizou o receptor ACE2 (enzima conversora de angiotensina I-2) para a entrada e a proteína de membrana TMPRSS2 (protease transmembrana serina 2) para clivagem (ativação) do spike viral. Portanto, qualquer célula que carregue o receptor ACE2 é um alvo potencial para SARS-CoV-2, incluindo a pele.

O Eflúvio Telógeno é uma patologia que acomete o couro cabeludo, onde observa-se uma queda capilar intensa (> 150 fios/dia), difusa, não apenas no topo, como no caso da alopecia androgenética, e nem tampouco em círculos, como no da alopecia aerata. Observa-se uma inflamação no couro cabeludo e a presença de triconídia, que é dor e sensibilidade local. Pode apresentar caspa e aumento da oleosidade. Para o diagnóstico utiliza-se o Teste de Tração e é descartada através de exames laboratoriais a presença de doenças autoimunes, deficiências de vitaminas, oligoelementos, nutrientes e anemias. Geralmente ocorre após dois, três meses do evento desencadeador, que pode ser: pós-parto, descontinuação de pílulas anticoncepcionais, hipertermia, desnutrição, bulimia, perda de sangue, choque, cirurgias, fatores psicológicos graves e infecção bacteriana ou viral.

O que se sabe é que o Eflúvio Telógeno é autolimitado e tem duração predeterminada de dois a quatro meses, caso não haja outra doença associada. Na teoria, não seria preciso tratamento. Porém, se o paciente tem alguma condição associada, como alopecia androgenética (calvície) ou a alopecia senil (rarefação que surge após os 60 anos), costuma-se tratá-lo para que possa ter plena capacidade de recuperar o volume dos fios.  

É importante lembrar que não há um tratamento específico. Algumas formulações, que são estimuladoras do crescimento capilar, podem ser associadas para acelerar esse processo de recuperação além de alguns procedimentos em cabine.

Alguns ativos podem auxiliar o profissional na recuperação do equilíbrio desse couro cabeludo, como exemplo:

MINOXIDIL BASE: é um potente vasodilatador, realiza a abertura dos canais de potássio levando a um aumento do fluxo sanguíneo. Promove o crescimento capilar por aumentar a produção de prostaglandina E2 (PGE2). Concentração usual de 2 a 5%.

AUXINA TRICÓGENA: complexo de extratos naturais, aumenta a oxigenação, a nutrição do bulbo capilar e a circulação. Ativa o processo mitótico de células-tronco, contribuindo com o crescimento capilar. Possui ação Minoxidil like. Concentração usual: 8-15%.

CAPILIA LONGA: extrato de células-tronco extraído da cúrcuma, com ação epigenética na redução da queda capilar. É um potente agente anti-inflamatório. Possui selo ECOCERT. Estimula a proliferação de células da papila dérmica, proporcionando o crescimento de novos fios. Eficácia clinicamente testada e comprovada para homens e mulheres. Concentração usual: 0,5-3%.

SFÍNGONI: possui ação Finasterida Like, sem seus efeitos colaterais, inibindo a redutase. Previne a queda, favorece o crescimento capilar, reequilibra o ciclo de vida do cabelo, reduz a oleosidade e melhora a saúde geral do couro cabeludo. Ação antimicrobiana eficiente na redução do fungo Malassezia furfur, contribuindo para o controle da caspa. Concentração usual: 0,1 – 0,5%.

PROHAIRIN: peptídeo derivado de citocinas endógenas. Biomimético, estimula o surgimento de novos fios. Aumenta a produção de proteínas de ancoragem e reduz a oleosidade excessiva. Estimula o aumento de fios anágenos e a redução de fios telógenos. Concentração usual: 3-7%.

BAICAPIL: proporciona açúcares adicionais aos folículos que entram no ciclo do ácido cítrico e aumentam a respiração celular. Estimula o crescimento do cabelo, melhora a densidade capilar, reduz a perda dos fios e recupera o aspecto saudável e forte dos mesmos. Concentração usual: 3%.

PRODIZIA: precursor tópico da melatonina, potente antioxidante e anti-inflamatório, que combate ROS – espécies reativas de oxigênio. Estudo demonstrou que a melatonina a 0,1% aumenta a fase anágena em mulheres com AA.  Concentração usual: 3%.

Como falado anteriormente, o Eflúvio Telógeno é autolimitado e não possui tratamento específico, mas os profissionais da Saúde Estética podem auxiliar seus pacientes na rápida recuperação do couro cabeludo. Dentre os procedimentos que podemos lançar mão estão:

MICROAGULHAMENTO: quem me conhece sabe que sou apaixonada pela técnica, pois com ela temos baixo downtime, zero dor e zero desconforto para o paciente. Pode ser realizado com qualquer técnica, seja ela com o roller, caneta elétrica ou até mesmo com o sistema de infusão transcutânea. Sabe-se que o microagulhamento pode aumentar a permeação dos ativos em até 80%, além de liberar fatores de crescimento endógenos, melhorar oxigenação e vascularização periférica e reestabelecer as fases do ciclo capilar. Não deve ser realizado em couro cabeludo inflamado e nem causar sangramento, pois nesses casos pode piorar o quadro.

INTRADERMOTERAPIA: visa colocar, através da técnica injetável ou de pressurização, ativos de alta performance no couro cabeludo. A seleção dos ativos é de suma importância para que tenhamos resultados realmente efetivos.

LASER DE BAIXA INTENSIDADE/LED’s: não produz efeito térmico significativo como o laser. Causa uma reação de fotobioestimulação celular, aumentando a atividade biológica e mitótica das células. Caracterizado por luzes monocromáticas com comprimentos de onda que podem variar entre 600 a 1400nm. As mais utilizadas são:

            *Led Azul 470nm: atua na epiderme. Possui função bactericida, viricida e fungicida. Tem grande utilização no tratamento de acne, caspa e dermatite seborreica. Além disso, leva a um aumento da água intracelular e consequentemente maior hidratação do tecido. Muito indicada em pacientes onde há processo inflamatório do couro cabeludo.

            *Laser Vermelho 690nm: atua na derme, estimulando fibroblastos. Age nas células periféricas da papila dérmica ativando as suas células germinativas que conseguem regenerar e revitalizar o folículo piloso, atuando na elevação da vascularização e no estímulo do crescimento do pelo e das células-tronco no bulbo do folículo piloso e no aporte de nutrientes. Pode ser usado imediatamente após microagulhamento.

ALTA FREQUÊNCIA: produz uma corrente alternada gerando ozônio entre o eletrodo e o couro cabeludo. O ozônio produzido auxilia na cicatrização dos folículos capilares, tem ação bactericida e aumenta a vascularização dos folículos. Através do efeito térmico gerado pela corrente aumenta o aporte de sangue, oxigênio e nutrientes necessários para o crescimento capilar.

OZONIOTERAPIA: é uma terapia bio-oxidativa que tem como base a utilização de uma mistura gasosa de oxigênio (95%) e ozônio medicinal (até 5%). Essa combinação, quando aplicada no tecido, exerce ação anti-inflamatória, reduzindo a produção de citocinas pró-inflamatórias, imunoglobulinas e mediadores inflamatórios. Além disso, auxilia na oxigenação dos tecidos, combatendo micro-organismos através da sua ação sobre a parede celular do patógeno, decorrente da oxidação de glicopeptídeos, glicoproteínas e aminoácidos, alterando assim a permeabilidade e causando sua lise.

O profissional esteta é um profissional que possui visão ampla e global das diferentes abordagens a serem adotadas junto ao paciente para resultados seguros e efetivos. No Eflúvio Telógeno pós-Covid-19, mesmo sabendo-se que é autolimitado, causa déficit físicos e psicológicos, diminuindo a autoestima e gerando ansiedade diante da situação. Podemos e devemos atuar no gerenciamento do quadro, evitando que novos fios entrem na fase telógena, nutrindo, fortalecendo e melhorando a circulação periférica para que tenhamos novos fios saudáveis o mais breve possível. Além disso, atuar tratando o quadro de inflamação, caspa e/ou dermatite seborreica e suplementando caso haja déficit nutricional.

Vale lembrar que a atuação multidisciplinar nesses casos é muito bem-vinda e que o correto diagnóstico é imprescindível para que haja uma abordagem segura, visando a saúde do paciente.

  • doi: 10.1111 / dth.13923
  • doi: 10.1016 / j.cell.2020.02.052
Angela Lodi é farmacêutica e bióloga, pós-graduada em Farmácia Estética. Especialista em Procedimentos Minimamente Invasivos com duas certificações internacionais. Professora da Pós-graduação do ICTQ e do ICosmetologia, ambos em São Paulo (SP), e da Avançar, em Fortaleza (CE). Possui clínica em São Paulo, Porto Alegre e Bento Gonçalves (RS) onde realiza atendimentos clínicos. Instagram: @farma.angelalodi

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