Lasers estéticos e os seus riscos ocultos

Nos últimos anos, a Estética avançou a passos largos. O laser, antes restrito a tratamentos médicos e procedimentos específicos, se tornou um dos recursos mais populares para quem busca resultados rápidos na pele — seja para depilação, rejuvenescimento, manchas ou poros dilatados. Em contrapartida a essa popularização, um sinal de alerta vem chamando a atenção de dermatologistas de todo o país: o aumento de complicações após sessões mal indicadas ou mal conduzidas com tecnologias a laser.

O laser é uma ferramenta poderosa e eficaz quando bem aplicada, mas não é um procedimento inofensivo, como muitos ainda acreditam. Isso porque lasers atuam emitindo calor controlado em camadas específicas da pele. Dependendo do tipo de equipamento, da intensidade e da profundidade de ação, ele pode promover desde estímulo de colágeno até a destruição de folículos pilosos. Assim, se for utilizado de maneira inadequada, o que era para ser benéfico pode gerar danos difíceis de reverter, como queimaduras, manchas e até cicatrizes.

Boa parte do aumento das complicações está ligada à realização do procedimento sem avaliação dermatológica prévia, uso de equipamentos sem registro na Anvisa ou manipulação de aparelhos por profissionais não habilitados para lidar com os diferentes tipos de pele, fototipos e sensibilidades cutâneas. A pele negra ou bronzeada, por exemplo, exige cuidados redobrados, pois há maior risco de hiperpigmentação. Peles com acne ativa, que receberam aplicação recente de ácidos ou foram expostas à radiação solar intensa também não são indicadas para muitos tipos de laser. E o que vemos é uma crescente banalização desse cuidado, com clínicas oferecendo pacotes promocionais sem qualquer protocolo de segurança.

Tipos de lesões mais comuns após o uso inadequado do laser:

  • Queimaduras térmicas de primeiro ou segundo grau;
  • Hiperpigmentação pós-inflamatória;
  • Manchas escuras ou claras na pele;
  • Cicatrizes atróficas ou hipertróficas;
  • Irritações severas, coceira e ardência prolongadas. 

É importante salientar que muitas dessas reações não surgem imediatamente. Em alguns casos, o dano se manifesta dias ou até semanas após a aplicação e, infelizmente, nem sempre são reversíveis com tratamentos simples.

Laser não é tudo igual

Existem diversas tecnologias com aplicações específicas: diodo, alexandrite, Nd:YAG, CO2 fracionado, Erbium, entre outros. Cada um age em uma profundidade da pele e possui indicações e contraindicações distintas.Por isso, é essencial que o profissional conheça não apenas o equipamento, mas também o histórico clínico do paciente, o tipo de pele, o tempo de exposição solar recente e a rotina de cuidados em casa. Só assim é possível minimizar os riscos e entregar um resultado realmente seguro e eficaz.

O que deve ser avaliado antes de realizar um procedimento com laser:

  • Tipo e tonalidade da pele (fototipo);
  • Histórico de acne, melasma, rosácea ou outras doenças dermatológicas;
  • Uso atual de medicamentos ou ácidos tópicos;
  • Exposição solar recente;
  • Se há cicatrização atrófica ou queloidiana;
  • Estado de hidratação da pele. 

Após a sessão, o acompanhamento profissional é indispensável. Recomendação de hidratação adequada, uso rigoroso de protetor solar e, em alguns casos, prescrição de calmantes ou clareadores tópicos são etapas fundamentais do pós-procedimento.

Quando ocorre reação adversa

Fato é que vermelhidão, ardência e leve descamação são consequências esperadas em alguns tratamentos, mas, por outro lado, o surgimento de bolhas, dor intensa, escurecimento persistente da pele ou manchas irregulares exigem atenção imediata. Nesses casos, é fundamental que o dermatologista realize criteriosa avaliação a fim de recomendar o tratamento correto rapidamente, pois assim serão maiores as chances de reversão dos efeitos adversos. O avanço da tecnologia é um grande aliado da Dermatologia moderna, mas não deve ser tratado como um atalho para proporcionar resultados rápidos sem riscos. O laser, quando usado com critério, pode trazer ganhos expressivos para a qualidade da pele, mas quando negligenciados os cuidados com a aplicação, pode deixar marcas que vão muito além da estética. O problema não é o laser em si. É o uso desinformado, impessoal e, muitas vezes, comercial, que desconsidera a complexidade da pele humana. Em tempos de promessas instantâneas, o que realmente protege o paciente é o conhecimento e o cuidado técnico.

Dra. Renata Castilho @drarenata.castilho é dermatologista e tricologista, com graduação em Medicina pela Universidade São Francisco (USF) e especialização em Dermatologia pela Faculdade Instituto Superior de Medicina e Dermatologia (ISMD -São Paulo). É mestre em Estudos do Envelhecimento pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP).

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