Com mais estudos esclarecendo o impacto do sistema digestivo na saúde e beleza cutânea, o profissional de estética ganha mais uma importante ferramenta para otimizar o resultado de seus protocolos contra acne, rosácea, flacidez, envelhecimento, perda de gordura localizada e de medidas, entre outros. Aqui, especialistas que são referência no assunto comentam os melhores e mais novos achados.
Shâmia Salem (@shamiasalem)
Não é de hoje que se especula o impacto do que se come nos micro-organismos presentes no intestino e, como consequência, na saúde e beleza da pele. Várias pesquisas já mostraram que a dieta ocidental, seguida por nós aqui no Brasil e caracterizada por grandes quantidades de açúcar e gordura (o que explica o fato de 6 em cada 10 brasileiros estarem acima do peso, segundo o Ministério da Saúde), favorece a inflamação cutânea de maneira muito significativa, a ponto de provocar crises de psoríase, piora da acne, dermatites e até acelerar o envelhecimento e a queda capilar. Porém, em meio a tudo isso há o conforto de saber que a dieta é um dos principais fatores modificáveis que regulam a microbiota intestinal, revertendo a chamada disbiose, que é a perturbação do equilíbrio microbiano que ocorre no curto prazo e desencadeia processos inflamatórios que – atenção! – não se restringem ao ambiente intestinal – sim, é a saúde integral sendo prejudicada!
Além de saber que virar o jogo está em nossas mãos, outra excelente notícia é que os danos provocados por uma alimentação pouco saudável são reversíveis. E isso foi confirmado por um estudo da Universidade da California, nos Estados Unidos, publicado em julho de 2021 no Journal of Investigative Dermatology. Os pesquisadores comprovaram que houve uma melhora na inflamação cutânea depois que foram feitas mudanças na dieta para que ela ficasse mais equilibrada. E, olha só que incrível: o impacto na pele foi rápido e capaz de reverter parcialmente os efeitos inflamatórios gerados pela alteração da microbiota intestinal devido ao consumo ostensivo de açúcar e gordura.
Avaliação da pele, e do intestino também
“Essas pesquisas reforçam que durante a anamnese o profissional de estética precisa ficar atento para entender se aquela pele cheia de pústulas, com manchas, sem viço e envelhecida, por exemplo, também não é resultado de um intestino desequilibrado e de uma dieta pobre em nutrientes. Até porque essa constatação vai ajudar a definir o protocolo que vai trazer melhor resultado”, avisa a biomédica, esteticista e professora de estética, Alexandra Vicentini, proprietária da Maison Curvas, em Sertãozinho (SP). “Por isso é que uma das primeiras perguntas que faço é como está o funcionamento do intestino. Muitas têm uma visão tão equivocada que respondem que está tudo bem por irem ao banheiro até três vezes por semana. Isso não é nada bom, já que o ideal é ir diariamente e eliminar fezes consistentes. Por outro lado, não adianta evacuar todo dia, mas fazer um cocô mole, que é um indício de inflamação. Nessa condição, o intestino não terá a quantidade adequada de bactérias boas nem conseguirá absorver os nutrientes vindos da alimentação. Mais um motivo para corrigir esse desequilíbrio é que vários hormônios ligados ao bem-estar e à boa qualidade do sono são produzidos no intestino. Não à toa a palavra enfezada significa cheia de fezes”, lembra ela, que é palestrante do Estética In.
Para Alexandra Vicentini, em paralelo à melhora da qualidade da alimentação é preciso ter uma boa hidratação e jamais usar por conta própria laxantes, chás ou suplementos que prometam soltar o intestino. “Eles vão fazer isso de forma inflamatória, ou seja, sem tratar o problema. Ao passo que ingerir água e mais nutrientes e fibras por meio de frutas, verduras e legumes vai favorecer o intestino e fazer com que a pessoa tenha mais energia e disposição, durma bem, a pele fique melhor nutrida, equilibrada, saudável e respondendo de maneira mais efetiva aos tratamentos contra acne, ressecamento, flacidez, envelhecimento e até perda de gordura localizada e de medidas”, afirma a expert, que lembra: “Dependendo do caso, é preciso orientar a paciente a buscar um nutricionista e até mesmo um médico gastroenterologista”.
Dieta: quanto mais natural, melhor
A nutricionista e esteticista Sheila Mustafá, professora do curso de pós-graduação da VP Santa Casa, em São Paulo, e autora do livro Nutrição estética – beleza além da pele, conta que gases são sinais clínicos de que o sistema digestivo está inflamado, e nem sempre o sistema imunológico é capaz de se defender sozinho para recuperar o equilíbrio da microbiota intestinal. “Diante disso, pode haver um crescimento acentuado de bactérias ruins e um prejuízo na produção do muco que garante a qualidade da absorção de nutrientes pelo intestino. Tudo isso leva a um quadro disbiótico, que desencadeia processos inflamatórios até mesmo na pele, que aparecem sob a forma de acne, dermatite, psoríase, rosácea, alopecia, entre outras doenças e alterações cutâneas”, diz Sheila Mustafá. A solução, segundo a professora, passa por aumentar a capacidade anti-inflamatória do organismo. “Podemos trabalhar com a ingestão de biomassa de banana verde e de fontes naturais anti-inflamatórias e prebióticas, encontradas em alimentos como alho-poró, batata yacon, chicória, alho, cebola, maçã, linhaça e aspargo, entre outros. Em paralelo, é preciso diminuir o consumo de alimentos industrializados e processados, bem como de corantes, conservantes, açúcar e excesso de carboidratos. Tudo isso vai trazer equilíbrio à microbiota intestinal e fortalecer a imunidade do organismo e da barreira de proteção cutânea, o que vai impactar na diminuição dos radicais livres e dos efeitos da poluição, da radiação solar, da ação dos cosméticos e mexer até mesmo em marcadores cutâneos que levam à quebra de colágeno e perda de hidratação”, afirma Sheila, que, dependendo do perfil do paciente, também entra com suplementação oral de probióticos. “Apesar desse tipo de produto ser vendido livremente, sua ingestão deve ser feita sempre sob a orientação de um profissional habilitado. Caso contrário, há o risco de deixar o intestino mais permeável até mesmo às toxinas, prejudicando ainda mais a saúde, a beleza e os tratamentos estéticos realizados. A ciência já catalogou quais são as bactérias e fungos que geram mais inflamação e diminuem a resposta inflamatória em relação à rosácea, acne, alopecia areata, dermatite atópica e seborreica. Conhecer essas cepas é fundamental para atuar de maneira pontual, e correta”, completa ela.