Fotobiomodulação no intraoperatório de cirurgias plásticas

As cirurgias plásticas estéticas têm evoluído constantemente, com grandes avanços descritos nas últimas décadas. Um desses grandes avanços foi a introdução da anatomia artística e o enquadramento superficial como premissas fundamentais para a lipoescultura de alta definição e a incorporação de novas tecnologias, como VASER (Amplifcação de Vibração de Energia Sonora em Ressonância), MicroAire (lipoaspiração assistida), J-Plasma (plasma à base de hélio), entre outras, as quais facilitaram substancialmente o processo das cirurgias de contorno corporal (Hoyos Ae, Perez Me, 2020), além de trazer desafios aos profissionais fisioterapeutas que trabalham no processo de reabilitação pós-operatória.

A formação de seroma é uma complicação comum observada pós-cirurgias de contorno corporal. Essa complicação causa muito sofrimento ao cirurgião e ao paciente, podendo levar ao aparecimento de fibroses e, consequentemente, à formação de irregularidades de contorno e acomodação da pele. Além disso, quando falamos na utilização de alta tecnologia para tratamento da qualidade e flacidez da pele, o seroma pode atuar como uma barreira que pode limitar a aderência da pele após o uso de tecnologia, e isso pode afetar a satisfação geral e a experiência do paciente, prejudicando o resultado final. (Taha AA et al., 2020). Hematomas e seromas também estão entre as complicações mais frequentes pós-cirurgias de abdominoplastia (Nurkim et al., 2012).

Nas cirurgias de mama, a necrose do complexo areolomamilar tem sido relatada em 2% dos casos das mamoplastias redutoras e em 1% dos casos de mastopexia. Casos de epidermólise do complexo areolomamilar, decorrentes do edema intradérmico ou subdérmico ocorrem em 5% a 11% dos casos (Battisti et al., 2018).

Outras complicações descritas na literatura incluem irregularidades do contorno, necrose da pele (menor e maior), revisão da cicatriz e infecção da ferida (Matarasso A, Swift Rw, Rankin M, 2006).

A cicatrização inadequada resulta na probabilidade de desenvolvimento de aderência, flexibilidade reduzida e cicatrização excessiva – impedindo o movimento livre entre os tecidos geralmente móveis (Akaishi S, Hyakusoku H et al., 2012).

As complicações pós-cirurgias podem ser evitadas e a cicatrização pode ser acelerada por diversos recursos terapêuticos. Uma das técnicas mais utilizadas para essa finalidade é a fotobiomodulação. A primeira aplicação da fotobiomodulação foi realizada pelo professor Endre Mester, um médico húngaro, em 1967. Ele relatou como a exposição à luz do laser acelerou o crescimento do cabelo em camundongos, enquanto estudava os efeitos da irradiação no crescimento de células cancerosas. Na década de 1980, a professora Tiina Karu propôs o uso da luz laser como terapia para tratar a falha celular e, desde então, a fotobiomodulação se expandiu drasticamente como meio terapêutico de baixo risco, não invasivo, de baixo custo e indolor (Poursalehan et al., 2018; Tripodi N et al., 2021).

Atualmente, a fotobiomodulação é caracterizada como uma forma de terapia de luz que utiliza fonte de luz não ionizante, incluindo lasers, LEDs e uma banda larga de luz, do espectro visível e invisível. É um processo não térmico que envolve cromóforos endógenos promovendo eventos fotofísicos e fotoquímicos em várias escalas biológicas. Este processo desencadeia resultados terapêuticos benéficos, incluindo – mas não limitando – o alívio da dor ou inflamação, imunomodulação, promoção da cicatrização de feridas e regeneração tecidual (Naalt).

A terapia a laser de baixa potência (LLLT) foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento da dor, em 2002. No campo cirúrgico, o uso do laser é um dos métodos utilizados para prevenir e reduzir a dor pós-operatória (Poursalehan et al., 2018).

A absorção da luz do laser é determinada por cromóforos – as moléculas-alvo encontradas na pele, que possuem perfis específicos de absorção de comprimento de onda. Os três cromóforos cutâneos endógenos primários são água, melanina e hemoglobina.

Na absorção da energia do laser pela pele, podem ocorrer efeitos fototérmicos, fotoquímicos ou fotomecânicos. A profundidade cutânea de penetração da energia do laser é dependente da absorção e espalhamento (Gentile RD, 2019).

Para determinar o cromóforo-alvo, seleciona-se o comprimento de onda que é uma das características mais importantes da radiação laser/LEDs, sendo os mais
comuns vermelho (620 a 750 nm), infravermelho (780 nm) e azul (450-495 nm).
(Rodrigues, NC, 2007).

Os efeitos clínicos esperados da fotobiomodulação dependem, além da correta indicação do comprimento de onda, também da adoção de protocolos de irradiação adequados, incluindo dosimetria, forma de entrega da energia e frequência de tratamento.

Em um estudo, realizado em ratos, cujo objetivo foi investigar os efeitos do tratamento preventivo com laser fotobiomodulação com diferentes energias na viabilidade de retalhos cutâneos, observou-se que aplicação preventiva do laser de 660 nm com 1,1J por ponto em retalho cutâneo é uma modalidade terapêutica eficaz para a diminuição do percentual de tecido necrótico, aumento do número de vasos e na imunocoloração do FGF, HIF 1a e VEGF (Martignago et al., 2019).

Em outra pesquisa recente, os autores sugeriram que a força da resposta inflamatória, no início do processo de cicatrização, se correlaciona diretamente com a quantidade de tecido cicatricial que eventualmente se formará (Traci A. Wilgus, 2020).

Desta forma, parece que direcionar a inflamação pode ser uma estratégia terapêutica viável para restringir a produção de tecido cicatricial e melhorar os resultados clínicos estéticos e funcionais resultantes de lesões cutâneas. Além disso, usar a fotobiomodulação de forma preventiva parece minimizar os riscos de necrose do retalho. Por isso, a utilização de recursos como a fotobiomodulação imediatamente após o trauma se torna tão atrativo e promissor na área da cirurgia plástica antes, durante e após a cirurgia.

Dra. Olga Vieira @draolgavieira é fisioterapeuta com especialização em Fisioterapia Dermatofuncional. É criadora do Método RPP – Programa de Reestruturação Funcional e Estética Pós-parto, que visa atender mulheres no pós-parto imediato e tardio.

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