Filler fatigue: como o uso frequente e inadequado de preenchedores pode piorar os sinais de envelhecimento

A indústria da beleza evoluiu muito nas últimas décadas e trouxe diversos arsenais para o campo de batalha, na luta para manter a pele tratada contra os sinais de esgotamento. Há pouco tempo, os conceitos da cirurgia plástica eram baseados em retirar o que estava sobrando: pele demais na face, bolsas sob os olhos. Com o tempo, percebemos que apenas retirar não conferia resultados naturais. O rosto continuava cansado, o olhar fundo, com a testa muito maior, ‘com cara de plástica’. Com estudos de anatomia mais aprofundados e melhores exames de imagem, passamos a entender mais sobre o envelhecimento da face e começamos a tratar diversos planos do rosto.

Conforme envelhecemos, a estrutura óssea da face muda, perdemos espessura em algumas áreas e temos menos sustentação dos tecidos ligados a essas estruturas, compartimentos de gordura diminuem, músculos e ligamentos têm sua função modificada, a pele perde colágeno e espessura. Por isso, essas alterações devem ser tratadas em conjunto. Surgiram então os preenchedores. O problema é o uso frequente, repetido e inadequado dessas substâncias, resultando no que ficou conhecido como filler fatigue, ou fadiga do preenchedor, que acentua os sinais do envelhecimento.

O problema tem base no diagnóstico e na indicação de como e quando usar – essa avaliação equivocada criou uma legião de pessoas com idade indefinida, sem expressão facial ou com rosto ‘não muito humano’, mas sem qualquer ruga. Os preenchedores e os bioestimuladores de colágeno, a toxina botulínica e as tecnologias são armas de um arsenal enorme que devem ser utilizadas, sim, mas para conferir um envelhecimento belo, tornando as pessoas mais felizes consigo mesmas. É necessário conversar com o paciente, ouvir o que ele realmente deseja e entender a anatomia desse desejo a fim de traduzi-lo em técnicas e procedimentos adequados. Bons profissionais são capazes de utilizar todos os recursos disponíveis para tratar estruturas de forma independente e harmônica. E como o paciente não muda de rosto, apenas melhora e rejuvenesce, não vira notícia e ninguém nem mesmo percebe que algum procedimento foi feito.

Outro problema é que, quando o arsenal de recursos é pequeno, por exemplo, apenas com preenchimento e toxina botulínica, não só o resultado é comprometido, como também pode ser prejudicial.  Isso porque um rosto envelhecido pode ser comparado a um balão vazio: você enche o balão de ar para que fique todo esticado e brilhante. Mas ao esvaziar, ele fica mais enrugado do que antes, sendo necessária então uma quantidade ainda maior de ar para manter o balão cheio e lisinho. Este é o conceito  de filler fatigue: o uso excessivo desses preenchedores, que têm um efeito temporário, distende mais e mais os tecidos, assim criando a necessidade de cada vez mais preenchedor e, logo, piorando os sinais de envelhecimento.

Então, afinal, preencher é bom ou não? É ótimo! Conseguimos restaurar estruturas profundas, como a parte óssea, repor compartimentos de gordura perdidos, melhorar a proporção das estruturas da face e até melhorar a qualidade da pele. O problema está no diagnóstico e se há necessidade de preencher. O paciente procura um consultório a partir do que ele vê no espelho. Por exemplo, o famoso bigode chinês, que é o sulco nasogeniano. A causa desse sulco mais profundo pode ser a diminuição do compartimento de gordura da maçã do rosto pela idade ou emagrecimento. Simplesmente preencher esse sulco pode dar a impressão de um rosto mais pesado, mas repor essa gordura de forma adequada estende os ligamentos e reposiciona todas as estruturas, produzindo realmente um efeito lifting. Ou então, se os compartimentos de gordura estiverem adequados, a causa pode ser flacidez dos ligamentos. Nesse caso, seria errado preencher qualquer coisa. O tratamento mais adequado pode ser através do uso de tecnologia, como o ultrassom microfocado, ou mesmo cirurgia de face.

Com frequência, recebo pacientes lindas que há anos fazem preenchimentos e tratamentos estéticos com colegas dermatologistas, que, enxergando que não é mais possível tratar a flacidez, conscientemente indicam uma cirurgia de face. De forma inversa, muitos pacientes me procuram para realizar cirurgia de face e indico tratamentos estéticos, retardando em alguns anos os procedimentos mais invasivos. Ou ainda, durante a cirurgia de face, utilizo preenchedores de ácido hialurônico ou gordura como complemento.

Ou seja, nós temos ferramentas cada vez melhores e mais eficazes para manter a aparência saudável, incluindo bioestimuladores de colágeno, preenchedores, tecnologias incríveis, toxina botulínica, que devem ser utilizadas com muito critério e conhecimento.

Dra. Beatriz Lassance @drabeatrizlassance é cirurgiã plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em Cirurgia Plástica na Faculdade de Medicina do ABC (SP). Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis – Amsterdam – NL, e é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS) e da American Society of Plastic Surgery. Além disso, é membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.

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