O termo anamnese vem do grego “anamnésis” e significa recordação, reminiscência. Na Estética, indica tudo o que se refere à manifestação dos sintomas clínicos – até o momento do procedimento. Descubra a importância desse diagnóstico bem feito com cada cliente e entenda os motivos pelos quais esta parte do atendimento tem sido tão valorizada no segmento
Karina Hollo
A ficha de anamnese é amplamente utilizada em toda a área da saúde. Mas seu conteúdo muda de acordo com o contexto e a área aplicada. Ela é um documento indispensável e precisa ser preenchido antes de qualquer procedimento, para que o profissional conheça melhor seu cliente. “Só assim conseguirá desenvolver o diagnóstico da face ou do corpo, avaliando se o desejo de tratamento de cada cliente condiz com a real necessidade da sua pele”, fala Patrícia Tashima, esteticista e cosmetóloga, Gerente de Treinamentos de Anna Pegova, docente na Graduação Tecnológica em Estética e Cosmética do Centro Universitário Senac. Frente ao que foi exposto, cabe ao profissional escolher os melhores recursos para alcançar as expectativas e principalmente promover os resultados aos clientes. “Vale lembrar que a anamnese é um arquivo onde o profissional resgata as informações individuais dos seus clientes a cada realização dos tratamentos agendados e a evolução dos resultados”, complementa Patrícia. É nesse mesmo arquivo que ele controla o programa de tratamento que está sendo realizado para acompanhar não somente as técnicas aplicadas, assim como as recomendações cosméticas. “É na anamnese que identificamos as principais queixas, o que mais os incomodam e também é a fase que nós médicos conseguimos determinar o que iremos tratar primeiro”, fala a tricologista e dermatologista Dra. Ana Carina Bertin, de São Paulo. “Uma ficha ideal é a ficha onde o paciente pode citar queixas tanto na parte facial, como corporal e capilar. Hoje a gama de pacientes que buscam por tratamentos multidisciplinares tem aumentado todos os dias”, diz ela.
Durante a anamnese, é importante o diálogo franco entre examinador e o cliente, a disposição para ouvir, deixando o cliente falar à vontade, interrompendo-o mínimo possível. “Busque saber e entender a história do paciente, saber quais os procedimentos que ele realizou, com qual ele obteve sucesso e com qual não. O paciente é único, e seu tratamento precisa ser individualizado, diz Ana Carina. Por isso, é preciso ouvir a história dele. “Demonstre interesse não só pelos problemas do cliente, mas por ele, como pessoa”, ensina a esteticista Edy Guimarães, de São Paulo.
Sim, conhecer o cliente vai muito além do que preencher uma ficha padrão. “Saber sobre os cuidados diários com a pele, a rotina, os medicamentos de uso habitual e até mesmo as possíveis alergias e patologias (doenças) que um paciente possui faz com que o profissional analise as melhores opções para cada perfil de cliente”, diz Patrícia. Portanto, durante o preenchimento (digital ou manuscrito) da anamnese, o profissional deve realizar uma conversa com perguntas “abertas” e de uma forma descontraída para que o cliente não se sinta preso em um questionário cansativo. Lembre-se que um bom histórico é fundamental para o sucesso de qualquer tratamento. “Não podemos tratar o que nós não diagnosticamos. Uma anamnese detalhada, com todo o histórico do paciente: cirúrgico, de doenças prévias e na família, uso de medicamentos, alergias… Além disso, um bom exame físico são passos fundamentais para se chegar a um diagnóstico e, a partir do dele é traçado um plano de tratamento”, alerta o Dr. Alberto Cordeiro, dermatologista especialista em cosmiatria, tricologia e laser à frente da Horaios Estética e Academia da Face, em São Paulo.
1 Identificação e dados pessoais
A identificação do cliente pode ser realizada tanto pelo profissional, como por um auxiliar. “Tal prática permite que se tenha uma primeira noção de quem atenderá, facilitando entabular aquela conversa inicial tão importante para o relacionamento profissional/cliente”, fala Edy. Nesse momento, você deve considerar:
. Nome/ Data de Nascimento: o nome completo do cliente, além de permitir o arquivamento do prontuário, estabelece uma relação afetiva e de confiança do cliente para com o profissional.
. Endereço: o endereço completo, inclusive com o telefone, é uma necessidade para garantir comunicação imediata com o cliente, em casos de complementação de informações, mudança de horário de consulta, cancelamento ou qualquer outro tipo de contato urgente.
. Idade: é importante o conhecimento da idade, pois existem certas afecções que incidem com maior frequência em determinadas faixas etárias. Por exemplo, a acne que é mais frequente na puberdade, durante a adolescência.
. Estado Civil: deve ser referido com veracidade o solteiro, o casado, o viúvo, e o divorciado, principalmente no que diz respeito a problemática psicológica que poderá intervir conforme o estado civil. “Indivíduos de ambos os sexos, conforme o estado civil, poderão apresentar conflitos emocionais decorrentes de vida instintiva sexual ou erótica, e também, as decorrentes da vida intelectual em seus múltiplos aspectos: ideal, vocação, econômico-financeiro, relação com o meio familiar, social e profissional”, observa Edy.
. Sexo: existe predileção de certas afecções por um dos sexos. O sexo feminino é mais predisposto à melasma, que pode surgir ao uso recorrente de anticoncepcional, estilo de vida, etc.
. Profissão: certas profissões podem predispor o indivíduo a determinadas afecções.
. E-mail/Instagram: as redes sociais são importantes ferramentas para você conhecer mais seu cliente.
. RG e CPF: para inserção de dados no sistema da clínica;
. Quem indicou.
Histórico e antecedentes
Chegou a hora de montar um questionário que o cliente deverá responder, com o objetivo de auxiliar o profissional na compreensão de seus cuidados, hábitos e sua rotina. Também vale perguntar sobre produtos que usa na pele, antecedentes alérgicos, medicamentos, histórico de doenças, cirurgias – com o objetivo de eliminar possíveis complicações durante os tratamentos estéticos e reduzir danos posteriores. Além dos dados pessoais, para controle interno dos cadastros, o profissional deve ter conhecimento amplo sobre a pele, para avaliar as características únicas de cada cliente. “Sabemos que a classificação universal dos tipos de pele é: normal, seca, mista ou oleosa, porém um tratamento não deve ser baseado somente nessa classificação. Como a pele está no momento do atendimento? É fundamental entender as reais necessidades que podem ser diversas, tais como: acne, hipercromias (manchas escuras), sensibilidade, sinais da idade (rugas e flacidez), lipodistrofia ginóide (celulite), estrias, gordura localizada…”, fala Patrícia.
Queixa principal
É importante deixar bem claro o motivo principal que levou o cliente à consulta. Sempre que possível, o relato da queixa deve ser registrado com as próprias palavras do cliente.
Técnicas de Avaliação da Anamnese
Basicamente são duas técnicas utilizadas na anamnese. Estas duas técnicas não são de todo independentes; frequentemente se juntam e se justapõem.
1. Técnica do interrogatório cruzado
O profissional da área da saúde conduz as perguntas, por exemplo:
• O que você gostaria de melhorar?
• Qual a região está instalada seu problema?
• A quanto tempo você percebe e/ou nota o problema?
• Já fez algum tratamento estético anterior?
2. Técnica de escuta
Se dá quando o cliente tem a capacidade de relatar com as próprias palavras suas preocupações pessoais.
Exame físico facial subjetivo e instrumental
O exame físico é feito pelo profissional, pois os termos são relacionados aos conhecimentos da área. “Geralmente, sucede a anamnese facial subjetiva com o objetivo de pesquisar sinais presentes”, fala Edy. As manobras clássicas são: inspeção visual, palpação e documentação fotográfica (uma boa fotografia deve ser padronizada, sem distorções ou distrações, bem enquadrada, iluminada, capaz de dimensionar e localizar o que se tenciona registrar e/ou comparar, de forma mais parecido com o que se vê com os próprios olhos). “Para começar, é feita a avaliação visual do cliente direcionada à região tratada, notando em especial fototipo, biotipo cutâneo, escala de Glogau, presença de acne, discromias, lesões cutâneas, cicatrizes”, diz a esteticista. Durante esse passo, se realiza a documentação fotográfica para o acompanhamento da evolução de tratamentos estéticos, assim como para a comparação entre os resultados. “Lembre-se de buscar sempre as mesmas condições de enquadramento e iluminação, e manter os parâmetros da câmera e usar o mesmo local aumentam a reprodutibilidade dos resultados.” A palpação fornece informações a respeito da firmeza da pele como a flacidez.
Há, ainda, a avaliação facial instrumental, realizada com equipamentos como lupa, luz de wood (que analisa distúrbios de pigmentação, a profundidade das manchas, presença de oleosidade e desidratação), analisador de umidade, oleosidade e elasticidade da pele (um sistema de impedância bioelétrica que analisa a hidratação da pele, níveis de oleosidade e oferece subjetivamente tendência à flacidez cutânea). “Os equipamentos são um suporte importante para o profissional que será capaz de elaborar um tratamento mais eficiente”, diz Edy. Antes de o profissional eleger os melhores procedimentos ou cosméticos, é importante saber quais tratamentos o cliente já realizou – um dos maiores erros é montar um programa de tratamento com recursos que o cliente não gosta ou nem acredita por já ter realizado. E, por fim, a anamnese deve ser atualizada e sempre consultada. “Nas lojas Anna Pegova, nossos profissionais que executam os procedimentos (esteticistas, biomédicas, farmacêuticas, fisioterapeutas e médicas), antes de qualquer tratamento, possuem um tempo reservado na agenda para conhecer e relembrar de cada cliente que será atendido. E, mesmo que haja clientes ‘imediatistas’ ou com curto tempo, o protocolo de atendimento não descarta o momento da avaliação objetiva. É muito comum realizar a anamnese somente no primeiro contato com o (a) cliente, mas em treinamentos e reciclagens com equipes, reforçamos a importância de sempre atualizarem cada ficha de cliente para que os tratamentos e os cosméticos sejam indicados pelo desejo e pelo diagnóstico de pele, não pelo modismo ou preço”, diz Patrícia.