Feminização facial minimamente invasiva: lacunas na literatura precisam ser preenchidas para ampliar o atendimento às pessoas trans

Por décadas, a Medicina subjugou os processos de transição de gênero. O sentimento de inadequação com o próprio corpo, que acomete pessoas trans, motivou pesquisas que culminaram em importantes inovações científicas, como a cirurgia de adequação genital realizada no Brasil há mais de quarenta anos.

No entanto, outros processos, já metodicamente organizados para pessoas cis, ainda não atingem plenamente esse público. É o caso dos procedimentos minimamente invasivos, em especial para a feminização facial.

Embora vários fatores influenciem, como as expectativas e incertezas da paciente, as barreiras financeiras e as características faciais subjacentes, já sabemos que os procedimentos estéticos minimamente invasivos são mecanismos eficazes e reversíveis para amplificar a expressão do gênero e a percepção social do gênero por outros indivíduos.

Os recursos já existentes são muitos: toxina botulínica, preenchimento com ácido hialurônico, tecnologias como lasers, ultrassom microfocado e radiofrequência já fazem parte da rotina de tratamentos estéticos nos consultórios. 

O que ainda faltam são mais pesquisas que determinem protocolos específicos para atender as demandas das pessoas trans. Ao pesquisar no Google Acadêmico pelo termo feminização facial – que inclui as opções cirúrgicas – o buscador retorna quase 14 mil artigos. Ao delimitar essa busca com termos como “minimamente invasivos”, esse resultado é 60 vezes menor – com cerca de 230 estudos.

A ampliação de pesquisas no campo permite que diretrizes claras, que não sejam pautadas nos modelos de experiências de pessoas cisgênero, sejam desenvolvidas para ampliar o escopo de possibilidades de tratamentos para pessoas trans. 

O cenário se complexifica ainda mais quando pensamos em trans não-binários, cujas demandas não se adequam aos gêneros em que tradicionalmente nos dividimos.

Protocolos simples como preenchimentos na área temporal, sobrancelhas e lábios e resurfacing da pele no terço inferior, podem ter grandes efeitos na percepção de gênero e na qualidade de vida de pessoas trans, especialmente durante o longo processo de transição. Matheus Manica @drmatheusmanica é cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Realizou estágio em cirurgia no Mills-Peninsula Medical Center, nos Estados Unidos. É pós-graduado em Dermatocosmiatria pela Faculdade de Medicina do ABC (SP) e professor de Estética na mesma instituição.

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