A ciência comprovou que a pele e o cérebro estão intimamente ligados e que, por meio do toque e da aplicação de certos ativos, é possível estimular neurotransmissores que despertam sensações de bem-estar. Ou seja, um novo conceito de tratamento que vai ao encontro de uma tendência que ganhou ainda mais força com a pandemia
Shâmia Salem (@shamiasalem)
Há alguns anos se falou sobre cosméticos que proporcionavam bem-estar. “Mas, é importante pontuar que o que se discute agora está relacionado à parte neural da pele. E que isso teve um start, um ponto de partida, com as descobertas do canabidiol, ou seja, da maconha medicinal ativando o sistema endocanabinoide para diminuir o processo inflamatório crônico cutâneo”, esclarece farmacêutica e bioquímica especialista em dermatocosmética Fernanda Chauvin, CEO da Ellementti Dermocosméticos. Para quem não está familiarizado com o tema, vale esclarecer que as substâncias extraídas da planta usada com fins medicinais influenciam esse sistema do organismo humano chamado endocanabinoide. “Ele possui receptores no cérebro e, também, espalhados por todo o corpo, em vários órgão e tecidos, e que tem como objetivo estabilizar o ambiente interno. Isso inclui equilibrar o apetite, a dor, a inflamação, o metabolismo, a qualidade do sono, o humor, a memória, a imunidade… Na prática, esse sistema endocanabinoide pode ser ativado naturalmente pelo organismo e, também, através dos produtos à base de cannabis medicinal, ajudando a regular uma série de processos fisiológicos”, explica a médica especializada em cannabis medicinal Jessica Durand, da Gravital Clínica Canábica. “Foi a partir desses novos estudos do canabidiol que houve uma tendência dos pesquisadores estudarem sobre os receptores que existem na epiderme, a camada mais superficial da pele; e, em paralelos, verificarem ativos que trabalham a parte neural, atuando junto aos neurotransmissores, falando de maneira muito exagerada, ok?, mas só para facilitar o entendimento, como um “antidepressivo like ou um antiansiolítico like””, exemplifica cuidadosamente Fernanda Chauvin.
Segundo a CEO da Ellementti, a ideia de seguir por esse caminho foi reforçada com o prêmio Nobel de Medicina de 2021 dado aos cientistas David Julius e Ardem Patapoutian, que desvendaram os receptores celulares por trás das sensações da temperatura e do tato. “Eles comprovaram que realmente há uma ligação íntima entre a pele e o cérebro. Na prática, isso significa que a nossa pele reage ao meio ambiente e também ao toque, liberando dopamina e outros neurotransmissores a nível cerebral, comprovando que aquela máxima “ficar com os nervos à flor da pele” seja verdadeira”, brinca Fernanda Chauvin.
Bem-estar em potes
Todo esse novo conhecimento levou à criação de ativos cosméticos que estimulam os receptores neurais da pele desencadeando sensações de bem-estar. “Essa informação, por si só, já é fantástica. Mas ela se torna ainda mais incrível e uma conquista fenomenal para a estética e para o profissional da área quando lembramos que a pele possui o mesmo tecido que dá origem ao cérebro e que o cérebro é formado pelo mesmo tecido forma o embrião, o que ajuda a explicar porque a pele é considerada o novo sistema nervoso periférico e libera ocitocina durante o toque do esteticista”, conta Fernanda Chauvin. Para quem não se recorda, a ocitocina é conhecida como o hormônio do amor e da felicidade por ter papel importante na facilitação do parto e da amamentação, além de ser comercializada de forma sintética para melhorar a interação social, deixar a pessoa mais amável, generosa, menos agressiva e ansiosa. “Há estudos que mostram que 15 minutos de massagem liberam 17% de ocitona. Os “ativos do bem-estar” vão estimular os receptores que liberam vários neurotransmissores, potencializando o efeito do toque do profissional durante o tratamento em cabine e na manutenção no home care, que é algo que as pessoas têm buscado cada vez mais. E, usar diariamente cosméticos com esses ativos do bem-estar permitem estimular regularmente os neurotransmissores ligados ao prazer, ajudando a combater problemas graves do nosso tempo, como a fadiga, o burnout, a ansiedade e a depressão, que, claro, sempre devem ter acompanhamento médico especializado e multidisciplinar”, reforça a CEO da Ellementti Dermocosméticos.
Direto ao ponto
A seguir, Fernanda Chauvin apresenta alguns ingredientes que atuam nos receptores neurais da pele, estimulando os neurotransmissores e trazendo sensação de bem-estar:
- Osmanthus fragrans Esse ingrediente libera o neutrotransmissor betaendorfina de maneira semelhante quando a gente malha ou se expõe ao sol, coisa que infelizmente fazemos pouco quando vivemos em grandes metrópoles, trabalhamos em home office ou estamos muito voltados para o interno, o que já vinha acontecendo com bastante gente antes mesmo da pandemia, não é mesmo?
- Mucuna pruriens Os indianos utilizam demais essa planta em pacientes que têm Parkinson porque ela libera dopamina, neurotransmissor relacionado à felicidade, humor e motivação, entre outras boas sensações.
- Aphanothense sacrum No conceito de ativos de bem-estar, essa é uma das grandes vedetes por estimular a liberação de ocitocina, que é um dos neurotransmissores que a gente mais tem falta hoje em dia.
- Prodízia A grande vantagem deste ativo está em liberar melatonina e, com isso, favorecer o sono, que é um elixir da beleza, juventude e bem-estar. “Quando você dorme bem, acorda com a pele bonita, descansa e bem-humorada, tranquila, relaxada. Afinal, é durante a noite que o organismo sintetiza colágeno, elastina, ácido hialurônico e realiza todo o processo de regeneração celular.
- Canabidiol like Assim como outros países, a lei brasileira ainda não permite o canabidiol para uso tópico, então, as empresas têm estudado plantas que ofereçam ações semelhantes na pele, que são chamados de canabidiol like.
Estresses, no plural
“Quando, ao longo do dia, a pele fica com prurido, descamando e levemente avermelhada, a ponto da pessoa acreditar que tem rosácea quando na verdade não tem, provavelmente é o estresse ambiental que está atuando contra sua saúde cutânea. Já quem tem uma rotina muito pesada ou pratica muito exercício, sofre do chamado estresse físico, que deixa a aparência acabada no fim do dia. E existe ainda o estresse emocional, que favorece o aparecimento de rugas e flacidez”, explica a farmacêutica Claudia Coral, vice-presidente da Galena Farmacêutica. Segundo ela, já existem ativos que contra-atacam esses três tipos de estresse – ambiental, físico e emocional –, trazendo bem-estar para a pele, o que se traduz em saúde e benefícios como combate à rosácea, acne, inflamação, melhora do brilho, equilíbrio da hidratação e afins. “Trouxemos para o mercado nacional ativos que foram lançados na In Cosmetics 2022, em Paris, que podem ser personalizados para cada tipo de estresse ou combinados para dois ou três deles”, esclarece ela, que cita alguns dos que mais vêm se destacando:
- Breeztel Obtido da brisa marinha de uma ilha da Polinésia, protege os telômeros contra os danos causados pelo estresse emocional, amenizando a liberação de cortisol, além de aumentar a síntese de colágeno e de citoqueratinas, que fortalecem a função de barreira.
- Telmeri É um peptídeo biomimético estruturalmente à curcumina e funcionalmente à turmerina, moléculas bioativas presentes na cúrcuma longa. Protege os telômeros contra o estresse ambiental causado pelo frio, calor, umidade ou vento através de três mecanismos exclusivos que interrompem o ciclo envolvendo a inflamação e o estresse oxidativo.
- Mitelion Rico em polifenois e antocianinas das folhas do alecrim e do fruto do mirtilo, protege os telômeros contra os efeitos da disfunção mitocondrial causada pelo estresse físico, como a prática de esportes ou uma rotina atribulada no trabalho, condição associada à uma pele sem energia, sem brilho e vitalidade. Na prática, mitelion auxilia na produção de antioxidantes endógenos, combatendo os radicais livres gerados pelo estresse, além de recarregar o potencial de membrana da mitocôndria e de estimular a sua renovação, aumentando a produção de energia para uma pele revitalizada.