As 4 maiores dificuldades no mercado da Estética

O mercado da Estética encontra alguns obstáculos que colocam a relevância e a seriedade da nossa profissão à prova. Se um profissional cobra 30 reais por sessão, por que esse preço é maior na sua clínica? E se outros lugares oferecem aquele recurso novo que está em alta, por que você não o tem ainda?

Com tantos “profissionais” prometendo milagres, é muito importante que estejamos preparados. Falo isso por que nesses 10 anos de experiência clínica e de contato com colegas, identifiquei as 4 maiores dificuldades que o profissional da Estética pode encontrar ao longo do caminho, e é isso que quero abordar.

1 – Dificuldade em estudar

O historiador Leandro Karnal menciona, em palestras e entrevistas, a seguinte frase: “informação não é formação”. Quando nos voltamos às nossas experiências profissionais, não restam dúvidas de que essa citação se aplica ao mercado da Estética e essa dificuldade decorre de alguns fatores:

Conflito de interesse

  • Desde artigos científicos que são comprados para beneficiarem determinado recurso até promessas infundadas de resultados instantâneos, o conhecimento pseudocientífico nos cerca.
  • Somos constantemente apresentados a novos recursos terapêuticos que o marketing se encarrega de vender como um milagre no tratamento de determinada afecção. E o grande erro é não saber diferenciar aquilo que se deve (ou não) levar para a própria prática clínica. 

Aqui entra oconflito de interesse, que é um dos fatores que mais levam à dificuldade em estudar na área da Estética. Existem artigos científicos, direta ou indiretamente, patrocinados por marcas com o propósito de propagar determinado recurso terapêutico, resultando em “evidência científica’ duvidosa.
Além disso, é importante ressaltar que o conflito de interesse parte, também, dos profissionais que leem estudos buscando uma resposta condizente com aquilo que se deseja aplicar na clínica. Dessa forma, estudar na Estética requer que o profissional olhe para as pesquisas de forma crítica, analisando se há algum possível conflito de interesse e qual é a relevância desse estudo.

Pesquisas relevantes 

Nem todos os sites que hospedam informações da área têm relevância científica. Por isso, saber a quais bases de dados recorrer é ponto muito importante, também. PubMEDScielo e Bireme são alguns recursos que tenho como aliados nos meus estudos e que indico para serem utilizados como fonte de pesquisa. No entanto, relembro a necessidade de verificar se há, ou não, algo que comprometa a relevância dos artigos, além de observar criteriosamente a metodologia utilizada.

2 – Dificuldade em empreender no mercado da Estética

O processo de começar um negócio do zero, certamente causa muitas inseguranças e dificuldades em qualquer área de atuação. No entanto, quando nos voltamos para a Estética existe um obstáculo que pode tornar esse processo ainda mais complexo e passível de erros.

Ensino puramente técnico

Um dos grandes problemas do ensino superior, em geral, é que o seu propósito não é formar profissionais autônomos, pois é meramente teórico. Nesse sentido, a nossa profissão está repleta de pessoas que entendem muito da parte técnica, dos recursos e das afecções, mas conhecem pouco sobre o que é preciso para manter uma clínica. A maioria dos profissionais da Estética não tem domínio sobre os três pilares principais para ter um negócio: fazer a gestão, ter um bom marketing e entregar resultados. Por isso, as grandes franquias quase sempre nos atropelam. Fluxo de caixa, marketing e gestão são coisas que acabamos aprendendo por tentativas e erros, às escuras. Por isso, uma das dificuldades que encontrei ao iniciar no mercado da Estética foi como conseguir gerenciar uma clínica.

3 – Dificuldade em entregar resultados

No fim das contas, o mais importante é entregarmos resultados. Mas por que isso é tão difícil?

Promessas de milagre

Um dos fatores que mais compromete a entrega de resultados é a enxurrada de propagandas enganosas feitas por tantos “profissionais” do mercado da Estética. Isso é um problema porque gera nos pacientes uma expectativa totalmente fora daquilo que é fisiologicamente possível. Por exemplo: resultados visíveis em uma sessão de rejuvenescimento ou emagrecimento instantâneo após um dia de tratamento estético.

É preciso entender que o profissional da Estética é um facilitador do processo de atingir os resultados desejados. Afinal, o sucesso de um tratamento decorre da associação de muitas condutas, inclusive a adesão do paciente às instruções de home care e hábitos de vida. Não é uma tarefa fácil ensinar aos nossos pacientes que aquele milagre que foi prometido pelo mercado não vai acontecer. O que podemos fazer é mostrar, por meio de estudos e comprovações científicas, que o processo de um tratamento estético pode ser demorado. E isso requer muita, muita paciência da nossa parte.

4 – Dificuldade de sobreviver no mercado da Estética

Abrir uma clínica é difícil, mas nos mantermos em um mercado onde a concorrência, por vezes, é desleal, é um desafio ainda maior. Além das promessas milagrosas, muitos profissionais vendem tratamentos a preços incoerentes. A internet está cheia de anúncios de sessões de drenagem linfática a 30 reais, para citar apenas um exemplo. Nesses casos, quem está pagando pela consulta é o próprio trabalhador, pois não é possível ter lucros assim.  Eu entendo que quem trabalha dessa forma, com preços irrisórios, está pressionado pelo desespero de manter o negócio. Por isso, entender de gestão é tão importante.

Modismos

Outra grande dificuldade que encontramos na nossa prática são os modismos. Costumo dizer que tudo que não foi inventado na área da Saúde em um ano é inventado 3x em um mês, na Estética. Novos recursos surgem com rapidez e perdem o seu status de inovação com essa mesma velocidade. Adaptando a fala do médico e professor Joffre Marcondes de Rezende à nossa realidade profissional, eu digo que:

Em todos os movimentos que se tornam moda na conduta Estética pode existir um princípio de verdade. O entusiasmo excessivo por uma ideia é que conduz a uma visão unilateral e deformada da realidade. Contra isso o profissional da Estética deve se precaver.

Conclusão: não existe outro caminho, a única saída são os estudos. No que se refere à Estética, precisamos entender que a atualização deve ser constante e precisa contemplar a gestão de marketing e finanças. E no que se refere ao mercado, precisamos ter consciência do nosso papel enquanto agentes transformadores. Devemos, cada vez mais, educar nossos pacientes para que essa cobrança por uma mudança de mentalidade também parta deles.

Dr. João Tassinary (@joaotassinary) possui graduação em Fisioterapia e em Biomedicina com ênfase em Estética, mestrado em Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade do Vale do Taquari – Univates, e doutorado em Medicina e Ciências da Saúde, na área de Clínica Médica, pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com período intercalar na Universidade de Barcelona, junto ao Hospital Duran y Reynals, no Campus de Bellvitge.

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