Em tempos de alta tecnologia, os ácidos não perdem jamais o posto de “queridinhos” de grande parte dos profissionais do setor da Saúde Estética; e seus efeitos justificam essa paixão. Entre os mais-mais está o retinóico, potente esfoliante capaz de renovar a pele e ainda prepará-la a fim de intensificar a ação benéfica de outras substâncias
Carmen Cagnoni (@carmencagnoni)
Os ácidos sempre foram (e são) muito utilizados para tratamentos da pele. Usados em maior ou menor concentração, de forma isolada ou em combos, eles propiciam inúmeros efeitos benéficos, como renovação celular, diminuição de rugas e linhas finas, melhora no aspecto de manchas.
A questão é que de tempos em tempos, alguns ácidos, ditos mais potentes, voltam a ser tema frequente na mídia em nas redes sociais e muitas clientes se encantam pelos resultados, imaginando que têm e podem usar, pois são indicados para tudo. Assim, “exigem” de profissionais da Estética que seja realizado um tratamento com essas substâncias. Alguns acatam o pedido e partem para a ação, sem levarem em consideração indicações corretas, bem como as contraindicações existentes.
No entanto, tal avaliação é fundamental para obtenção de resultados realmente satisfatórios para a cliente e, consequentemente, para a boa avaliação do trabalho profissional. Isso porque o uso de ácidos não resolve todos os problemas cutâneos. E há especificidades sobre cada um deles. Como o retinóico, por exemplo, que pode ser contraindicado em alguns casos, ou até substituído por outro cujos efeitos colaterais são mais amenos para a pele.
Sem contar que o uso de ácido retinóico tem suas normas para aplicação. Por exemplo: o uso do ácido puro ou manipulado, que demanda alta concentração do ativo, não deve ser utilizado por esteticista – no caso, a recomendação é direcionar a paciente para um dermatologista. Sem esse cuidado, problemas podem ocorrer criando situações complicadas tanto para cliente quanto para profissional. A internet está lotada de casos relatando isso.
“Os ácidos sempre estiveram em destaque nos consultórios dermatológicos e estéticos. São estratégias atemporais que, mesmo com toda a evolução dos tratamentos para a pele, ainda são os queridinhos de profissionais e clientes. Acredito que por serem tão importantes na Estética, os ácidos se reciclam com o intuito de diversificar o menu das clínicas e encantar os clientes. O problema, atualmente, é que cada ácido, com sua força química, pode ser melhor em uma determinada queixa ou perfil de pele do que em outra. E isso às vezes não é respeitado pela profissional, que utiliza o mesmo ácido de forma sistemática em qualquer tipo de pele trazendo frequentemente efeitos colaterais adversos”, pondera Silvana Simão (@silvanasilsimao), professora e palestrante expert em peelings, mestre em Promoção da Saúde.
Para evitar contratempos, conversamos com especialistas para entender as indicações e os cuidados a serem tomados no uso do retinóico, especificamente.
HISTÓRIA DE SUCESSO
Os derivados da vitamina A são um grupo de ativos-chave nos tratamentos dermatológicos. “O ácido retinóico, também chamado de tretinoína, a forma biologicamente ativa da vitamina A, foi a primeira substância que se mostrou efetiva no tratamento do fotoenvelhecimento, isso nos anos 80, e ainda é encarada como padrão ouro para o rejuvenescimento”, destaca a dermatologista Tainah de Almeida Silva (@dra.tainahalmeida).
Segundo a médica, ele é considerado um medicamento que pode ser prescrito pelo dermatologista para tratar desde espinhas, cravos, textura irregular da pele e poros abertos até manchas, fotoenvelhecimento e estrias. “O ácido retinóico estimula a renovação e proliferação celular da pele e leva ao seu espessamento. Com isso, sua textura e relevo ficam mais regulares e ela parece mais fina, pois a camada mais superficial da epiderme fica mais compacta pela renovação acelerada, mas na verdade a epiderme e a derme sem tornam mais espessas decido à síntese e deposição de colágeno e elastina. Isso é importante para reverter e prevenir os efeitos do envelhecimento cutâneo, além de melhorar o aspecto de linhas finas e clarear manchas, pela renovação celular e dispersão dos pigmentos. Por ter ação também de inibição da glândula sebácea, da queratinização folicular e atividade anti-inflamatória é um aliado importante no tratamento e cicatrizes de acne”, detalha.
Cristiane Boneta (@crisboneta), biomédica, palestrante, e pioneira no tratamento específico da pele negra no Brasil, além de premiada na última edição do Estética Business Awards com a estrela de diamante na categoria Profissional de Estética/Revelação, concorda e salienta que “desde o início da nossa profissão, os ácidos têm feito parte da nossa rotina clínica de atendimento como um perfeito aliado, ajudando a solucionar grande parte das queixas de disfunção estética. Com ação de renovação celular, firmadora da superfície cutânea, além de aumentar a produção do colágeno, está incluso na maioria do skincare de grande parte da população e, também em muitos atendimentos tópicos por profissionais da área da Saúde. O que poucos sabem é que este ativo vem sendo classificado como um fármaco e não pode ser administrado ou prescrito por nós, esteticistas”, afirma.
De acordo com a especialista, segundo as normas, ele é utilizado em concentrações de 1 a 12% em consultório médico – sendo a concentração mais praticada a de 8% -; e abaixo de 1% em home care. “É importante salientar que ele é tempo-dependente, ou seja, precisa ficar na pele de 4 a 8 horas para atingir os benefícios de peeling – no caso, a aplicação é feita no consultório e a remoção, em casa”, explica a professora Silvana Simão.
Essa normatização em relação ao uso se deve aos possíveis efeitos colaterais que precisam ser avaliados por um médico: “Algumas outras categorias profissionais conseguem utilizá-lo de acordo com resoluções de seus respectivos Conselhos. É muito importante que cada categoria trabalhe respeitando esta questão”, alerta a professora.
O R DA QUESTÃO
O grande inconveniente do ácido retinóico é a sua tolerabilidade, já que pode causar irritações cutâneas em alguns pacientes mais sensíveis. “Esse quadro muitas vezes é confundido com alergia, mas trata-se geralmente de um efeito colateral do tratamento, que pode ser minimizado com alguns cuidados, como hidratação e espaçamento das aplicações”, afirma a dermatologista Tainah de Almeida.
“No caso dos peelings, o ácido retinóico é bastante utilizado – se não for o mais, por sua versatilidade – é indicado para tratamento de linhas finas, cicatrizes de acne, estrias e melasma. Porém, ao longo dos anos, surgiram derivados mais modernos e menos irritantes para a pele que o ácido retinóico”, comenta a dermatologista Cintia Guedes (@cintiaguedesdermatologia).
É o caso do retinol. “O ácido retinol (all-trans-retinol) – forma alcoólica da molécula de vitamina A -, tem ação muito semelhante à da tretinoína com a vantagem de ter nível baixo de irritabilidade cutânea e poder ser administrado por nós, esteticistas, tanto em uso tópico em cabine quanto em uso diário para manter a pele da cliente sempre renovada, tratada e sadia”, detalha Cristiane Boneta.
Ainda segundo a biomédica, na pele negra o retinol tem ação muito importante e específica, pois além de todos os benefícios citados anteriormente, tem poder molecular menos irritante e mais estável, e é um composto muito hidratante. “Essa ação é fundamental para este biótipo de pele com teor menos hidratado, uma vez que estimula a renovação celular e a uniformização do tom. Sem contar que a pele negra tem alta produção de glândulas sebáceas e o ácido retinol também atua como regulador dessa ação, reduzindo a produção de sebo”, pontua.
- O retinol (ou vitamina A) é um precursor do ácido retinóico que demonstrou em altas concentrações ter efeito anti-idade semelhante, com menos efeitos adversos e melhor tolerabilidade. É encontrado em cosméticos e dermocosméticos, no Brasil em concentrações geralmente em torno de 0,1 a 0,3%, sendo que alguns podem ser utilizados durante o dia.
- O retinaldeído também é utilizado em alguns dermocosméticos anti-idade. Ele é um intermediário entre o retinol e o ácido retinóico.
CUIDADOS PÓS USO
A professora Silvana Simão lembra a importância da cliente submetida ao peeling de retinóico ser informada sobre os cuidados durante e após o tratamento. “Ela deve usar um sabonete suave para higienizar a pele, bem como uma pomadinha lubrificante/calmante e filtro solar acima de FPS 30 – a versão física garante ainda mais proteção. A pele depois da remoção do ácido se mostra levemente sensibilizada, e depois de 24 a 48 horas da aplicação se apresenta mais inflamada trazendo uma descamação discreta.”
A dermatologista Cintia Guedes reitera a atenção: “O ácido retinóico pode irritar a pele, causando descamação, ardência e vermelhidão. Por isso, o uso de hidratantes é indicado para minimizar esses efeitos. Além disso, esse ácido deixa a pele mais sensível e fina, ficando mais propensa a manchas. Dessa forma, o seu uso é restrito para o período noturno e o uso de protetor solar é indispensável”. Outro cuidado fundamental a ser repassado à cliente é a proibição de retirar as crostinhas que se formam no local da aplicação, devendo aguardar que se soltem naturalmente – e se abster do sol por 30 dias.
E pode ser usado no verão? “O ácido retinóico pode ser adotado em qualquer época do ano, tudo depende do perfil de quem vai utilizá-lo. Pessoas que gostam de se expor muito ao sol, que praticam esportes ao ar livre ou que não têm disciplina no uso de protetor solar não são bons candidatos. Por outro lado, quem faz uso de protetor solar corretamente e evita exposição solar poderá usá-lo mesmo durante o verão – ou em qualquer época do ano se morar nas regiões mais ensolaradas do país”, argumenta a dermatologista Cintia Guedes. E continua: “Vale lembrar que o uso indevido desse ácido provoca o aparecimento de vasos na pele, por isso é importante ter orientações do dermatologista”.
Para clientes que não tem perfil, a professora Silvana Simão orienta: “O ácido retinóico, embora maravilhoso, não é o único. Existem diversas possibilidades de trabalho com peelings químicos e quanto mais conhecermos as características de cada agente, melhor preparada estará a profissional para a escolha do ácido ideal, levando em conta as características da pele e as queixas da cliente. Eu, como profissional atuante na área de Estética há mais de três décadas, considero esta conduta a ideal.”
BOX
Os 5 ácidos mais utilizados, segundo a médica Cintia Guedes:
Retinóico: é o queridinho dos dermatologistas, pois ajuda a deixar a pele mais luminosa, promove renovação celular, estimula a produção de colágeno e melhora o aspecto de manchas, acne e rugas.
Glicólico: também é bastante usado para o rejuvenescimento da pele. Ele tem ação esfoliante e auxilia no tratamento de manchas e rugas finas.
Kójico: é uma excelente opção para o tratamento de manchas no verão e durante a gravidez.
Salicílico: é muito indicado para o tratamento da acne porque auxilia no controle da oleosidade e no tamanho dos poros.
Hialurônico: como é uma substância presente na nossa pele, responde pela manutenção da hidratação da pele e da sua função.