Usada há anos na medicina para cuidados atrelados à saúde, como infecções e feridas complexas, e também como estratégia para acelerar a recuperação de lesões em atletas de alta performance, agora o interesse na oxigenoterapia se volta para os benefícios da pele, aí incluídos pós-operatório de cirurgia plástica e otimização do funcionamento das células – Madonna e Justin Bieber são adeptos! Entenda como tudo isso é possível, as vantagens efetivas e de que forma essa tecnologia pode ser associada aos serviços oferecidos no seu espaço de estética.
Shâmia Salem (@shamiasalem)
Feridas que não cicatrizam sempre foram uma preocupação da ciência, pelo grave prejuízo à saúde e à qualidade de vida e o alto risco de letalidade. E é nesse contexto que a câmara hiperbárica se destaca como uma das alternativas mais efetivas em casos de ferimentos complexos, infecções, queimaduras extensas, necroses, pé diabético. O impacto na cicatrização é tão efetivo que a também chamada oxigenoterapia passou a ser usada como estratégia para acelerar a recuperação de lesões e melhorar a performance de atletas profissionais – o que justifica o fato de Neymar tem comprado não uma, mas duas dessas máquinas, que ficam em suas casas no Brasil e na França, para que ele tenha acesso diário a elas, inclusive enquanto joga seu videogame.
Diante de tantos ganhos não demorou para que a tecnologia fosse incluída no rol de tratamentos benéficos ao funcionamento da pele. A explicação pode ser resumida da seguinte forma: “Células se alimentam de oxigênio e de energia, e ambos são perdidos com o processo de envelhecimento e também diante de traumas, como o provocado por uma cirurgia plástica. Então, à medida que você oferece mais oxigênio e, consequentemente, mais energia às células, naturalmente elas funcionarão melhor. Em todos os sentidos: do combate aos radicais livres à liberação de toxinas passando pela ampliação da produção de colágeno”, esclarece a esteticista cosmetóloga Nany Mota, palestrante e professora de cursos livres de pós-operatório, que acumula mais de 30 mil atendimentos realizados e mais de 7 mil alunos pelo mundo e atua em parceria com cirurgiões plásticos no pré e no pós-operatório de intervenções estéticas. Foi com ela que conversamos e também com o pneumologista e especialista em longevidade saudável e estilo de vida Dr. Arthur Feltrin para esclarecer algumas das informações mais essenciais sobre a câmara hiperbárica. Acompanhe
- Por dentro da câmara hiperbárica
Se ao ouvir o nome do procedimento você imediatamente pensa em uma cápsula em que a pessoa entra de corpo inteiro, acertou. Apesar de ter inúmeros modelos no mercado, o equipamento basicamente possui um tipo de estrutura capsular hermeticamente fechada para que o ar liberado em seu interior seja aproveitado através da respiração e, também, do contato com a pele. “Ali se respira oxigênio 100% puro com pressão atmosférica mais elevada do que o normal. E, quando a sessão é finalizada após 1h30 a 2 horas, dependendo de cada caso, o corpo absorve mais oxigênio para os pulmões e ajuda a melhorar a circulação sanguínea estimulando o crescimento de células saudáveis e o controle de bactérias”, explica o doutor Arthur Feltrin.
- O que significa “oxigênio 100% puro”
A título de comparação, o ar que a gente respira diariamente na vida aqui fora da câmara hiperbárica tem apenas 21% de oxigênio; os 79% restantes são compostos por nitrogênio, poluição e outros gases. Essa quintuplicação da oferta de oxigênio com a hiperbárica faz com que o sangue fique mais nutritivo, e à medida que ele circula pelo corpo as células de áreas problemáticas terão seu funcionamento muito otimizado. “Em quanto tempo uma cicatrização pode ser acelerada a gente não sabe dizer, porque a câmara não atua sozinha e sofre a interferência de uma série outros fatores, como a alimentação da pessoa, a qualidade de seu sono, sua idade, padrão muscular, presença de doenças associadas, uso de medicações… Além, é claro, do número de sessões realizadas e a frequência entre elas. Mas, é fato que esse processo inflamatório será reduzido com a associação da oxigenoterapia”, afirma o médico.
- Hiperbárica e procedimentos estéticos
Segundo o pneumologista Arthur Feltrin, ao longo dos últimos tempos o FDA, órgão de saúde que atua nos Estados Unidos de forma semelhante à Anvisa aqui no Brasil, avaliou que pacientes que utilizavam câmara hiperbárica com propósitos de saúde apresentaram melhoras de outros padrões, como unhas, cabelos, pele, sono, humor e até de hormônios, inclusive os ligados à saciedade. “Há ainda uma melhora do padrão muscular, por isso a tecnologia é utilizada por tantos atletas de alta performance, como o jogador de futebol Neymar, o tenista espanhol Rafael Nadal e o nadador Michael Phelps. Todos têm sua própria máquina em casa com o intuito de recuperar os tecidos inflamados, diminuir a dor pós-treino, reduzir a fadiga, melhorar a energia ao longo do dia e a qualidade do sono”, completa o médico.
Em relação aos procedimentos estéticos, não há a recomendação de entrar na câmara hiperbárica com o propósito único e exclusivo de diminuir rugas, combater a flacidez ou a celulite. Porém, a tecnologia impacta, sim, no processo de envelhecimento como um todo e nas inflamações, que também estão envolvidas com a celulite e o acúmulo de gordura localizada. “Pense no nosso material genético como um cadarço, e na ponta plástica dele como o telômero, responsável por proteger o DNA. Com o passar do tempo, esse plástico assim como o telômero sofrem desgastes e ficam reduzidos; mas, com a câmara hiperbárica você evita esse encurtamento, que no caso do telômero impacta na prevenção de uma série de doenças e outras alterações, inclusive na pele”, esclarece o doutor Arthur Feltrin. “Constato na prática diária na minha clínica os benefícios de associar os cuidados pós-operatórios com a câmara hiperbárica ao atender uma média de 40 e 50 pacientes que fizeram cirurgia plástica. As pessoas não imaginam a agressão e a dor que uma lipo “seca” como a HD gera para criar a definição muscular proposta. São dois a três meses combinando sessões de hiperbárica prescritas pelo médico com o nosso trabalho de ir muito além da drenagem linfática e combinar ainda o uso de taping, aquela bandagem elástica e contensiva, com a fotobiomodulação do laser e do LED para desinflamar, tirar a dor e acelerar a recuperação”, conta a esteticista cosmetóloga Nany Mota.
- Indicações e contraindicações
O tratamento realizado com câmara hiperbárica é liberado pela Anvisa, reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina e de responsabilidade do médico, que, a partir do diagnóstico, faz a prescrição individualizada e mais adequada à cada paciente. Seguindo esses cuidados, a maioria das pessoas pode realizar o procedimento, até mesmo lactantes e quem teve Covid-19 grave com necessidade de oxigênio – em casos assim, há um estudo mostrando melhoras significativas do tecido pulmonar. Por outro lado, há contraindicações, e elas incluem grávidas, quem faz uso de quimioterápicos ou tem presença de ar entre as pleuras, uma condição conhecida como pneumotórax não tratada. Já que possui asma, bronquite, sinusite, claustrofobia, histórico de cirurgia torácica e lesões pulmonares ou está resfriada deve avaliar o uso desse artifício junto ao especialista.
- Efeitos colaterais e resultados
Algumas reações são esperadas e tidas como normais após as sessões de câmara hiperbárica. Entre as mais comuns estão desconforto auditivo e nos seios da face, tosse seca, alterações visuais transitórias e, em casos mais raros, convulsões devido à quantidade elevada de oxigênio no cérebro. Daí – de novo! – a necessidade de realizar a anamnese com um médico especialista, receber o diagnóstico e a prescrição da pressão de oxigênio para o seu caso e necessidade específica. Quanto aos resultados, eles variam de paciente para paciente, conforme suas condições atuais. “Em alguns casos já temos uma leve melhora nos primeiros dias. Mas, geralmente são necessárias de 15 a 30 sessões e elas podem ser realizadas até seis vezes por semana”, avisa o doutor Arthur Feltrin.
Drenagem não é mais suficiente no pós-operatório
Segundo a esteticista cosmetóloga Nany Mota, o crescimento do trabalho focado em pós-operatório, a evolução das cirurgias plásticas e suas associações com novos protocolos e equipamentos trouxeram outras abordagens para os atendimentos do profissional de estética, como o uso do tape e da eletroterapia. “Até um tempo atrás, após a cirurgia, o médico indicava apenas 10 sessões de drenagem. Mas, hoje, sabemos que podemos alcançar um resultado muito mais eficaz com meses de acompanhamento e associação de técnicas, considerando a recomendação que cada paciente tem. E, dependendo do caso e das condições financeiras, o pós acontece de maneira ainda mais otimizada quando se associa a esses cuidados estéticos a câmara hiperbárica”, completa ela.
Regras da câmara hiperbárica
√ para favorecer o contato do oxigênio 100% puro com a pele, a pessoa entra na máquina usando uma roupa ou avental de algodão;
√ esse oxigênio não possui cheiro nem provoca qualquer tipo de dor, porém, nas primeiras sessões pode-se sentir uma alteração na pressão dos ouvidos semelhante à experimentada em viagens de avião. Mas, basta bocejar ou provocar uma tosse para a sensação melhorar;
√ assim como o ar respirado fora do equipamento, o do lado de dentro também não possui cheiro;
√ o tratamento começa com uma pressão atmosférica mínima, que vai progredindo gradualmente a cada nova sessão. Daí a importância da anamnese;
√ é contraindicado entrar na câmara em jejum ou se tiver voado nas últimas 24 horas;
√ pensando em conforto, alguns equipamentos possuem uma tela de tevê;
√ e há modelos de maquinário individual, para duas pessoas ou até para grupos maiores.