A inflamação nas terapias capilares

Dentre os sinais clínicos mais estudados na área médica a inflamação tem um destaque importante. Presente em um conjunto absolutamente incontável de patologias de todos os sistemas corporais, a inflamação também está vinculada com um grande número de problemas dos cabelos e do couro cabeludo. Na verdade, creio que apenas alguns tipos de eflúvio ou alterações da haste capilares não estejam vinculados a quadros inflamatórios. 

Clinicamente a inflamação do couro cabeludo pode se mostrar de forma clara, com eritema, edema, prurido e desconforto ou dor. Doenças como o líquen plano pilar, as foliculites e as dermatites alérgicas ou irritativas são exemplos de quadros sintomáticos, mas há situações em que a inflamação não é motivo de desconforto para os pacientes, como na alopecia androgenética ou na areata, quando pode ser silenciosa.

Recentemente ministrei um curso online sobre Inflamação em Tricologia e Terapia Capilar. Estudar para montar essa aula foi de suma importância para que eu pudesse fazer uma avaliação mais importante desse sinal clínico. 

Quando faço uma avaliação de couro cabeludo e percebo que se trata de um couro cabeludo inflamado, em especial quando realizo o exame de tricoscopia, quando o paciente acompanha as imagens de seu couro cabeludo sendo projetadas em um monitor, as perguntas que mais escuto são:

1- Por que meu couro cabeludo está inflamado? (ou uma versão diferente da mesma pergunta: o que causa essa inflamação?),
2- Essa inflamação causa queda de cabelos?3- Como tratar essa inflamação?
3- Como tratar essa inflamação?

Para responder essas perguntas, primeiramente devemos entender que a inflamação pode causar queda de cabelo, mas também pode ser um sinal que surge concomitantemente com a queda capilar, sendo, assim como a perda dos fios uma consequência da fisiopatologia da doença que acomete o paciente. 

Numa definição que lí recentemente, o Professor José Carlos Tavares Carvalho define inflamação da seguinte forma: Inflamação é uma resposta protetora imediata que ocorre nos tecidos circunjacentes, sempre que há lesão ou destruição celular. O processo inflamatório envolve uma série de fenômenos que podem ser desencadeados não só por agentes infecciosos, como também por agentes físicos (radiação, queimadura, trauma), químicos (substâncias cáusticas), isquemia e interações antígeno-anticorpo. Cada estímulo provoca um padrão característico de resposta que, apesar da diversidade e complexidade dos mediadores químicos, apresentam variação relativamente pequena.

Se pensarmos na inflamação como uma resposta protetora do organismo, passamos a olhar a inflamação de uma forma diferente. Natural que ela pode, dependendo da gravidade, do sistema corporal e da causa ser motivo de sofrimento, mas até que se prove o contrário é uma forma de reação de nosso corpo a um fenômeno agressivo originado por algo externo ou interno.

Então, as respostas que nossos pacientes merecem é a de que a inflamação é um sinal que nos mostra o caminho para a melhor compreensão da doença que o acomete. Ela nos ajuda a definir, por pior que seja, um diagnóstico e um prognóstico, além de nos dar a medida da intensidade de nossa abordagem terapêutica e, naturalmente, dependendo de sua causa e diagnóstico a inflamação causa queda de cabelo.

A presença dela pode falar sobre a atividade da doença e sua eliminação pode nos dar uma informação de que a doença se foi ou está em remissão.

Devemos tratar um quadro inflamatório de couro cabeludo? Sim, sempre, independentemente da causa. E mais, qualquer alopecia reduz sua atividade mediante controle da da inflamação. Então, a atenção do profissional diante do controle da inflamação seja atuando em sua causa seja nela mesma é obrigatório.   

A terapia capilar, nesse sentido, tem sido uma excelente parceira da tricologia. uma vez que uma grande gama de pacientes tem seu quadro bem controlado com abordagens cosméticas e com laser de baixa potência. Poder contar com abordagens que poupem o uso de medicamentos e que sejam menos promotoras de efeitos adversos é importante. Ainda assim certos casos pedem uma abordagem medicamentosa firme e efetiva e o profissional precisa reconhecer essa necessidade para não permitir com que seu paciente sofra com consequências irreversíveis dos quadros inflamatórios. 

Referências:

Jain N, Doshi B, Khopkar U. Trichoscopy in alopecias: Diagnosis simplified. Int J Trichol 2013;5:170-8.
Miteva M, Tosti A. Arch Dermatol. 2012;148(1):91-94.
Pratt, C. H., King, L. E., Messenger, A. G., Christiano, A. M., & Sundberg, J. P. (2017). Alopecia areata. Nature Reviews Disease Primers, 3, 17011. doi:10.1038/nrdp.2017.11

Dr. Ademir Carvalho Leite Júnior CRM SP: 92.693

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