Mesmo sendo um dos procedimentos mais buscados no Google nos últimos anos, discutido a exaustão nas redes sociais e festejado em sequências de fotos e vídeos, ainda há muita fake news e dúvidas envolvendo a harmonização – que, por tamanho sucesso, já deixou de ser só facial para também ser corporal. Para colocar tudo às claras e ajudar a aumentar o seu repertório junto ao cliente, conversamos com vários especialistas sobre as principais perguntas ouvidas por eles. Acompanhe.
Shâmia Salem (@shamiasalem)
1. Harmonização facial serve apenas para deixar o rosto mais harmônico?
Esse é o ponto principal, mas não o único. “Ao melhorar a simetria entre as estruturas da face você produz mais equilíbrio entre elas e, consequentemente, rejuvenescimento. Assim, podemos afirmar que a harmonização proporciona beleza e juventude”, esclarece o dermatologista Ivan Rollemberg, de São Paulo.
2. E a harmonização corporal, tem qual objetivo?
A proposta é semelhante à da harmonização facial, ou seja, conquistar um corpo mais harmônico. Isso significa reduzir medidas, gordura localizada, celulite e flacidez, além de melhorar o tônus muscular. Dependendo do caso, há quem complemente o resultado com procedimentos cirúrgicos (o mesmo vale para a face) e intervenções odontológicas, como clareamento e colocação de lentes de contato nos dentes, entre outros.
3. A harmonização facial tem outros nomes?
Ela também é conhecida como volumização, reestruturação e MD Codes. “Esse último faz referência a um reconhecido código de pontos que permite mapear os pontos que dão sustentação ao rosto com base nos critérios da “matemática da beleza”, que se inspira no equilíbrio e na harmonia da proporção áurea. Essa, remonta à noção do belo que inspirou filósofos e, principalmente, artistas renascentistas, como Leonardo Da Vinci e Michelangelo”, esclarece o dermatologista Otávio Macedo, de São Paulo.
4. O MD Codes é uma espécie de GPS na harmonização facial?
Sim, mas não só. Segundo o doutor Otávio Macedo, a partir desses códigos o especialista tem precisão e, consequentemente, praticidade e rapidez para realizar o tratamento. Porém, outro ganho é o resultado mais natural, já que os cálculos do MD Codes levam em consideração o formato individual de cada rosto, seus pontos particulares de flacidez e de redução de gordura e de massa óssea.
5. O que explica a febre da harmonização? É só a novidade pela novidade?
“De jeito nenhum! A padronização da beleza já não é mais aceita. E é aí que a harmonização ganha, por estar alinhada à tendência de oferecer tratamentos personalizados e que respeitam a beleza individual. A harmonização não se limita a trabalhar uma única parte do rosto, por mais que o cliente insista que está ali o motivo de sua insatisfação”, destaca a biomédica esteta Susanne Pries, do Rio de Janeiro.
6. Quais procedimentos são usados na harmonização facial?
“Pensando que o objetivo é melhorar ângulos, assimetrias, realçar pontos de beleza e promover uma harmonia, então pode-se combinar uma série de procedimentos, entre eles preenchedores, toxina botulínica, bioestimuladores, fios de PDO e de sustentação, laser, microagulhamento, skinbooster…”, lista o biomédico esteta Raphael Paulo, da Raphael Paulo Estética Avançada, em São Paulo, e professor de cursos de especialização em biomedicina estética, farmácia estética e enfermagem estética na Faculdade Ibeco.
7. E na harmonização corporal, quais tratamentos podem ser combinados?
“Ultrassom microfocado, radiofrequência, criolipólise, bioestimuladores de colágeno, ondas eletromagnéticas, preenchimento, fios de PDO e de sustentação… Não há uma receita. A associação é feita com base nas opções que o profissional tem a disposição em seu espaço e conforme as necessidades de cada paciente”, diz a biomédica esteta Susanne Pries.
8. Como é feita a análise do rosto para entender o que precisa ser trabalhado para atingir a harmonização?
A dermatologista Iracema Bazzo explica que esse estudo deve ser bem detalhado, e levar em conta a idade do paciente, mas também, e principalmente, o formato do rosto visto de diferentes ângulos, a movimentação muscular ao falar e se expressar e as estruturas internas, já que é natural que com o passar dos anos haja um desgaste e uma redução da quantidade de osso e de gordura.
9. Para que se preocupar em reestabelecer a perda óssea e de gordura do rosto?
Quando essas estruturas diminuem, a pele que está por cima perde sua base de sustentação e cai. “Daí é que surgem os afundamentos em algumas áreas e a flacidez, que deixam os olhos encovados, fazem as bochechas caírem, criam uma depressão nas têmporas. Esse esvaziamento das têmporas, por exemplo, derruba a cauda das sobrancelhas, enquanto a queda da bochecha empurra para baixo tudo o que está debaixo dela. Daí o canto dos lábios caírem, formando o sorriso triste, o bigode chinês e a sensação de que o rosto está derretendo”, completa a médica Iracema Bazzo.
10. Por onde o trabalho da harmonização deve começar?
Segundo o biomédico esteta Raphael Paulo, assim como o plano, o cronograma também é individual, pois leva em consideração as necessidades que cada paciente tem. “Mas também é interessante considerar o que é prioridade para ele, para que se tente resolver logo de cara o que mais o incomoda, favorecendo a autoestima. Mas, regra geral, o foco inicial é na reestruturação, a partir dos pontos de sustentação da face. Depois, o cuidado pode se concentrar no contorno facial, nas áreas que precisam ser preenchidas e na musculatura que deve ser relaxada, para amenizar as rugas. Por fim, geralmente é feito o embelezamento e a melhora da qualidade da pele, que pode incluir o tratamento de manchas e olheiras, estimular o colágeno, promover a hidratação profunda…”, completa ele.
11. Para ser harmônica, a face precisa ser simétrica?
“Não necessariamente. Especialmente quando falamos de uma população tão miscigenada como a brasileira. Claro que sempre há quem queira mudar as feições, geralmente tendo como referência alguma celebridade. Diante disso, é muito importante alinhar as expectativas, conversar bastante e abertamente, inclusive para entender as motivações que estão por trás da ânsia de mudar. Porque o risco de se frustrar com o resultado é grande. Foi o que aconteceu com o cantor Lucas Lucco, que fez harmonização em 2019 e chegou a dizer que não se reconhecia no espelho”, lembra o biomédico esteta Raphael Paulo.
12. O resultado da harmonização é definitivo?
Não. A durabilidade vai depender do tempo de duração de cada procedimento realizado, bem como da quantidade de substâncias e de sessões feitas e as áreas em que o tratamento foi realizado. “Mas, partindo do princípio que entre as opções usadas estão a toxina botulínica e o preenchimento, pode-se dizer que há retoques que precisarão ser feitos a partir de 4 a 6 meses e outros até 2 anos depois”, calcula a biomédica esteta Susanne Pries.
13. Quanto custa fazer uma harmonização?
A biomédica esteta Susanne Pries diz que o preço varia demais, já que o cálculo é feito com base nos procedimentos que vão ser realizados, na quantidade de doses e de sessões necessárias de cada tratamento.
14. E caso o paciente se arrependa da harmonização, dá para resolver?
Dependendo do procedimento realizado, é possível tentar reverter o efeito dele. O ácido hialurônico, por exemplo, pode ser dissolvido com a aplicação no mesmo lugar de uma enzima chamada hialuronidase. E o efeito da toxina, com algumas tecnologias. Porém, o ideal é evitar que a pessoa se arrependa ou se frustre com o resultado, inclusive para você também não se desgastar. E o momento de cuidar disso é durante a anamnese, deixando muito claro sobre as possíveis ações e limites do procedimento.
15. A enzima hialuronidase usada para dissolver o ácido hialurônico no caso de o paciente pedir para reverter o preenchimento pode deixar pele sobrando ou causar flacidez?
A dermatologista Tatiana Mattar, de São Paulo, conta que geralmente isso não acontece porque quem se arrepende faz isso logo depois do tratamento, não dando tempo de a pele distender. “Mas, o maior risco que eu vejo nessa história toda é a chance de ocorrer uma reação alérgica super séria ao se usar uma grande quantidade de hialuronidase. Afinal, a substância é indicada para fazer pequenas correções. Para ter ideia, já vi gente indo parar no pronto-socorro e outras ficando com depressões inestéticas no rosto por causa da hialuronidase”, alerta a médica. Por tudo isso, ela acredita que o ideal seria esperar 1 ano, 1 ano e meio para o preenchimento ser absorvido naturalmente pelo corpo. “Mas, se a pessoa estiver desesperada, ela deve voltar no profissional que a atendeu, para que conversem sobre a melhor solução”, completa.
16. Como atingir uma harmonização facial realmente harmoniosa?
Para o biomédico esteta Raphael Paulo, o primeiro e mais importante cuidado é garantir que o plano de tratamento respeite as particularidades e os desejos de beleza do paciente. “E esclarecer que a harmonização não pressupõe transformar nem mudar as feições, mas, sim, repor volumes e curvas perdidas com o tempo. Para deixar o rosto mais leve, rejuvenescido e com aparência natural”, lembra ele.
17. Quais áreas do rosto e do corpo podem ser trabalhadas na harmonização?
Olheiras, lábios, bochechas, testa, queixo, sobrancelhas, contorno facial, bumbum, interno de coxas e de braços, pescoço, cintura… Enfim, todas as que estiverem relacionadas à conquista da harmonia em cada paciente específico. E cada uma das áreas trabalhadas deve receber produtos compatíveis com a espessura, a movimentação do local e a ação desejada, como dar sustentação, volumizar, reposicionar, projetar, promover efeito lifting ou de afinamento.
18. Dá para começar e já finalizar a harmonização num só dia?
“Geralmente, o plano é dividido em etapas porque é preciso respeitar os procedimentos que podem ser realizados juntos e os que devem ser feitos em momentos diferentes, para que um não prejudique a performance, o efeito e até a durabilidade do outro. Porém, dependendo do caso, alguns profissionais preferem fazer tudo em um dia e nos retornos realizar pequenos retoques”, esclarece o biomédico esteta Raphael Paulo.
19. Quais os benefícios estéticos alcançados com a harmonização?
Os ganhos são diversos. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica listou alguns deles:
- melhora nas funções e expressões de músculos faciais;
- diminuição das marcas de expressão e do bigode chinês;
- mais definição da mandíbula;
- ajustes no nariz;
- diminuição das olheiras;
- redução da papada;
- correção do tamanho do queixo e testa.
20. Muitos procedimentos podem ser combinados para fazer a harmonização facial, mas por que o preenchimento com ácido hialurônico é o principal deles?
Essa predileção acontece pelas diversas possibilidades de uso do preenchedor. “O ácido hialurônico tem a função de preencher compartimentos da pele e, portanto, volumizar determinadas estruturas para deixá-las mais harmônicas em relação às demais ou restaurar volumes que foram absorvidos, para, por exemplo, aumentar o tamanho do queixo ou reposicionar as bochechas de quem emagreceu demais”, exemplifica o dermatologista Ivan Rollemberg.
21. Qual o tempo de recuperação na harmonização?
Para a biomédica esteta Susanne Pries, essa é outra vantagem do método. “Por usar procedimentos que não tiram o paciente de sua rotina, o máximo que se deve fazer é preciso evitar atividade física intensa no dia do tratamento”, completa ela.
22. Quais os riscos envolvidos na harmonização?
“Apesar dos procedimentos serem considerados seguros, é importante que o profissional seja capacitado para realizar a técnica corretamente e que ela seja realizada em condições adequadas de higiene. Caso contrário, há riscos de provocar, por exemplo, obstrução do fluxo sanguíneo e necrose de tecido, deformação no rosto e infecções, todos com desdobramentos graves”, alerta biomédica esteta Susanne Pries.
23. Por que não resolver a queixa de maneira pontual, por exemplo, apenas preenchendo o sulco nasogeniano, em vez de fazer a harmonização facial?
Nesse caso específico, se preocupar apenas em encher o vão causado pelo sulco pode deixar o terço inferior mais pesado e fazer com que ele caia, dando a sensação de que o rosto está derretendo. “No conceito da harmonização, a escolha do método também leva em conta o que fez o chamado bigode chinês aparecer, como a diminuição da massa óssea na região das bochechas, que faz os tecidos caírem e dobrarem sobre o ligamento que forma o sulco, que começa nas laterais do nariz, passa pela boca e termina no queixo. Nesse caso, o ideal poderia ser usar um preenchedor com ácido hialurônico de alta coesividade sobre o osso para simular o aumento dele e, assim, resolver o problema sem volumizar a região”, diz a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. Porém, se a base do problema estiver na redução natural da gordura das bochechas com o passar dos anos, a tática muda e é preciso aplicar um ácido hialurônico mais maleável para repor a perda e, consequentemente, melhorar o sulco.
24. Quando há o risco da harmonização se transformar numa demonização facial, como dizem por aí?
Segundo o cirurgião plástico Ricardo Almeida, de Santos (SP), a diferença está no bom senso do profissional de não querer transformar o paciente; e do paciente, de não querer ser transformado. “Para mim, harmonização é sinônimo de equilíbrio, por isso algumas regras e cálculos científicos devem ser seguidos. E essa equação sempre deve ser feita com base nas características pessoais e individuais de cada paciente, para que a gente consiga atingir a melhor versão dele. Caso contrário, ao reproduzir, por exemplo, uma boca tão linda quanto a da Angelina Jolie na Mulher Maravilha Gal Gadot o resultado será desastroso, já que as proporções faciais das duas são absolutamente diferentes”, compara o médico.
25. Em quanto tempo o resultado da harmonização aparece?
Tudo depende dos procedimentos que serão utilizados. “Regra geral, o resultado do preenchimento e dos fios de sustentação é imediato e o da toxina botulínica aparece em até 15 dias. Além do efeito mecânico instantâneo, os fios de sustentação também estimulam o colágeno, o que fica visível após 3 meses”, calcula o dermatologista Ivan Rollemberg.
26. Homem também pode fazer harmonização facial?
Com certeza. “A harmonização masculina pode ser realizada com os mesmos procedimentos utilizados em mulheres. Porém, hoje já temos muito bem estabelecidos os pontos de aplicação de substâncias como preenchedor, toxina botulínica e bioestimuladores de colágeno em homens e mulheres, já que eles variam de acordo com as características de gênero. E, embora tenham semelhanças no envelhecimento e nas indicações terapêuticas, as necessidades do homem, suas expectativas e seus objetivos nos resultados são diferentes do das mulheres”, destaca o dermatologista Renato Lima.
27. O que homens mais buscam na harmonização facial?
“Eles querem essa “nova estética masculina” que usa procedimentos para tornar o rosto mais masculino, com feições mais marcadas e mais atraentes. Regra geral, os desejos costumam mudar com a idade. Os mais jovens tendem a querer eliminar elementos femininos do rosto e características que parecem infantis; enquanto os maduros desejam recuperar o contorno facial perdido devido com o tempo, bem como melhorar os traços”, conta o dermatologista Renato Lima.
28. Em busca de um visual mais harmônico, vale incluir até o preenchimento labial no plano de harmonização masculino?
De acordo com o dermatologista Renato Lima, tudo é aceito no rosto masculino, até o preenchimento labial. “Desde que realizado de maneira sutil e respeitando o tamanho dos lábios, sem fazer qualquer tipo de projeção”, esclarece o médico.
29. Por que tanta gente se diz arrependida de ter feito harmonização?
“Cada caso é um caso. Mas, de maneira geral, o que se vê é que boa parte dos arrependimentos estão ligados ao uso exagerado de algum procedimento, em especial do preenchimento feito com ácido hialurônico. Harmonização preconizar fazer, por exemplo, reposição de volumes perdidos ou reestruturação de perda óssea e não um embelezamento a partir do aumento excessivo do volume de certas partes do rosto. Daí a importância de o profissional ter conhecimento técnico e bom senso estético para não pesar a mão”, reforça a biomédica esteta Susanne Pries.
30. Onde mora o sucesso da harmonização?
“Ele está na satisfação do paciente. Beleza é um conceito subjetivo, dependendo dos olhos de quem vê. Por isso é importante ouvir a pessoa e entender o que ela quer. Porque em estética a gente não convence ninguém, nós sugerimos a partir das reclamações ouvidas na anamnese. Oferecer transformação é uma fronteira que jamais deveria ser cruzada”, acredita a biomédica esteta Susanne Pries.