Mesmo sendo um dos procedimentos mais realizados no Brasil, ficando atrás apenas da toxina botulínica, segundo ranking da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, e ganhado ainda mais fama por seu uso na harmonização facial, procedimento queridinho das celebridades, muita gente ainda confunde a ação do ácido hialurônico e pensa que ele é uma opção à toxina. Como você certamente vai ser questionado sobre essas e outras informações e precisará esclarecer uma série de fake news envolvendo o ativo, elaboramos o material a seguir para te ajudar a sentir-se mais preparado quando for colocado no “paredão” por clientes
Shâmia Salem (@shamiasalem)
1. O ácido hialurônico funciona apenas como preenchedor?
Não. Hoje, os laboratórios oferecem o ativo injetável em diversas composições, o que permite que ele seja usado com as funções de hidratar, preencher e dar sustentação à pele. “Se o objetivo for hidratação, o ácido hialurônico é injetado na camada mais superficial da pele, podendo ser aplicado inclusive nos lábios quando eles estão muito ressecados e marcados. Já a função preenchedora é utilizada quando queremos dar mais volume em uma região ou ocupar o espaço deixado pela perda de massa óssea e de gordura que acontecem com o envelhecimento e o emagrecimento, por exemplo. Por fim, para uma ação de lifting a substância é injetada no osso, em pontos específicos de sustentação”, esclarece a dermatologista Larissa Hanauer, da Clínica Adriana Vilarinho.
2. Qual a função do ácido hialurônico de uso tópico?
“Ele age de maneira completamente diferente da versão injetável, já que nunca vai preencher uma ruga ou suavizar um sulco e seu uso é focado em hidratação. Que, aliás, é excelente e pode ser adotado em peles de todos as idades e tipos, das jovenzinhas às maduras, oleosas, sensíveis, sensibilizadas ou desidratadas. Daí o ácido hialurônico tópico ser uma ótima escolha para quem quer cuidar bem da pele e envelhecer melhor, e isso tanto para tratamentos estéticos quanto home care”, avisa a esteticista Taciana Ferigolli.
3. O ácido hialurônico pode ser usado sem prejuízo em peles oleosas?
Totalmente. “A molécula do ácido hialurônico não é voltada para o tipo de pele, e, sim, para a função de hidratar o tecido. Sendo assim, o que vai dizer se a substância pode ou não ser aplicado em uma determinada pele é o veículo usado no produto em que ela está inserida, como um creme para pele seca ou um sérum para a pele oleosa”, esclarece a esteticista Taciana Ferigolli.
4. Como argumentar com a cliente que confunde ácido hialurônico com toxina botulínica?
A confusão geralmente acontece em torno do uso das substâncias e envolvem a crença de que se pode escolher entre uma e outra. “Além de terem indicação e resultados distintos, os procedimentos podem ser complementares em alguns casos. Para fazer a indicação, levamos em conta quatro fatores: a pele, a camada de gordura, a musculatura e o estado dos ossos na região. Regra geral, o ácido hialurônico pode ser usado quando há perda óssea e de gordura, para promover sustentação e volumização; enquanto a toxina botulínica é utilizada para relaxar os músculos e evitar que eles se contraiam, “quebrando” a pele e formando rugas”, resume a dermatologista Tatiana Mattar. Outras diferenças importantes estão relacionadas à durabilidade e a manutenção do resultado. “A duração da toxina varia entre 4 e 6 meses e a do preenchimento, de 1 a 2 anos, dependendo da concentração usada. Já a reaplicação do ácido acontece em doses menores do que a inicial, porque, na prática, é como se você enchesse um copo de água e deixasse evaporar. Para mantê-lo cheio, você vai completando aos poucos, e não espera esvaziar por inteiro; ao passo que para a toxina manter seu efeito ela precisa ser reaplicada por completo”, esclarece o dermatologista Daniel Coimbra.
5. Quais os sinais de que a pele está perdendo ácido hialurônico?
A partir dos 25 anos o organismo vai perdendo a capacidade de produzir o ácido hialurônico. E esse processo é acelerado por fatores como exposição exagerada ao sol, falta de cuidados com a pele, poluição e má alimentação. Segundo a fisioterapeuta dermato-funcional Ana Júlia Graf, entre os primeiros sinais de que a produção da substância começa a diminuir estão o ressecamento, a perda da elasticidade, as linhas aparentes e a falta de sustentação cutânea. “Não poderia ser diferente, já que o ácido hialurônico é o maior hidratante do corpo, está presente em cada milímetro da pele e até no tecido adiposo e nos músculos, fazendo com que os tecidos fiquem maleáveis e firmes. Sem esse ativo a gente não tem formação de elastina”, reforça ela.
6. Procedimentos estéticos e dermatológicos são capazes de repor o ácido hialurônico perdido pela pele com o passar do tempo e as agressões externas?
Com certeza! “A molécula do ácido hialurônico é capaz de atrair e de reter a água ao seu redor. Isso explica por que o ativo não só promove uma hidratação cutânea profunda, como também redensifica a pele e favorece a renovação dérmica”, diz a esteticista Taciana Ferigolli.
7. Qual a relação do ácido hialurônico com o colágeno?
A dermatologista Larissa Hanauer diz que não é possível calcular a perda de ácido hialurônico pela pele, como já sabemos em relação ao colágeno, cuja redução gira em torno de 1% ao ano a partir dos 30 anos de idade e nos primeiros cinco anos da menopausa essa perda sobe para 30%. “O mais importante a saber é que onde tem colágeno, também há ácido hialurônico; e que a partir dos 25, 30 anos, já começamos a perder ambas as substâncias. E isso impacta não só na beleza, mas também na qualidade de vida. Para se ter ideia, em tornos dos 60 anos, a perda não reposta de ácido hialurônico entre a pele e os vasos sanguíneos faz com que qualquer batidinha deixe a região roxa, já que o ácido hialurônico funcionaria como uma espécie de espuma, reduzindo os impactos. O nome dessa condição é dermatoporose, que remete à osteoporose por levar à uma perda, não de osso, claro, mas das funções protetoras da pele”, explica a médica, que, em nome da prevenção, recomenda o uso de hidratantes corporais à base de ácido hialurônico a partir dos 30 anos de idade.
8. Ácido hialurônico tópico é tudo igual?
Não. Assim como a versão injetável, a tópica possui moléculas de diferentes tamanhos. Se você pensou em nanotecnologia e acha que quanto menor for a molécula, melhor será a ação dela na pele da sua cliente, veja o que a dermatologista da Clínica Adriana Vilarinho diz sobre isso: “Enquanto a molécula grande, que a gente chama de alto peso molecular, não consegue penetrar na pele, a pequena, de baixo peso molecular, pode carrear outras substâncias para a pele que a gente não quer, provocando um processo inflamatório indesejado, claro. Diante disso, o ideal é optar por um ácido hialurônico de médio peso molecular. Mas, para se certificar disso, só mesmo falando com o fabricante, já que esse tipo de informação não é descrita em bula nem em rótulo”.
9. E ácido hialurônico injetável, é tudo igual?
“Não! Há diferentes densidades do ativo no mercado, e cada uma tem uma recomendação para ser utilizada em áreas específicas, injetadas em profundidades e em qualquer diferentes para resultados variados. Isso significa que não é por se tratar de ácido hialurônico que o produto deva ser aplicado do mesmo jeito no queixo, nas pálpebras ou no bumbum”, exemplifica a dermatologista Tatiana Mattar.
10. Pensando em procedimentos estéticos, qual a porcentagem mínima de ácido hialurônico que os produtos devem conter?
“Um creme com qualidade geralmente tem 2% de ácido hialurônico em peso molecular médio. E, como não temos uma legislação que obrigue o fabricante a indicar a porcentagem utilizada, minha dica é utilizar marcas que você conhece, confia e tem bons resultados ou então se certificar dessa porcentagem com o representante comercial ou ligando no SAC da empresa ou ainda utilizando produtos manipulados”, lista a doutora Larissa Hanauer.
11. Procedimentos com ácido hialurônico tópico podem ser realizados em pacientes a partir de qual idade?
“A partir do momento que a pessoa se interesse por iniciar procedimentos de limpeza de pele profissional ou controle de acne com o esteticista, por exemplo, o que pode acontecer já na adolescência”, diz a médica Larissa Hanauer.
12. Há contraindicações no uso do ácido hialurônico?
“Não há. Ele pode ser usado com segurança. Para se ter ideia, raramente o ácido hialurônico é motivo de irritabilidade ou alergia”, tranquiliza a dermatologista da Clínica Adriana Vilarinho.
13. Ácido hialurônico é um tipo de ácido?
“Com esse nome realmente ele causa confusão e muita gente associa o ativo aos efeitos colaterais dos ácidos, que incluem descamação, ardor e vermelhidão. Mas, não, o ácido hialurônico não é um ácido e não provoca qualquer tipo de reação na pele”, garante a médica Larissa Hanauer.
14. Qual a melhor época do ano para usar ácido hialurônico?
Todas, avisa a dermatologista Larissa Hanauer. Ela conta ainda que procedimentos estéticos e também produtos de home care à base do ativo podem ser aplicados durante o ano inteiro, até mesmo no período que a pessoa vai à praia ou viajar para um lugar que tenha neve.
15. O ácido hialurônico pode ser combinado com outros ativos, quando se quer oferecer procedimentos que vão além de hidratar a pele?
“Com certeza! O ácido hialurônico é muito usado em associações sinérgicas, onde uma substância favorece a ação da outra. Isso acontece muito com as vitaminas C e E, para protocolos com ação antioxidante; com peptídeos, quando o cuidado foca em rejuvenescimento; sais minerais, se a intenção é controlar a oleosidade excessiva. Até com filtro solar o ácido hialurônico faz par perfeito”, diz a dermatologista da Clínica Adriana Vilarinho.
16. O que o profissional de estética pode fazer antes da cliente realizar um preenchimento com ácido hialurônico, para que o resultado seja ainda mais satisfatório?
“Tudo o que a esteticista fizer na cabina vai ajudar no processo de envelhecimento e melhorar a qualidade pele. E nada vai atrapalhar o preenchimento”, afirma a doutora Larissa Hanauer.
17. E depois do preenchimento, os tratamentos em cabine também estão liberados? Após quanto tempo?
“Sim. Tudo pode ser feito, até mesmo radiofrequência, que durante muito tempo a gente ficou mais assustado, achando que prejudicaria o resultado do preenchimento e hoje já sabemos que isso não acontece”, garante a médica. Segundo ela, a limpeza de pele pode ser feita já no mesmo dia do preenchimento, enquanto massagens, drenagem linfática e radiofrequência seria ideal esperar 15 dias.
18. Quais as vantagens de indicar um cosmético para home care elaborado com ácido hialurônico?
“Ele vai contribuir com a saúde, a jovialidade e a beleza da pele, já que é capaz de manter altos níveis de água na derme, fortalecer a barreira cutânea, suavizar as linhas finas provocadas pela desidratação e proteger as fibras de colágeno responsáveis pela sustentação da pele”, lista a cosmiatra especialista em dermatocosmética Ludmilla Bonelli, diretora científica da Be Belle.
19. O que, afinal, é o skinbooster?
“Ele é considerado um hidratante injetável, e que ainda vai favorecer a reestruturação da derme, estimular o colágeno, melhora as linhas finas e deixar a pele um pouco mais firme, mas sem volumizar a área onde é aplicado. Isso porque usamos um ácido hialurônico bem fininho, com baixa densidade molecular, e a aplicação é feita com uma agulha na camada mais superficial da pele, em vários pontos, dando uma distância de mais ou menos 0,5 cm entre eles”, calcula a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
20. O ácido hialurônico usado no preenchimento é absorvido pelo organismo?
“O ativo é tratado com um processo de crosslink que dificulta sua absorção. Tudo com o objetivo que ele permaneça mais tempo no local em que foi aplicado, favorecendo a durabilidade entre um e dois anos”, diz a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
21. É verdade que o preenchimento com ácido hialurônico é capaz de restaurar o movimento facial mais jovem?
Um estudo publicado no início de 2020 no periódico Plastic and Reconstructive Surgery sugere que o preenchimento pode restaurar o padrão mais jovem de expressividade facial. Na pesquisa, 30 mulheres com idade entre 41 e 65 anos, com dobras nasolabiais bilaterais moderadas a graves e linhas de marionete, do canto da boca ao queixo, receberam aplicações de ácido hialurônico e foram comparadas com um grupo mais jovem não tratado com idade entre 25 e 35 anos. Vídeos tridimensionais foram coletados e os resultados mostraram que o preenchimento reduziu o pico de deformação (estiramento) nas dobras nasolabiais e nas linhas de marionetes, semelhante ao perfil de deformação juvenil do grupo de controle não tratado mais jovem.
22. O preenchimento deixa cicatrizes?
“De jeito nenhum, independentemente do ácido hialurônico ser aplicado com agulha ou cânula. Isso também explica por que o resultado é imediato e porque podem surgir pequenos edemas e hematomas, caso o médico atinja algum vasinho, mas levam poucos dias para desaparecer”, diz a cirurgiã plástica Beatriz Lassance.
23. Diante de tantos preenchimentos exagerados, quem se arrepende tem chance de voltar atrás?
De acordo com a doutora Beatriz Lassance, casos de hipercorreção podem ser feitos com a aplicação de uma enzima chamada hialuronidase. “Ela ajuda a dissolver o ácido hialurônico. Porém, assim como o preenchimento, essa enzima precisa ser utilizada com muita cautela, já que pode causar alergias se não for bem administrada”, alerta a médica.
24. A enzima hialuronidase usada para dissolver o ácido hialurônico do preenchimento facial poderia deixar pele sobrando ou causar flacidez, especialmente em casos mais acentuados, como aconteceu com o cantor Lucas Lucco?
A dermatologista Tatiana Mattar diz que isso geralmente não acontece porque a pessoa costuma se arrepender logo depois do procedimento, não dando tempo de a pele distender. “Mas, o maior risco que eu vejo nessa história é a chance da pessoa ter uma reação alérgica super séria por usar uma grande quantidade de hialuronidase. Afinal, a substância é indicada para pequenas correções. Isso é tão sério… Já vi gente indo para o pronto-socorro e outras ficando com depressões no rosto por causa da hialuronidase. Por tudo isso é que o ideal seria escolher um profissional experiente, com habilidade técnica, senso artístico apurado e que respeite as características individuais do paciente na hora de fazer seu preenchimento. Em casos fora da curva, o melhor seria esperar entre 1 ano e 1 ano e meio para o preenchimento ser absorvido naturalmente pelo organismo. Mas, em caso de desespero, o correto é retornar com o profissional que a atendeu, para que conversem sobre a melhor solução”, orienta a médica.
25. Como explicar de um jeito fácil o que é ácido hialurônico?
“Trata-se de uma molécula com diversas propriedades e benefícios para a pele. O principal é a alta capacidade de hidratação, mas a substância também é responsável por estimular os fibroblastos, que são as células responsáveis pela produção de colágeno e cicatrização na pele. Como consequência, o ácido hialurônico atua na proliferação, regeneração e reparação dos tecidos”, resume a dermatologista Patrícia Mafra.
26. Se o ácido hialurônico não é um clareador, como o preenchimento é capaz de suavizar olheiras?
“Esse resultado é alcançado quando a olheira é causada pela perda de gordura e diminuição de colágeno e ácido hialurônico na pele da pálpebra inferior. Lembrando que isso começa a ser visto já aos 28, 30 anos”, diz a dermatologista Paola Pomerantzeff.
27. Como funciona o novo ácido hialurônico específico para preenchimento corporal, que está em vias de chegar ao Brasil?
Estudos realizados apontaram que os resultados no bumbum estão entre os mais interessantes, já que os glúteos podem ser mais projetados e melhor definidos. “Esse produto também pode ser usado para combater depressões e deformações causadas por celulite ou pela anatomia da pessoa, que deixa, por exemplo, áreas mais profundas nas laterais do bumbum. Com essa novidade podemos deixá-lo redondinho e com contornos mais definidos”, diz a dermatologista Shirlei Borelli.
28. Pensando neste novo preenchimento corporal, para atingir resultados mais satisfatórios o profissional de estética pode associar procedimentos?
“Pode, sim. Sugiro apenas tomar o cuidado de antes do preenchimento realizar os tratamentos tecnológicos para estimular colágeno e combater celulite. E deixar para depois do preenchimento os protocolos que beneficiem a pele, como a drenagem linfática”, diz Shirlei Borelli.
29. Preenchimento com ácido hialurônico e bioestimulador de colágeno são tratamentos concorrentes?
De jeito algum! “Eles têm indicações diferentes, como o próprio nome sugere, e ainda podem ser combinados, já que um complementa o efeito do outro. Exatamente por isso o profissional precisa saber de anatomia e projeção para evitar intercorrências que podem prejudicar seriamente o paciente e trazer inúmeras complicações profissionais”, esclarece a dermatologista Tatiana Mattar.
30. Quem deseja melhorar o formato do nariz, mas não quer fazer cirurgia plástica, tem no ácido hialurônico um aliado?
“Tem, sim, porque o ativo permite realizar a chamada rinomodulação para modificar o nariz sem necessidade de bisturi. O procedimento leva cerca de uma hora para ser realizado no consultório e não tem downtime, ou seja, o paciente pode retornar às atividades logo após o tratamento. Alertamos apenas que fica limitada a prática de exercícios no dia”, explica o cirurgião plástico Mário Farinazzo, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.