Recentemente, uma série de fotos e vídeos mostrando os radicais antes, durante e depois da técnica viralizaram na internet, principalmente no TikTok, trazendo à tona discussões e muita fake news sobre as vantagens e desvantagens do procedimento. NEGÓCIO ESTÉTICA conversou com especialistas para esclarecer os principais pontos; acompanhe.
Shâmia Salem (@shamiasalem)
O ingrediente-chave para um vídeo ou foto viralizar nas redes sociais é surpreender, seja por meio do humor, do absurdo ou do choque pelo uso de imagens fortes. Esse último fez com que o assunto do momento fosse o peeling de fenol. Sim, aquele mesmo, que é realizado desde o século 19, ou seja, bem antes da internet existir e que boa parte do público predominantemente jovem do TikTok descobriu somente agora pelo poder da divulgação dessa rede. Por se tratar de um tratamento invasivo, que promove uma transformação expressiva ao “trocar” uma pele fotoenvelhecida por outra nova, fina, lisa, sem manchas, cicatrizes, rugas ou linhas de expressão, mas que “cobra” um pós-operatório dificílimo e que nem todo mundo é capaz de encarar, o assunto virou trend e, como consequência destes tempos, passou a ser manchete dos veículos de comunicação e tema de posts nas outras redes sociais, como Instagram e Facebook.
O saldo de toda essa exposição foi a habitual profusão de opiniões e informações desencontradas. Como é muito provável que seus clientes tenham visto essas imagens e agora queiram saber o que você pensa sobre ela e também tirar dúvidas sobre o peeling de fenol, o ideal é já se abastecer de conhecimento para não entrar numa saia-justa. A seguir, algumas das informações mais importantes sobre a técnica.
→ Ação intensa, mesmo quando dosada para ser mais light
O dermatologista Jardis Volpe, de São Paulo, explica que o efeito transformador do peeling de fenol profundo acontece por ele promover uma descamação pelo contato direto com a pele, por meio da coagulação das proteínas. Em outras palavras, ele remove, sim, toda a epiderme e parte da derme, num efeito semelhante ao de uma queimadura de segundo grau. “Como consequência de tamanha agressividade ocorre uma renovação celular e formação de colágeno novo, a ponto de melhorar intensamente a pele muito envelhecida, com rugas estáticas, manchas e cicatrizes”, diz o médico, que reforça que, ao contrário de alguns comentários nas redes sociais, o peeling de fenol não é um tratamento preventivo, sendo indicado apenas quando o fotoenvelhecimento já é bastante evidente. “Vale lembrar que também existem versões do peeling com diferentes concentrações, chamadas de light e média, que são dosadas conforme o grau de envelhecimento e as necessidades de cada paciente”, diz a médica Michele Haikal, de São Paulo.
→ É fenol, mas não só
Apesar o nome, o fenol não é o único agente da fórmula do peeling. “Uma resina chamada croton é um ativo tão ou mais importante que o fenol. Por isso a tendência atual é usarmos o peeling de fenol-croton, com doses mais baixas do fenol e variadas de cróton, de acordo com o tipo de pele, o grau do envelhecimento e o efeito de pós que queremos, o que tem a vantagem de personalizar mais o tratamento e os resultados”, esclarece Jardis Volpe.
→ Nem todo mundo pode fazer, e isso não tem só a ver com pele
“O peeling de fenol não deve ser feito em pacientes que apresentem alopecia frontal fibrosante, vitiligo ou esclerodermia, uma doença reumatológica que causa inflamação em determinados tecidos do corpo, fazendo com que a pele e alguns órgãos fiquem enrijecidos. Outras doenças cutâneas devem ser avaliadas individualmente. Para fototipos altos também não recomendo”, relaciona o doutor Jardis Volpe, que emenda: “Regra geral, a melhor indicação para esse peeling inclui ainda pessoa já ter ouvido falar dele, buscado informações sobre como o pós funciona, ter pesquisado médicos que realizam a técnica, não ser ansiosa e entender que vai ter que esperar um longo período para ver o resultado. Aqui, alinhar expectativa e realidade é muito, muito importante mesmo”.
Em relação às cicatrizes de acne, que são difíceis de tratar devido à formação de fibrose, o peeling de fenol pode não ser a melhor indicação. Isso porque o resultado pode variar conforme o tipo de marca do paciente. “Como o fenol é muito agressivo e há o risco dele não atingir o resultado desejado, acredito que outros tratamentos menos invasivos realizados de maneira associada e personalizada sejam uma melhor opção e sem promover tanto sofrimento”, diz a doutora Michele Haikal.
→ Somente para profissionais habilitados
Há toda uma explicação de por que apenas profissionais habilitados em peeling de fenol possam oferecer a técnica. “O fenol possui certo grau de toxicidade, que precisa ser muito bem avaliado caso a caso. Além disso, é necessário solicitar exames gerais do paciente, checar sua função renal e cardíaca, já que o procedimento pode provocar arritmia e graves problemas renais. Também é preciso prescrever medicação para controlar a dor durante o tratamento e no pós-procedimento, bem como acompanhar de perto a recuperação do paciente, especialmente nos primeiros dias, para fazer as orientações sobre cuidados especiais”, diz Jardis Volpe.
→ Aplicação pontual ou total
“O peeling de fenol pode ser realizado no rosto todo ou em áreas específicas, mas não são todas que podem receber o tratamento. Entre as seguras para uma aplicação localizada estão as pálpebras, o nariz, a glabela e a região perioral. Em contrapartida, não recomendo fazer de maneira pontual sobre as linhas e rugas ou em cicatrizes isoladas pelo risco da demarcação, ou seja, de deixar o local mais branco”, alerta Jardis Volpe. Concorda com ele a dermatologista Tatiana Mattar, de São Paulo: “Esse risco de hipocromia acontece na área que recebeu o fenol e, por consequência, trocou a pele “velha” por uma “nova”, lisa e bem mais clara do que a do restante do rosto. Por isso é que não sou contra o peeling de fenol, mas acho que ele não vale esse risco de ganhar, por exemplo, manchas esbranquiçadas ao redor dos olhos ou da boca, nem o pós horroroso. Sou a favor de procedimentos menos agressivos, mesmo que eles exijam mais sessões e não atinjam a excelência do fenol, porém, que permitam deixar a pessoa mais jovem e mais bonita sem sofrer tanto”. Essa também é a visão do dermatologista Abdo Salomão, de Minas Gerais. “O avanço das tecnologias tem permitido conquistar melhores resultados com mais segurança, sem dor e com pouco ou nenhum downtime”, diz.
→ Sessão pautada pelo cuidado com outros órgãos
Segundo Jardis Volpe, antigamente era realizada uma preparação da pele para, só então, fazer o peeling de fenol, e isso era realizado com a aplicação, em casa, por alguns dias, de ácido retinoico e clareadores. “Em geral, não fazemos mais isso, apenas em pessoas com pele muito oleosa”, diz o médico, que explica: “Se a intenção é o peeling total, em toda a face, ele precisa ser feito pelo médico, com monitorização cardíaca e sedação do paciente, em clínica autorizada ou hospital-dia. Já se a aplicação for localizada, como ao redor dos olhos, da boca ou nas laterais do rosto, por exemplo, o tratamento pode acontecer na clínica sem sedação. Nesse caso, demarcamos as áreas e passamos o produto de maneira uniforme, com a ajuda de um aplicador ou gaze; e, depois de finalizado, espalhamos vaselina líquida. O paciente não deve lavar o rosto por 24 horas”.
→ Recuperação longa e difícil
A primeira dor do peeling de fenol é sentida já durante a sessão, assim que a fórmula é passada no rosto, que incha assim como os olhos. Mas, verdade seja dita, esse é só o começo de uma história que demora a mostrar seu tão sonhado final. De maneira resumida, pode-se esperar o seguinte:
- Nos 3 primeiros dias o rosto fica bastante inchado e vermelho.
- A partir do 2º a pele fica com aspecto de queimada. Tanto que a indicação é não ficar se olhando no espelho.
- Do 3º ao 6º dia surgem crostas e um tecido amarelo de fibrina, que dá a aparência de se estar com uma máscara. Conforme a cicatrização vai acontecendo, as “cascas” caem até por volta do 10º dia.
- O banho, no início, é um capítulo à parte, já que não dá para entrar de cabeça no chuveiro, só com o corpo. “Há duas técnicas para higienizar a face: a úmida, feita a partir de 24 horas, e a seca, em que se aplica um pó específico e não se lava o rosto por até 7 dias. Ambas promovem o mesmo resultado final, porém, é mais comum indicarmos a técnica úmida por ela ser mais confortável para o paciente”, esclarece Jardis Volpe.
- “Em geral, com 10 dias já se pode usar protetor solar com base. Isso para ficar em casa, sem ter contato algum com o sol”, avisa o médico. Isso explica porque o ideal é tirar férias do trabalho para fazer esse peeling.
- Especialmente nos primeiros 15 dias é normal que haja um acompanhamento mais de perto do paciente. O objetivo é checar como está a cicatrização, se há sinais de infecção, se ele sente dor, consegue dormir e se alimentar, o que costuma ser feito durante os 7 dias iniciais com canudo e comida líquida ou pastosa para evitar muitos movimentos com a boca e com o rosto. Isso vale também para quem gosta de falar, pois precisa moderar nesse começo.
- O novo colágeno começa a se formar por volta do 4º mês.
- Dependendo do grau de agressividade do peeling, o eritema residual permanece e tende a melhorar entre o 4º e o 6º mês.
- “Pode haver uma fase de pele com diferenças de cor, que vai melhorando com o passar do tempo. Mas, regra geral, o resultado final aparece após 6 meses e dura muitos anos. Além disso, percebemos que a pele envelhece em um ritmo mais lento, como se tivéssemos dado um reset cutâneo”, finaliza Jardis Volpe.
“O peeling de fenol pode ser realizado no rosto todo ou em áreas específicas, mas não são todas que podem receber o tratamento. Entre as seguras para uma aplicação localizada estão as pálpebras, o nariz, a glabela e a região perioral. Em contrapartida, não recomendo fazer de maneira pontual sobre as linhas e rugas ou em cicatrizes isoladas pelo risco da demarcação, ou seja, de deixar o local mais branco”
Jardis Volpe