O sucesso da beleza limpa

Conheça o promissor mercado de beleza vegana que vem abrindo as portas para novos negócios. Acredite, se você ainda não trabalha (e nem faz consumo próprio) de ao menos um deles, está ficando para trás. Não é modinha, não é passageiro e não é para poucos. Duvida? Tudo o que você, profissional de estética, precisa saber a seguir

Gabriella Galvão @ggalvao

Eles são fruto de alta tecnologia e estão transformando a indústria cosmética. Os produtos de beleza veganos já foram classificados como um capricho, mas hoje correspondem a uma fatia significativa do mercado e, inclusive, vêm reformulando os padrões de consumo no mundo. O planeta pensa no conceito vegan e aproveitar essa demanda é uma grande oportunidade para o sucesso e para o crescimento do seu negócio.

Um cosmético é considerado vegano quando a sua formulação não contém qualquer tipo de ingrediente de origem animal, nem entra em contato com animais durante o processo de produção e embalagem. E também é cruelty-free, ou seja, desenvolvido sem testes em animais. Por isso, é uma opção sustentável, mais consciente, ética e saudável que respeita o meio ambiente. Faz parte do movimento mundial chamado clean beauty, ou beleza limpa.

Um lugar para a alta performance

A substituição de substâncias vindas de animais vem impulsionando o mercado a investir em biotecnologia, em pesquisas e apostas em ativos naturais, orgânicos e fabricados sinteticamente em laboratório, capazes de reproduzir os benefícios dos ativos convencionais.

“Os cosméticos veganos agem na pele e no cabelo da mesma forma que os produtos tradicionais, eles têm a mesma eficácia terapêutica. E ainda carregam os benefícios de respeito aos animais, equilíbrio do planeta e preservação da humanidade”, esclarece José Carlos Greco, dermatologista, farmacêutico e bioquímico.    

Algumas das matérias-primas estrelas da beleza vegana são o ativo bio mineral, leveduras, aminoácidos como os extraídos da quinoa, extratos de algas marinhas como a pink algae,  ácido lático proveniente de bactérias probióticas, compostos minerais como carbonato de cálcio e magnésio, vitaminas como a E, ácido hialurônico vegetal, cera vegetal, microrganismos presentes nas águas-vivas, derivados do óleo de oliva puro, ceramidas extraídas da palma e outros extratos de vegetais também super poderosos.

Oportunidades de negócio

“A determinação da Europa de proibir os testes com animais há mais de uma década fez as empresas começarem a trabalhar em outro patamar, abrindo novos caminhos no mercado. Além disso, o crescimento do movimento vegano tem forte influência no tipo de comportamento de todas as camadas da sociedade”, explica Ricardo Laurindo, vice-presidente da Sociedade Vegana Brasileira (SVB).

No Brasil, desde 2023 existe uma lei (nº 11.794/08) que proíbe o uso de animais em pesquisas e testes para a produção de cosméticos, perfumes e produtos de higiene pessoal – as empresas têm até dois anos para mudar a forma de produção. Em um mundo altamente competitivo, essa abertura representa um significativo momento para investir e tirar proveito dos novos terrenos da beleza limpa. 

“As oportunidades do segmento no Brasil são muito expressivas, especialmente considerando o tamanho do mercado cosmético e as taxas de evolução do consumo consciente e sustentável, diretamente associados aos produtos veganos”, sustenta Claudia Garcia, farmacêutica e empreendedora na área da beleza limpa, fundadora e CEO da empresa Pele Bem Tratada.

Mais preocupadas com o impacto das suas escolhas, as pessoas buscam produtos alinhados à sua filosofia de vida. O comportamento do consumidor é um incentivo às pesquisas e ao desenvolvimento de ativos como substitutos aos ingredientes convencionais que são naturais, orgânicos ou sintéticos. Esse conjunto torna a demanda do mercado ecológico real e crescente

Mas o vice-presidente da SVB alerta que, para um negócio dar certo nesse universo, é importante que o empreendedor entenda o conceito do produto e o que ele significa para a sua área de atuação. “Mesmo diante de um cenário promissor, fico impressionado como é comum encontrar profissionais que ainda estão fora desse mercado. Não dá mais para fechar os olhos para a realidade”, completa.

Espaço para todas as áreas

Quem também aproveitou a chance de entrar de cabeça no mundo vegano foi o empresário Raphael Schaffer, que saiu da área de marketing para fundar a Atlantikos, um marketplace de produtos veganos, naturais, orgânicos e sustentáveis. “Depois dos itens de alimentação, os mais vendidos são os cosméticos e os de higiene pessoal. Temos quase 2.000 cosméticos naturais e veganos no portfólio”, garante o CEO. Raphael revela que o crescimento da empresa tem sido exponencial e diz que os números de 2024 já superaram os do ano passado: “Crescemos 164% em 2023 e a projeção para 2025 é aumentar as vendas em 387%”.

Um dos segredos do sucesso, segundo ele, foi a empresa ter dobrado a oferta de produtos nos últimos 10 meses, além de ter aumentado consideravelmente o investimento em campanhas de marketing.

Mudanças de rumo para conquistar o mercado

A gigante Natura entendeu o recado e hoje 95% do seu portfólio é vegano. A cera de abelha é o único ingrediente não vegano da marca, usado principalmente na linha de maquiagem – mas a empresa esclarece que a cera está em processo de substituição gradual. Já a Care Natural Beauty nasceu vegana em 2018, com produtos livres de toxinas e metais pesados, produzidos com ativos biotecnológicos sustentáveis e embalagens feitas com materiais reciclados.

“Começar nesse mercado foi extremamente desafiador e ao mesmo tempo motivante. O obstáculo (oportuno, por sinal) é ainda existir uma significativa falta de conhecimento dos consumidores sobre esses produtos, atrelada a um descrédito em relação à sua eficiência. A questão é que isso pode criar a ideia de que se trata de algo artesanal que não entrega performance – e é exatamente o oposto”, conta Luciana Navarro, co-CEO e fundadora da marca ao lado da advogada Patrícia Camargo.

A empresa transformou a barreira em uma chance de conquistar novos territórios. Para ultrapassá-la, a estratégia tem sido investir em estudos científicos e testes de performance, e usá-los para educar o público-alvo – o plano é assegurar que informação correta alcance todo público que consome beleza, e não apenas nos veganos. “Procuramos nos respaldar de tudo o que corrobora com a ideia desse tipo de cosmético que, de fato, já é o futuro do mercado de beleza”, acrescenta Luciana. O esforço tem se mostrado eficiente. A marca projeta o faturamento de 50 milhões de reais para 2024, com crescimento de 108% em comparação com 2023.

Quem também vem se garantindo nesse ramo é a Sem Rótulo Cosméticos, lançada este ano de acordo com os princípios veganos pela dentista Lais Theis e a nutricionista Melyssa Esser após mais de 3 anos de pesquisas. Elas revelam que a empresa bateu a meta de vendas dos três primeiros meses em 100% depois do lançamento, e esperam uma receita em torno de R$1 milhão ainda em 2024.

Outros exemplos de empresas prósperas antenadas com essa demanda, seja com o portfólio vegano completo ou com linhas específicas, são a Dermage, Anna Pegova, Mezzo Dermocosméticos, KVD Beauty, Surya Brasil, Avon, O Boticário, Feito Brasil, Simple Organic, Bergamia, Sallve, entre outras.

Tecnologia como aposta certeira

Quando se trata de inovação, o Brasil não faz por menos. A startup nacional Biobreyer, fundada pela bióloga Renata Bannitz e por Carlos Alexandre Breyer, formado em biotecnologia, desenvolveu, aplicando engenharia genética sobre as propriedades de uma levedura alimentícia, a versão vegana do queridinho ácido hialurônico. Outro destaque fica com a também startup brasileira Planty Beauty, criada pela biomédica Mariana Silva, que investe em biotecnologia para produzir cosméticos mais limpos, com foco nos ativos dos biomas nacionais, como os extratos de guaraná e de caju.

Comunicação transparente

O consumidor de hoje é mais exigente, quer entender com clareza o nome, a origem e os benefícios do produto, e faz questão de checar a credibilidade das empresas em sites e redes sociais. “As pessoas buscam a comprovação do que é prometido e os profissionais precisam estar atentos a essa demanda. As propriedades do cosmético e as suas provas têm que estar explícitas em toda a comunicação do produto”, esclarece Claudia Garcia. Ela garante que a comunicação transparente é um caminho essencial para o empreendedor criar vínculos de confiança com os seus consumidores e ganhar um lugar nesse mercado.

“A identificação dos ingredientes pelos nomes em um produto, de acordo apenas com o rótulo, nem sempre é uma tarefa fácil. E é aí que entra a importância das certificações para as marcas”, salienta o dermatologista José Carlos Greco. A certificação não é obrigatória, mas simplifica a vida dos consumidores e garante que o respeito ao meio ambiente é lei na empresa. O selo comprova a filosofia da marca, aumenta a visibilidade dos produtos e diminui etapas do processo de compra. Uma pesquisa da SVB revela que 50,3% dos entrevistados afirmam que a presença do selo ajuda na escolha de produtos veganos.

No Brasil existe o selo vegano da Sociedade Vegana Brasileira (SVB), criado em 2013 pela instituição. E no mercado internacional um dos destaques fica com o Vegan PETA Approved, da ONG People for the Ethical Treatment of Animals (PETA – “Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais”), dos Estados Unidos.

Um mercado em ascensão
Se você é do time que acha que os cosméticos veganos são um mero modismo e que não vale o investimento, é melhor mudar de ideia. De acordo com o instituto de pesquisas americano Gran View Reseach, o mercado global de cosméticos veganos foi avaliado em mais de 15 bilhões de dólares em 2021 e deve crescer 6,3% ao ano até 2030. O estudo também prevê que o Brasil, que hoje tem o maior crescimento na área na América Latina, assuma a liderança no continente em termos de receita em 2030, com uma taxa de crescimento anual de 3,6%. Esse segmento já é consagrado em todo o mundo, a oportunidade de fazer parte dessa jornada é clara.

Entenda a diferença entre cosméticos veganos, orgânicos e naturais

Eles estão em alta e muita gente ainda confunde esses nichos de mercado. Saiba quais são as suas diferenças entre os tipos de produto e não deixe a oportunidade de investir passar em branco.

Veganos – cosméticos obrigatoriamente livres de crueldade animal (Cruelty-free, ou seja, não são testados em animais) e ficam longe de qualquer processo que entre em contato com os animais. Podem ter ativos sintéticos e não são necessariamente naturais e orgânicos.

Orgânicos – produtos livres de agrotóxicos, fertilizantes e ativos transgêneros. Não são obrigatoriamente cruelty-free, mas são sempre naturais. Devem ter no mínimo 20% dos ingredientes orgânicos, com 95% de origem vegetal.

Naturais – produtos cuja fórmula contém essencialmente ativos extraídos da natureza. Pelo menos 99% da composição é de origem natural (vegetal, animal ou mineral). Eles são livres de petroquímicos, parabenos, perfumes ou corantes sintéticos.

Somos uma empresa com coração e alma humanos. E a humanidade nos traz inquietude para buscarmos sempre o novo, discernimento para abraçarmos as causas certas, coragem para seguirmos adiante mesmo em face de tempos difíceis, orgulho para mostrarmos a grandiosidade do segmento brasileiro.

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