Negócio Estética revela os números de um mercado que só cresce no Brasil. E mostra ainda as estratégias comerciais que podem turbinar as suas vendas de serviços, produtos e equipamentos, tirando proveito da agora chamada oficialmente “economia prateada”
Caio Camargo @camarcamargo
Na época dos nossos avós a expectativa de vida mal chegava aos cinquenta anos. Tudo o que eles mais desejavam, ao envelhecer, era se aposentar e desfrutar da convivência da família até o fim dos dias. De lá para cá, muita coisa mudou: hoje, vivemos, em média mais de setenta e cinco anos com relativa qualidade, sempre em busca das atividades mais diversas.
Tal movimento desperta no mercado algo impensável no começo do século XX: um aumento significativo nos negócios voltados para quem passou dos 50 anos. Isso ganha cada vez mais importância, mas exige soluções que considerem a diversidade deste público. A projeção para 2030 é que teremos mais idosos que crianças no País. Mais adiante, em 2050, o Brasil será o sexto país mais velho do planeta e esta faixa etária contabilizará 30% da população.
Este contingente apresenta hábitos de consumo bem definidos. Ao conjunto de atividades voltadas para atender suas necessidades surgiu a silver economy, ou economia prateada. Um segmento que envolve todos os produtos e serviços adquiridos por essas pessoas. E os números não mentem: no censo de 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, mostrou que, de 2010 para cá, o número de brasileiros acima de 65 anos cresceu mais de 57%.
O mercado para atender esta crescente demanda movimenta dois trilhões de reais por ano e abrange 54 milhões de pessoas. Esse público envelhece com maior qualidade de vida e continua ativo, inserido até no mercado de trabalho. E não é só isso: dos 35 aos 50 anos, a maioria das pessoas costuma ter despesas significativas com os filhos. Mas, aos 55, 60 muitos já não pagam mais as contas dos herdeiros. Portanto, há sobras de capital. Esta parcela responde por uma renda per capita 27% maior do que as outras faixas etárias, de acordo com estudo publicado pela startup Silver Hub.
Outro quesito importante nessa equação diz respeito ao fato de que as gerações Z e Alfa, compostas por crianças, jovens e adultos, tem influência de compra, mas menos recursos. De acordo com o SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – se o seu negócio não está adaptado para atender ao público com mais de 50 anos, é hora de se atualizar. Afinal, a economia prateada é considerada a terceira maior atividade do mundo, movimentando sete trilhões de dólares anualmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, metade da população entre 52 e 70 anos passa pelo menos 11 horas por semana online.
A economia prateada viveu seu boom com a pandemia e nunca mais parou de crescer. E são muitos os motivos: na impossibilidade de sair de casa, muita gente que mal usava um celular aprendeu a fazer vídeo chamadas e passou a utilizar o comércio eletrônico. Até consultas médicas se voltaram para as telas. Com este crescimento, a tecnologia deve seguir voltada a este nicho, um dos mais atrativos do mercado atualmente.
Criar produtos voltados aos mais velhos, no entanto, prescinde de cuidado com os estereótipos. Essa faixa da população está longe de ser ranzinza ou acomodada e nem sempre precisa de ajuda dos mais jovens. Nas campanhas publicitárias deve-se utilizar imagens de pessoas reais, que realmente representem o seu público-alvo. Ao se reconhecerem, os consumidores terão muito mais chances de se identificar com a marca e querer mais detalhes sobre o assunto.
Quem concorda com isso é Mariana Munis, professora de Marketing e Consumidor do Mackenzie-Campinas. Ela diz que cada consumidor é único. Tem quem goste de ficar em casa, cozinhando e com os netos e tem também quem queira viajar, jogar videogame, sair para dançar. “O que não dá mais é achar que todo idoso só gosta de fazer crochê ou jogar damas na praça”, pondera.
Outra preocupação se refere ao uso indevido das palavras usadas na comunicação dos produtos voltados para os “prateados”. Muitas vezes, as marcas vão trabalhar com essa faixa etária e lançam slogans como por exemplo: “juventude para seus fios”. Nesse caso, os especialistas são diretos: por que juventude é melhor que maturidade? Convém utilizar vitalidade e outros adjetivos que não caracterizem etarismo.
Além disso, falas pausadas, letras maiores e o uso do idioma sem gírias também facilitam a comunicação. De acordo com Walcyr Borges, gerente de Sustentabilidade, Diversidade e Inclusão do Sebrae-RJ, desenvolvimento de oportunidades é muito importante para esse cliente que já tem o estigma da discriminação.” É preciso não olhar para esse conjunto de pessoas de forma homogênea. Porque quem tem 50 anos não precisa de roupas e calçados mais confortáveis como quem tem 70, 80”, pontua.
A jornada de compra deve ser a mais simples possível para que o cliente consiga finalizar seu pedido rapidamente. Outra tecnologia que tem sido muito utilizada pelos idosos são os assistentes de voz Alexa e Google Home, que oferecem mais interatividade e simplicidade de uso para os usuários. Realize sempre pesquisas e entrevistas que vão ajudar a identificar desafios, interesses, hábitos e valores. Esse direcionamento é essencial para ter sucesso.
O gerente de Atendimento e Relacionamento com o Cliente do Sebrae, Enio Pinto afirma que “é fundamental a todo empreendedor rever o seu modelo de negócio, se preparando para inserir o público 50+ e atendê-lo com mais qualidade e eficiência”. Isso passa por rever a operação da empresa na perspectiva das pessoas mais idosas: será que a comunicação já leva em consideração as particularidades dessas pessoas? O acesso à sede física é facilitado? Essas são algumas perguntas que o dono de um pequeno negócio precisa se fazer.
Tendencias para os consumidores na economia prateada:
- Serviços de cuidadores
- Engajamentos – jovens e seniores
- Estilo de vida
- Mobilidade
- Saúde Mental
- Gestão Financeira
Estas oportunidades de negócios se espalham pelas mais diferentes frentes. Das mais óbvias, como telemedicina e aplicativos para o monitoramento da saúde, aos mais específicos como o ramo de entretenimento e redes sociais, que ajudam as pessoas a interagir. No entanto, é preciso acentuar que as soluções devem ser voltadas ao bem viver dessa faixa populacional, não para excluí-la do contato com as demais gerações. Afinal, esse público muitas vezes não quer estar sozinho ou mesmo ser rotulado. Sempre é bom lembrar que respeito e dignidade é direito de todos e não tem idade.
Fonte: Sebrae
BOX: A Estética e a geração silver
A maior expectativa de vida traz também alterações de comportamento. Um deles é a busca por estar sempre bem – física, mental e emocionalmente. Não à toa, a busca por tratamentos estéticos cresce para uma faixa etária mais madura de maneira significativa. Quem estiver atento e buscar conhecer mais este (a) consumidor (a), será mais assertivo no menu de serviços a oferecer. Segundo pesquisa de 2020 da Euromonitor revela que para 63% dos entrevistados com mais de 60 anos de idade, a hidratação foi o benefício mais desejo para os cuidados com a pele. Centros de estética, cosméticos específicos e serviços ligados ao bem-estar: todos tem à sua frente um imenso campo de possibilidades nas quais vale a pena pensar com carinho. Tenha cuidado e atenção com esse público que só aumenta e atraia grupos de amigos e amigas para que se tornem clientes fiéis.
FRASES:
No censo de 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, mostrou que, de 2010 para cá, o número de brasileiros acima de 65 anos cresceu mais de 57% ( Walcyr Borges, gerente Sebrae-RJ) É fundamental que todo empreendedor reveja o seu modelo de negócio de modo a estar preparado para inserir o público 50+ e atendê-lo com mais qualidade e eficiência ( Enio Pinto, gerente nacional do Sebrae)
