Falsificação de produtos: vamos conversar sobre isso?

A alteração fraudulenta chegou com força total à estética. A boa notícia é que as empresas estão atentas e combatendo ativamente a pirataria de várias maneiras. Fique por dentro das formas como o crime é cometido e como não ser vítima dele

Shâmia Salem (@shamiasalem)

A falsificação é uma realidade dura no Brasil. E a indústria da beleza e estética é um de seus maiores alvos, claro. Para ter ideia, cerca de 55 toneladas de perfumes e insumos para fabricação de produtos finais que resultariam em bens ilegais foram destruídas na ação mais recente promovida pela ABIHPEC com apoio da ADIPEC (Associação dos Distribuidores e Importadores de Perfumes, Cosméticos e Similares), ocorrida entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022. Este desmonte simbolizou o fim de mais uma etapa da maior operação já realizada na América Latina de combate à pirataria no mercado de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. E, olha só mais estes dois dados chocantes: 1) os mais de 2,7 milhões de perfumes e insumos para fabricação de produtos finais apreendidos foram avaliados em R$ 12,8 milhões; 2) segundo relatório oficial da operação, os perfumes eram distribuídos para vendedores on-line, que utilizavam plataformas digitais, marketplaces e redes sociais para comercialização. E isso acontecia em todo o território nacional!

Esta movimentação tem feito com que ao longo de 2023 a ABIHPEC realize uma aproximação com as plataformas de e-commerce, além de seguir com reuniões na alfândega do Aeroporto de Guarulhos (SP) e na Superintendência da Receita Federal do Brasil. Em paralelo, há uma agenda de trabalho com a participação em fóruns, como o Conselho Nacional de Combate à Pirataria-CNCP do Ministério da Justiça e da Coalizão Empresarial de Propriedade Intelectual-CEPI da CNI, entre outros.

E a estética com isso?

Apesar da perfumaria ser o foco principal da falsificação, ela não é muito diferente da que vem acontecendo com os cosméticos. Inclusive os utilizados por profissionais da estética. É o caso da Tulípia. “Consumidores relataram que sofreram golpes via Instagram e WhatsApp de gente se passando pela marca para conseguir dinheiro via a venda de produtos que não existiam. Infelizmente teve cliente que pagou pelo falso pedido. Também teve caso de uma empresa que pirateou nossos rótulos, porém, que não tinham as informações obrigatórias da Anvisa. Fomos para cima dela com o jurídico e a polícia. Soubemos ainda de comercialização em sites famosos, porém não autorizados por nós, entre eles a Shopee e o Mercado Livre. Diante de tudo isso definimos que a informação é a nossa melhor arma para evitar esse tipo de fraude, e temos feito diversos materiais de comunicação para nossos canais oficiais. A ideia é educar, alertar e mostrar como se proteger da fraude cibernética. Por exemplo, em hipótese alguma pedimos informações bancárias, códigos de confirmação que são enviados ao celular da pessoa ou dados pessoais de Instagram ou WhatsApp”, comenta o diretor de marketing da Tulípia, Joaquim Araújo Neto.

O profissional lembra que todo produto oficial possui informações grafadas na embalagem que permitem rastreá-lo, e isso garante a segurança do usuário. “Daí a recomendação de adquirir os produtos da Tulípia única e exclusivamente pelo nosso site oficial, via nossos distribuidores, que também podem ser encontrados no site, sempre exigir a nota fiscal, desconfiar de preços muito baixos, descontos irreais ou de quem oferece itens de uso exclusivo profissional para consumidores finais”, completa o diretor de marketing da Tulípia.

Detalhes que entregam a fraude

“A Ada Tina também tem sofrido com os marketplaces que vendem de tudo, de feijão a sandália passando por cosméticos. Localizamos produtos que copiaram quase que 100% o nosso rótulo. Imitaram o layout, o nome, as cores eram idênticas, assim como a embalagem. Só não usaram o logotipo da marca, e vendiam por R$ 25 algo que originalmente custa R$ 200. Descobrimos por que os consumidores contataram nosso SAC para reclamar que o produto estava com uma textura ruim e não funcionava. Quando pedimos a foto, confirmamos que não havia número de lote, data de validade, nem nossa marca. Mas, olha só que grave: eles copiaram o número da Anvisa!”, diz, estarrecido, Maurizio Pupo, farmacêutico especializado em cosmetologia e CEO da Ada Tina.

Diante de um gatuno tão ‘esperto’, o que fazer? “Compre no site oficial da empresa, porque ela jamais vai vender algo falsificado, pois não ganha nada com isso; e evite marketplaces. Se não der para evitar essas lojas que são multimarcas, certifique-se de que quem está vendendo o produto é a loja da própria marca e não uma que está fazendo o repasse de outra. Você descobre isso fácil, conferindo na própria página de e-commerce se quem vai fazer a compra e a entrega é a própria marca”, ensina ele, que atenta ainda para não adquirir um tester. Sim, você leu certo: tem larápio comercializando aquela amostra que os pontos de venda deixam para o cliente provar o produto. “Apesar de geralmente serem mais baratos, é comum receber esse item sem lacre, sem a caixa e sabe-se lá sem mais o quê”, adverte o farmacêutico.

Consequências das mais diversas

Diante de tantos agravantes que envolvem a falsificação de cosméticos, um dos que merecem muita, mas muita atenção é a composição do produto pirateado. “Para ficar no básico, pense na água. A utilizada na indústria cosmética é triplamente tratada, portanto, livre de contaminantes e micro-organismos, é absolutamente pura. Obvio que o falsificador não terá esse cuidado, e para evitar que sua água crie fungo, bolor ou uma colônia de bactérias ele terá que encher o produto de conservante. E sabemos que conservantes e fragrâncias são responsáveis por metade das reações alérgicas a cosméticos. Imagine o que pode acontecer se essa alergia ocorrer nas mãos do esteticista e na pele de seu paciente?”, instiga Maurizio Pupo.

Ainda em relação ao cheiro, ele avisa que as fragrâncias de procedência duvidosa possuem até 40% de um contaminante chamado ftalato. Trata-se de uma substância altamente estrogênica, que bloqueia os receptores de testosterona. Se expor a ela pode favorecer o desenvolvimento de câncer de mama e ovário, e durante a gravidez pode causar deformações genitais no bebê. “Vale ressaltar que a falsificação prejudica o paciente, lógico, porém, o profissional esteticista é a principal vítima por ficar mais exposto ao produto pirata do que o cliente”, arremata Maurizio Pupo.

Quando o produto falso está na clínica de estética

A especialista em regularização sanitária Juliana Cardoso, sócia da Consultoria e Treinamentos Sanitários Defina Estética, conta que um dos itens observados pelo fiscal da Vigilância Sanitária dentro dos estabelecimentos de estética em qualquer região do país é a parte dos produtos. “Esse é um item considerado crítico. Vale lembrar que itens críticos são aqueles que se não estiverem ok dentro do estabelecimento levam à uma infração, uma penalidade sanitária, que geralmente é a interdição. Ou seja, o local é lacrado, fechado”, avisa. Ela completa: “O requerimento sanitário reitera que todos os produtos em uso ou armazenados no estabelecimento de estética precisam estar obrigatoriamente dentro do prazo de validade e devidamente regularizados na Anvisa. Na ausência desse registro ou pelo uso de produtos falsificados o profissional responde pelo código penal, tem a penalidade sanitária, levando à interdição do estabelecimento dele, e ainda estará infringindo o código de defesa do consumidor”.

A boa notícia é que é muito simples o profissional de estética saber se o produto que tem em seu estabelecimento está devidamente regularizado pela Anvisa. “Basta acessar o site consultas.anvisa.gov.br/#/cosmeticos/regularizados/. No espaço que abrir você digita o nome do produto ou até mesmo do fabricante e clica no botão ‘consultar’. Além disso, para garantir que o produto que você utiliza aí dentro do seu espaço é verdadeiro é necessário implementar uma boa prática, que, mais do que ser obrigatória pela Anvisa, pela Vigilância Sanitária, ela também vai te ajudar a evitar problemas e até mesmo prevenir que você não tenha qualidade no resultado do serviço prestado ao seu cliente. Então uma boa prática que você pode é a verificação dos produtos quando você os recebe”, ensina Juliana Cardoso. O que é necessário? Segundo ela, a cada 15 dias ou mensalmente você precisa fazer a verificação dos seus produtos do estoque para ver se eles estão dentro do prazo de validade e registrar isso em uma planilha dentro do seu manual de rotinas e procedimentos. “Abra o olho porque o fiscal também pede para saber como é o processo de recebimento quando você compra um frasco de um produto. Então, é necessário informar que você tem a nota fiscal, a armazena, e que o produto é guardado dentro do armário de estoque. Porém, antes disso você verifica o nome do produto e do fabricante, o número do lote, a data de fabricação e de validade, se a embalagem está íntegra. Ou seja, há toda uma verificação prévia para evitar que você utilize um produto falsificado. Já quando o produto está em uso você faz a cada 15 ou 30 dias o controle da validade. Tudo isso precisa ficar registrado no seu manual de rotinas e procedimentos. Afinal, regularização sanitária é um conjunto de boas práticas que você já faz no dia a dia no seu estabelecimento de estética”, ensina a expert.

BOX

Como as esteticistas se blindam

NEGÓCIO ESTÉTICA conversou com as profissionais do segmento Alexandra Vicentini, Cris Boneta e Rúbia Diniz para entender se elas, que consomem tantos produtos, já foram vítimas da falsificação. A resposta foi não. Em comum, todas disseram que se previnem de trapaceiros comprando direto das empresas e de revendedores indicados por elas. “Com cosmético industrializado nunca tive problema, só minhas fórmulas é que foram copiadas”, brinca Alexandra Vicentini. Infelizmente nem sempre dá para ganhar em todas, não é mesmo?

FRASE

“O requerimento sanitário reitera que todos os produtos em uso ou armazenados no estabelecimento de estética precisam estar obrigatoriamente dentro do prazo de validade e devidamente regularizados na Anvisa. Na ausência desse registro ou pelo uso de produtos falsificados o profissional responde pelo código penal, tem a penalidade sanitária, levando à interdição do estabelecimento dele, e ainda estará infringindo o código de defesa do consumidor”Juliana Cardoso, especialista em regularização sanitária e sócia da Consultoria e Treinamentos Sanitários Defina Estética

Somos uma empresa com coração e alma humanos. E a humanidade nos traz inquietude para buscarmos sempre o novo, discernimento para abraçarmos as causas certas, coragem para seguirmos adiante mesmo em face de tempos difíceis, orgulho para mostrarmos a grandiosidade do segmento brasileiro.

Compartilhe nas redes sociais

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *