É possível prever o resultado de uma cirurgia plástica? Essa é uma das perguntas mais recebidas pelos médicos especialistas. Com a ascensão de tecnologias de inteligência artificial (IA), muitos pacientes acreditam que é viável prever como será o resultado estético de uma cirurgia plástica. Será que isso é verdadeiramente possível?
As inteligências artificiais usam uma estratégia de três partes para aprimoramento visual facial: Detecção facial (1), Detecção de marcos faciais (2), e Aplicação de filtro (3). No contexto da população de pacientes cirúrgicos, algoritmos de IA de código aberto são capazes de modificar ou simular imagens para apresentar resultados potenciais de procedimentos de cirurgia plástica. Mas isso nem sempre é fidedigno ao que realmente pode ser feito no procedimento.
Um estudo publicado no primeiro semestre na revista Aesthetic Plastic Surgery revelou que filtros baseados em IA podem impactar as percepções e elevar as expectativas em relação aos resultados de cirurgias plásticas. Segundo os pesquisadores, a exposição às imagens artificialmente aprimoradas tende a gerar expectativas irreais, o que pode levar a uma menor satisfação após os procedimentos.
A importância dessa análise está em seu potencial para revelar até que ponto as tecnologias de IA podem moldar a compreensão do paciente sobre os possíveis resultados e, assim, cirurgiões plásticos cientes do efeito do aprimoramento de IA podem considerar usar esses resultados para aconselhar e/ou orientar os seus pacientes.
Uma das principais críticas à inteligência artificial é a de que ela reforça padrões de beleza em uma estética considerada, muitas vezes, preconceituosa e discriminatória. Isso porque alguns modelos de IA, na aplicação de filtro de embelezamento, mudam as características pessoais do paciente, indo além do que a cirurgia plástica se propõe. Não levam em conta os desafios que o procedimento cirúrgico enfrenta, como, por exemplo, o processo de cicatrização e as próprias características genéticas do indivíduo, que muitas vezes são impossíveis de serem alteradas.
No estudo, os pesquisadores utilizaram a plataforma Mechanical Turk da Amazon e coletaram informações sobre experiências anteriores usando aprimoramento visual orientado por IA. Os participantes foram divididos em dois grupos: exposto a IA e não exposto a IA.
As perguntas avaliaram a confiança na capacidade da cirurgia plástica de atender às expectativas dos participantes. Uma segunda pesquisa expôs os usuários a fotografias pré-operatórias aprimoradas por IA ou não aprimoradas. Em seguida, fotografias pós-operatórias não editadas foram mostradas e a capacidade da cirurgia de melhorar a aparência foi avaliada. Uma análise linear multivariável foi construída para medir associações entre a exposição ao aprimoramento de IA e os resultados da pesquisa. No total, 426 respostas foram analisadas: 66,9% com exposição a IA e 33,1% sem exposição prévia. A pesquisa de comparação de imagens revelou que as imagens pós-operatórias foram vistas como mais bem-sucedidas em melhorar a aparência quando nenhum filtro pré-operatório foi aplicado. Os dados mostram a importância do relacionamento médico/paciente e como o alinhamento das expectativas é fundamental: entender o que o paciente realmente deseja e, por sua vez, o paciente entender o que de fato pode ser realizado. A experiência e habilidade do profissional são fundamentais para esse alinhamento, lembrando que a análise do que a IA fornece deve sempre ser feita por um humano que conheça todas as variações e limitações que um procedimento cirúrgico apresenta.