Um dos grandes receios de quem segue uma trajetória de emagrecimento é voltar a ganhar peso ao longo do caminho, vivenciando o chamado “efeito sanfona”. A expressão está ligada às pessoas que emagreceram com dietas restritivas e voltam a ganhar peso assim que abrem mão do regime – algo frustrante que acontece em mais de 80% dos casos.
O que causa esse problema? Adoção de dietas muito restritivas? Sedentarismo? Compulsão alimentar? Ansiedade? Hoje, já se conhece muito mais sobre os mecanismos que contribuem para o reganho de peso, como o aumento de hormônios que aumentam a fome, reduzem a saciedade e diminuem a queima calórica. No entanto, por se tratar de um fenômeno frequente, muitos cientistas buscam entender as verdadeiras causas desse tipo de condição.
Novas abordagens em pesquisas estão trazendo um novo olhar para o assunto, ligando o efeito sanfona à Epigenética. Um estudo inédito, desenvolvido por um grupo de cientistas do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, publicado recentemente na revista Nature, revelou que o retorno do peso em pessoas com histórico de obesidade está relacionado às mudanças no DNA de células de gordura.
A obesidade ocasiona mudanças epigenéticas no núcleo dessas células e a “memória” do sobrepeso permanece. Com isso, o retorno desse estado pode ocorrer com facilidade devido à resistência dessas células às tentativas de perder peso. Quando há um consumo significativo de calorias, as células de ex-obesos crescem de forma mais rápida do que o tecido adiposo de pessoas que nunca tiveram obesidade.
Além disso, as células de gordura têm uma vida longa, de cerca de dez anos, antes de serem substituídas por outras – e essas informações contidas não podem ser “apagadas” com o uso de medicamentos.
O papel da Epigenética
Vale destacar que a Epigenética é uma área da Biologia que estuda as alterações na expressão dos genes que não envolvem mudanças na sequência do DNA. Esses efeitos podem ser ocasionados por fatores externos, como dieta, estresse, estilo de vida e poluição.
As pesquisas em Epigenética podem ajudar na compreensão de como aspectos ambientais e comportamentais contribuem para uma série de doenças, e não somente a obesidade, mas também câncer, diabetes, problemas psiquiátricos, entre tantos outros.
Para confirmar os achados, o estudo foi feito em camundongos, avaliando o comportamento das células de gordura em animais com sobrepeso e naqueles que emagreceram por meio de dieta. Os cientistas observaram que os animais com marcadores epigenéticos recuperaram o peso mais rapidamente ao retomar uma dieta rica em gordura.
Evidências semelhantes foram encontradas em humanos, com base em biópsias de tecido adiposo de pacientes que realizaram cirurgia bariátrica ou redução do estômago, analisadas antes do procedimento e dois anos depois.
Novos avanços para o futuro
Os progressos recentes no campo da Epigenética têm lançado uma nova luz sobre o efeito sanfona, desafiando muitas das noções tradicionais sobre o reganho de peso. Novas pesquisas, indicando que a memória celular e as alterações epigenéticas desempenham um papel importante nesse fenômeno, oferecem novas vias para intervenções mais eficazes.
Além disso, terapias epigenéticas, como inibidores de enzimas específicas ou moduladores de RNA, já estão em desenvolvimento e podem oferecer uma nova era de tratamentos que atuam diretamente na raiz do problema, promovendo mudanças metabólicas mais estáveis e sustentáveis.
Acredito que esses avanços abrirão mais possibilidades para pacientes que lutam contra o efeito sanfona, e que estamos no início de uma jornada emocionante, que proporcionará muitas novidades no futuro para ajudar os pacientes a enfrentarem esse desafio com mais eficácia.
Dra. Alessandra Rascovski @alessandrarascovski é endocrinologista e está à frente da Atma Soma, com foco na prática da Medicina de soma, unindo várias especialidades em prol dos pacientes, respeitando a sua individualidade e oferecendo-lhes vida longa e autônoma. A clínica conta com um time de médicos e profissionais assistenciais de diversas áreas, como Endocrinologia, Urologia, Ginecologia, Nutrição, Gastroenterologia, Geriatria, Dermatologia, Estética, Medicina Oriental e Ayurveda, com olhar dedicado à prática do cuidado focado no eixo neurocognitivo, metabólico e hormonal. |