Eu recebo praticamente todos os dias essa pergunta em minha rede social, por isso resolvi dar aqui algumas dicas. O mercado está invadido de cursos e muitas vezes ficamos perdidos sem saber como escolher ou o que levar em consideração ao optar por um curso de capacitação. Eu mesma já fiz muitos cursos dos quais me arrependi e, ao longo desses quase 20 anos de formada, aprendi na prática e espero que minhas dicas possam auxiliar vocês.
1. Escolha um curso de técnica reconhecida pela ciência (técnica, recurso, ativo etc.)
Primeiramente, você deve ter uma prática baseada em ciência – você já deve ter ouvido falar em estética científica ou prática baseada em evidências, certo? Mas o que é isso e como pode te ajudar?
A Estética baseada em evidência tem sua origem no movimento da Medicina baseado em evidências e é definida como “o consciencioso, explícito e criterioso uso da melhor evidência para tomar decisão sobre o cuidado individual do paciente”. A nossa prática e a nossa escolha devem ser pautadas nas práticas baseadas em evidências, entende-se a integração da melhor evidência científica com a experiência clínica com as preferências dos pacientes.
Por melhor evidência científica compreende-se a pesquisa clínica relevante, centrada no paciente, com testes diagnósticos, marcadores de prognóstico e a eficácia e segurança de intervenções terapêuticas. A experiência clínica é a habilidade de usar a capacidade de julgamento do profissional e sua experiência clínica para identificar o estado de saúde e o diagnóstico de um determinado paciente, avaliando os riscos e benefícios de uma intervenção.
Resumindo: para aplicar algo há que ter artigos científicos que garantam a eficácia (se a técnica funciona), a eficiência (se vale a pena, custos, investimento, lucro etc.), efetividade (se o paciente gosta, se tem boa aceitação etc.). Você precisa escolher o tema do curso não porque ele está na moda, ou porque X ou Y estão fazendo, mas porque tem embasamento, funciona e é rentável e seguro.
Dica extra: se a pessoa falar que não há artigo publicado, mas que ela tem experiencia de x anos, que ela já entendeu x mil pessoas etc., entenda que você está investindo em algo que um dia pode ser comprovado ou nunca ser comprovado, que funcione ou não (ainda não há prova da ciência), mas que você está comprando a experiência da pessoa, e só. Não estou dizendo que é antiético ou errado, estou dizendo que você investirá em algo que ainda não tem respaldo científico e precisa estar consciente disso.
2. Verifique se você pode fazer e aplicar.
Siga as recomendações do seu Conselho de Classe ou as normas regulamentadoras da sua profissão. Na dúvida, mande e-mails e guarde a resposta. Faça apenas aquilo que está autorizado a fazer e para o qual tem competência. Ouvir colegas é importante, mas ter respaldo legal é imprescindível.
3. Verifique os custos para implementar isso no seu espaço.
Depois de ter certeza de que aquilo funciona, é seguro, está registrado na Anvisa (se for equipamento, cosméticos etc.), chegou a hora de ver o quanto custa. Investigue tudo: preço do aparelho, manutenção (existe na sua cidade?), consumíveis (aquilo que é preciso para aplicar o aparelho ou a técnica), durabilidade (exemplo: um pote de 200 g rende atendimento a quantos pacientes?), garantia do equipamento (se sair um modelo novo um ano depois, tem como atualizar o que está investindo?), o método (se houver, exige o quê?).
4. Lucro, mercado e saturação.
Quanto você terá que cobrar e quanto lucrará para aplicar aquilo que está pretendendo, quantos clientes teria que ter para ter o retorno daquele investimento, como está a procura por isso no mercado, o que os clientes estão comentando (tenha olhar crítico e não se deixe levar só pelo bom marketing).
5. Avalie seu público.
Não pense no que o mercado fala, mas sim nas suas clientes. Se elas gostariam e se têm perfil para tal. Se são medrosas não vale a pena investir em coisas mais agressivas, o mesmo vale para questões financeiras ou equipamentos que foquem mais em uma coisa que outra. Exemplo: seu público é 80% facial, valeria a pena investir em curso de criolipólise? Pense na sua clientela, no seu espaço, no seu bolso. Não vale a pena perder o sono investindo em algo só porque está na moda.
6. Currículo do professor.
Depois de eleger o tema do curso (e avaliar tudo o que citei anteriormente), chegou a hora de escolher com quem você vai aprender aquilo. Busque o currículo dos professores, solicite essa informação. Analise a experiência dele naquilo que se propõe a estudar, não adianta o professor ser bom se ele não tem cursos naquilo, se ele não foi aluno, se não se capacitou para ensinar aquele assunto.
7. Analise o programa do curso, modalidade e carga horária.
Peça o conteúdo programático (os temas que serão abordados), a carga horária, se é presencial ou a distância e analise comparando pontos positivos e negativos, se ficar com dúvida, chame novamente o professor e o questione. Cuidado com cursos de técnicas que necessitam de prática, mas são ensinados on-line. Ver o professor fazer não é o mesmo que o professor ver você fazer. Supervisão nesses casos é fundamental.
8. Converse com ex-alunos.
Tente vasculhar redes sociais e coletar informações com alunos aleatórios que já fizeram o curso, fale sobre sua intenção e solicite informações.
9. Ouça a sua intuição e tenha paciência.
Essa não falha. A gente muitas vezes cai em roubada porque não se ouviu. Tenha paciência, analise com calma, pondere prós e contras. Não adianta ser o primeiro a ter determinada técnica e ser o primeiro a ser processado ou ter problemas por causa dela.
10. Planeje.
Escolha os temas que quer aprender, planeje, poupe. Às vezes, vale a pena esperar e investir num curso melhor a fazer um monte de outros baratos, mas sem qualidade. Não estou dizendo que todo curso caro é bom, preço não significa nada. Você precisa olhar o conjunto. Poupe. Separe um pouquinho por mês e invista em você e na sua carreira.
É assim que eu escolho os cursos que eu vou fazer. Gostou? Espero que minhas dicas tenham lhe ajudado! Até a próxima!
Referências
Dias RC. Prática baseada em evidências: sistematizando o conhecimento científico para uma boa prática clínica. Rev Fisioter USP 2003;10(2):1-2. (Editorial). McKibbon KA, Marks S. Searching for the best evidence. Part 1: where to look. Evid Based Nurs 1998; 1(3):68-70.