Recentemente, um caso foi muito comentado nas redes sociais: o de um homemde 54 anos, que estava com 98% do corpo com vitiligo e recuperou 93% do pigmento da pele assim que se divorciou, despertando muita atenção, incredulidade, curiosidade por parte de muitos. Na verdade, a separação foi um fator determinante para a recuperação daquele paciente, pois a sua condição física era influenciada por um fator psicológico.
Isso porque as doenças psicossomáticas são condições dermatológicas que podem ser intensificadas ou desencadeadas por fatores emocionais e psicológicos. A influência da saúde mental na saúde da pele é um campo de estudo crescente e relevante na Dermatologia. Questões emocionais podem esconder fontes de problemas dermatológicos como alopecia, dermatite atópica, herpes-zóster, psoríase e vitiligo, porém, existem algumas crenças comuns que acabam espalhando algumas desinformações na hora do tratamento.
A alopecia é a perda de cabelo que pode ocorrer em várias formas, como a alopecia areata, onde surgem áreas de calvície em diferentes partes do couro cabeludo. Muitas vezes, é atribuída apenas a fatores genéticos ou hormonais, mas o estresse e a ansiedade podem precipitar ou agravar a condição. Um mito comum é que a alopecia é sempre genética. A verdade é que embora fatores genéticos contribuam, o estresse emocional é um gatilho importante para a alopecia areata.
No caso da dermatite atópica, condição crônica que causa coceira e inflamação na pele, muito comum em crianças, a ansiedade e o estresse são conhecidos por piorar os sintomas. Existe o mito de que a dermatite atópica é apenas uma alergia de pele, quando na verdade, além dos fatores alérgicos, o estado emocional do paciente é determinante durante todo o tratamento da condição.
O herpes-zóster, também conhecido como cobreiro, é uma reativação do vírus da varicela-zoster que ocasiona uma erupção dolorosa. O estresse enfraquece o sistema imunológico, facilitando o aparecimento da doença. O mito mais frequente nesse caso é que o herpes-zóster só afeta idosos, justamente pelo sistema imunológico debilitado, sendo que qualquer pessoa que teve catapora pode desenvolver o vírus, especialmente sob estresse intenso.
Já a psoríase é uma doença autoimune que acelera o ciclo de vida das células da pele, resultando em placas escamosas e vermelhas. O estresse pode desencadear ou agravar os surtos, porém há um equívoco de que essa doença é apenas uma doença de pele. A psoríase tem uma forte ligação com o estado emocional e mental do paciente e gerenciar o estresse é uma parte importante do tratamento.
E o vitiligo nem sempre é psicossomático. A causa mais comum para o surgimento dessa condição é uma doença autoimune, na qual o sistema imunológico ataca erroneamente os melanócitos. No entanto, o vitiligo também pode ser causado por fatores como histórico familiar, exposição a substâncias químicas e desequilíbrios neuroquímicos no cérebro, que podem influenciar a função dos melanócitos, conforme apontam estudos. O maior mito disseminado sobre o vitiligo até hoje é que ele seja causado por infecções ou contágio, mas não há risco de contágio nesse caso, e fatores emocionais e genéticos são os principais desencadeadores.
Pacientes que apresentam tais quadros podem necessitar de tratamento multidisciplinar, sendo fundamental o diagnóstico correto do quadro para o devido ( e necessário) tratamento.Mayla Carbone @dramaylacarboneé graduada em Medicina há mais de 10 anos com residência em Clínica Médica na Santa Casa em São Paulo e em Dermatologia pela Universidade de Santo Amaro (UNISA-SP). É membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e também da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Já participou de diversos congressos e realizou diversos cursos nacionais e internacionais voltados à especialização.