O assunto do momento não é um vilão! Ele é uma oportunidade – das boas – para você movimentar o seu negócio. Não deixe de ler a reportagem a seguir – a gente ensina como tirar proveito do chamado “momento Ozempic”
Carmen Cagnoni @carmencagnoni
A busca pelo emagrecimento integra a maior parte do desejo de pessoas que buscam ajuda profissional e tratamentos eficientes para atingir o objetivo. Nesse campo, as chamadas canetas emagrecedoras têm se destacado devido aos resultados proporcionados. Para os profissionais da Estética uma nova classe de pacientes começa a surgir em suas clínicas: aqueles que perderam muito peso e precisam do apoio da tecnologia e de ativos de alta performance para tratamentos eficazes de combate à flacidez, rugas, perda de contorno facial e corporal entre outros desconfortos.
Para abordar o tema do momento, conversamos com vários especialistas para, primeiramente, entender de vez como esses medicamentos atuam; e, depois, para pontuar como o profissional da Estética pode dar suporte a tantos pacientes satisfeitos com a balança, mas descontentes com alguns aspectos da estética facial e corporal.
Prazer em conhecer
A classe de medicamentos conhecida como análogos de GLP-1 (hormônio produzido pelo intestino quando comemos), da qual o Ozempic e outros fazem parte, trouxe uma revolução no combate à obesidade, proporcionando uma perda de peso inédita e eficaz, rivalizando até mesmo com resultados da cirurgia bariátrica. Originalmente desenvolvidas para o tratamento do diabetes tipo 2, substância ministradas via canetas injetáveis (com aplicação semanal feita pela própria pessoa) estão sendo amplamente adotadas por pacientes com obesidade ou sobrepeso – quadro muitas vezes associado a comorbidades.
Condição médica que afeta milhões de pessoas globalmente, a obesidade comprovadamente contribui para o aumento da morbidade e mortalidade relacionadas às doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), é um dos mais graves problemas de saúde que o mundo enfrenta. Assim, com o crescente aumento da prevalência de casos, a perspectiva de saúde global mudou: há maior conscientização sobre as causas e um novo olhar para o tratamento da doença.
“A classe de medicamentos conhecida como análogos de GLP-1, da qual o Ozempic faz parte, trouxe uma revolução no combate à obesidade, proporcionando uma perda de peso inédita e eficaz, rivalizando com os resultados da cirurgia bariátrica. Originalmente desenvolvidas para o tratamento do diabetes tipo 2, essas canetas injetáveis estão sendo amplamente adotadas por pacientes com obesidade ou sobrepeso. A eficácia é comprovada, mas vale ressaltar que os resultados são potencializados quando associados a mudanças significativas nos hábitos alimentares e atividade física. A efetividade do tratamento também pode variar de paciente para paciente, de acordo com o tempo de acompanhamento e a aderência às orientações médicas”, pondera o Dr. Ronan Araujo, médico especializado em Nutrologia pela ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia).
Com a crescente popularização, o médico endocrinologista Guilherme Borges chama atenção para o perigo do uso indiscriminado da medicação injetável, que causa perda de peso à custa de massa magra (músculos) em indivíduos que não tem sobrepeso e obesidade, algo que é muito desinteressante em longo prazo. Além disso, pode possibilitar uma maior incidência de efeitos colaterais, como náuseas, intestino preso ou diarreia e até mesmo hipoglicemia. “De fato, o músculo é algo que tentamos preservar na maior parte dos pacientes em processo de emagrecimento. Então, quem perde peso a qualquer custo, incluindo perda de massa muscular, também reduz o metabolismo, haja vista que o músculo está diretamente relacionado com a capacidade de gasto de energia ao longo do dia. Lá na frente, isso pode até ser prejudicial no sentido de favorecer o reganho de peso. Esse ganho de peso futuro gerará um desequilíbrio ainda maior entre gordura e músculo, ocasionando uma maior desproporção, ou seja, mais gordura e menos músculo”, alerta o médico.
No topo da lista antiobesidade
As chamadas canetas para emagrecer, que têm revolucionado o tratamento da obesidade, são preenchidas com diferentes moléculas ativas, cada uma com suas especificidades e indicações. A médica nutróloga, Dra. Caroline Accorsi, especifica:
- A semaglutida, encontrada em produtos como Wegovy e Ozempic, é amplamente utilizada tanto para o tratamento da obesidade quanto para o controle do diabetes tipo 2, dada a sua eficácia em reduzir o apetite e controlar os níveis de glicose no sangue.
- A liraglutida, por sua vez, presente no Saxenda e no Victoza, também é utilizada para esses fins, mas com diferenças em dosagem e administração recomendadas para cada condição.
- Além desses, a tirzepatida, princípio ativo do Zepbound e Mounjaro, é a mais recente adição a essa classe de medicamentos, oferecendo uma abordagem dual ao mimetizar a ação de mais de um hormônio intestinal, o que pode proporcionar benefícios adicionais na gestão do peso e no controle metabólico.
“Cada uma dessas moléculas é aprovada para uso em diferentes contextos clínicos, destacando a importância de uma escolha criteriosa pelo profissional de Saúde, baseada nas necessidades e condições específicas de cada paciente. Além dos análogos do GLP-1, outros ativos fármacos, como o orlistat, que impede a absorção de gordura no intestino, e combinações de medicamentos como bupropiona e naltrexona, têm sido utilizados com sucesso para gerenciar o peso. Tais combinações atuam através de diferentes mecanismos no cérebro para reduzir o apetite e aumentar a saciedade”, pontua a médica nutróloga.
Segundo ela, um aspecto crucial do tratamento medicamentoso é a sua capacidade de melhorar as condições de saúde associadas à obesidade. “Estudos demonstram que a perda de peso induzida por medicamentos pode melhorar significativamente parâmetros como níveis de glicose, pressão arterial e perfil lipídico. Ademais, a redução de peso ajuda a diminuir o risco de problemas ortopédicos, apneia do sono e melhorar a saúde mental. É importante ressaltar que o uso desses medicamentos deve ser sempre parte de uma estratégia de tratamento multidisciplinar, que inclui mudanças de estilo de vida, como nutrição adequada e atividade física regular. O acompanhamento por múltiplos profissionais de Saúde é fundamental para garantir a segurança e eficácia do tratamento”, avisa.
Mounjaro e suas qualidades
O medicamento americano, que virou trend nas redes sociais após celebridades relatarem o uso para o emagrecimento rápido. A droga, produzida pela farmacêutica Eli Lilly e aprovada pela Anvisa em 2023 para tratamento do diabetes tipo 2 no Brasil, atua de forma semelhante ao Ozempic em casos de diabetes tipo 2, obesidade e sobrepeso, mas tem se sobressaído nos estudos e avaliações por seus resultados benéficos e superiores. “O Mounjaro atua como um análogo do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon) e GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Esses hormônios são responsáveis por estimular receptores que aumentam a produção de insulina em resposta à glicose. Além disso, o medicamento retarda o esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade e contribuindo para o controle glicêmico”, explica Danilo Avelar, doutor em Farmacologia e professor de Enfermagem do Centro Universitário de Brasília (CEUB).
O especialista destaca que estudos clínicos mostraram que o Mounjaro proporciona melhora substancial no controle da glicemia em indivíduos com diabetes tipo 2 e redução expressiva no peso corporal em pacientes com sobrepeso e obesidade. “Isso porque, ao combinar ação sobre o GLP-1 e o GIP, retarda a digestão de carboidratos, resultando em uma sensação prolongada de saciedade. A diminuição significativa na ingestão calórica leva à perda de peso. Comparativamente a outros medicamentos, o Mounjaro se destaca pela eficácia em ambas as áreas”.
Assim, é especialmente indicado para pacientes com diabetes tipo 2 que não alcançaram controle adequado com outras terapias, bem como para indivíduos com sobrepeso e obesidade que buscam uma redução de peso significativa. Gestantes, pessoas com alergia a análogos do GLP-1, indivíduos com histórico de pressão arterial muito baixa e aqueles com tendência a náuseas severas devem evitar o uso do medicamento devido aos possíveis efeitos adversos.
“Ele é administrado por via subcutânea, geralmente em uma dose inicial baixa, ajustada conforme a resposta do paciente ao tratamento. Esse regime de administração oferece conveniência e flexibilidade aos pacientes, o que pode melhorar significativamente a adesão ao tratamento”, pontua o Dr. Danilo Avelar.
BOX: Obesidade e suas implicações na saúde geral
O excesso elevado de peso ultrapassa, em muitos casos, a discussão dos parâmetros estéticos ou tem a ver com gordofobia. “A ciência está mostrando, por meio dos estudos que acompanham pacientes que emagrecem com os medicamentos análogos ao GLP-1, que o acúmulo excessivo de gordura corporal está ligado a uma série de doenças, dentre elas o diabetes mellitus, dislipidemias, hipertensão arterial, problemas respiratórios, cardiovasculares, osteoarticulares, doenças inflamatórias, digestivas, degenerativas e neoplásicas. Estar excessivamente acima do peso também pode sobrecarregar os rins, o que, somado ao aumento da pressão arterial, faz com que o órgão perca progressivamente suas funções, deixando de filtrar o sangue e produzir hormônios, o que causa, consequentemente, a doença renal crônica”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia).
“Além disso, a obesidade se relaciona com as doenças psiquiátricas, como depressão e baixa autoestima; estudos têm considerado a inflamação causada pela obesidade como um fator de risco para doenças neurológicas, como a doença de Alzheimer e outras comorbidades neurais. O excesso de peso corporal também pode causar desregulações hormonais, que causam infertilidade, pioram o sono e destroem a qualidade de vida. A chave para entender essas ligações é saber que a obesidade aumenta o estado inflamatório do corpo. Com mais inflamação, há maiores riscos de inúmeras doenças e condições”, acrescenta a endocrinologista Dra. Deborah Beranger, médica com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia e cursos de extensão em Obesidade e Transtornos Alimentares pela Harvard Medical School.
BOX: Orientação médica é fundamental
O Dr. Ronan Araújo destaca que esses medicamentos têm o potencial de ajudar na perda de peso, mas não são soluções milagrosas. Eles devem ser usados como parte de um plano de tratamento que inclui mudanças na dieta e atividade física e não devem jamais ser adotados sem a devida orientação médica. “Eles devem ser prescritos por médicos especializados, e o uso monitorado por profissionais de Saúde. A automedicação pode levar a erros de dosagem e efeitos colaterais indesejados. Além do risco de efeito rebote (ganho de peso após a interrupção), existem preocupações com os efeitos colaterais, como náuseas, constipação e muitos outros. E, ainda, nem todos são candidatos ideais para o tratamento. A seleção de pacientes deve ser feita com base em critérios médicos e considerando o histórico de saúde individual. Algumas pessoas podem não ser elegíveis”, alerta o especialista.
As mudanças no corpo pós-emagrecimento rápido
Como tudo, há dois lados da mesma moeda. Se por uma vertente, muitas pessoas têm se beneficiado desses medicamentos para vencer a luta contra a obesidade, por outra, alguns efeitos decorrentes da perda rápida de grande volume de peso podem ocasionar desconfortos estéticos.
“O emagrecimento rápido e excessivo provocado pelo uso dessas substâncias, especialmente sem o devido acompanhamento médico e nutricional, frequentemente resulta em problemas metabólicos, como desnutrição e desidratação. Além disso, é comum observar nesses pacientes uma flacidez acentuada no rosto e no corpo devido à perda abrupta de peso. No caso do rosto, essa situação é ainda mais crítica: a perda de gordura compromete a estrutura facial, uma vez que a gordura atua como um amortecedor e estruturador para as estruturas ósseas, musculares, nervosas e vasculares. Esse efeito é comparável ao da bichectomia, um procedimento que foi popular há cerca de cinco anos. Atualmente, muitos desses pacientes apresentam falta de sustentação facial, necessitando de tratamentos como retração de pele, preenchimento com ácido hialurônico, ou até mesmo lifting facial, seja por meio de cirurgia ou fios”, analisa o Dr. Luiz Tonon, médico especialista em Fios de Sustentação e Reposicionamento Tecidual, pós-graduado em Dermatologia Clínica e Cirúrgica, em Medicina Estética e em Cirurgia Dermatológica.
Ele explica que essa rápida perda de peso também pode resultar em uma aparência envelhecida e desproporcional, com a pele tornando-se flácida e sem elasticidade devido à ausência de gordura subcutânea, que a deixa sem suporte. “No rosto, isso pode levar a uma aparência esquelética, com sulcos e linhas de expressão mais marcadas. Esses efeitos não apenas afetam a estética, mas também impactam negativamente a autoestima e o bem-estar dos pacientes. Consequentemente, muitos buscam tratamentos estéticos para restaurar o volume perdido e melhorar a firmeza da pele. Procedimentos como preenchimento com ácido hialurônico, bioestimuladores de colágeno, tecnologias para retração de pele, como ultrassom microfocado e multiagulhamento multicamadas, além de lifting facial com cirurgia ou fios, tornam-se essenciais para recuperar a harmonia e a juventude do rosto e corpo”, argumenta.
Em sua experiência clínica, o médico defende a importância de o paciente pensar na combinação do tratamento medicamentoso com procedimentos dermatológicos e estéticos para obtenção de melhores resultados. “Além das questões estéticas, a ausência de gordura facial pode comprometer a proteção das estruturas profundas, aumentando a vulnerabilidade aos danos e ao envelhecimento precoce. Por isso, é crucial que o emagrecimento seja supervisionado por profissionais médicos, garantindo que a perda de peso ocorra de maneira saudável e controlada. O acompanhamento com um dermatologista também se torna essencial para minimizar os efeitos do envelhecimento durante esse processo, por meio de tratamentos coadjuvantes que preservem a integridade da pele. Isso não só torna o emagrecimento mais saudável, mas também resulta em uma estética mais bonita, harmoniosa e natural”.
Renata Taylor, fisioterapeuta dermatofuncional e supervisora do corpo clínico da empresa Medsystems, endossa: “As medicações ajudam na redução de peso, mas não abordam diretamente questões como a flacidez da pele ou a redistribuição da gordura, áreas onde os tratamentos estéticos são essenciais”.
A importância de agregar protocolos definidos para tais pacientes
Para Igor Lustosa, fisioterapeuta dermatofuncional, mestre em Meio Ambiente, professor, palestrante e escritor, atender pacientes com necessidades pontuais pós-emagrecimento já é uma realidade. “Na clínica, atendo muitos que fazem uso de Ozempic e apresentam gordura localizada, flacidez de pele, celulite… Muitos até ‘culpam’ o medicamento pelo surgimento da celulite e da flacidez, mas não é isso que ocorre. Como os nódulos fibrosos são mais subcutâneos, quando há aumento de peso isso acaba mascarando, escondendo a celulite. Com o emagrecimento, o alto-relevo da pele fica mais evidente, as irregularidades aparecem mais, porém a celulite já estava lá. No caso da flacidez, o tratamento estético é muito importante para estimular a produção de novas fibras elásticas e colágenas, e a aderência da pele ao músculo, melhorando assim a ptose e induzindo a um contorno facial e corporal mais definido. O meu (o nosso) papel é propor tratamentos para esses quadros, e mostrar como é importantíssimo que ele faça essa associação de tratamento estético com medicamento. Atendimentos com esse enfoque já são uma realidade no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos, e só devem crescer, avalia”.
Renata Taylor concorda e acrescenta: “Acredito que o atendimento a pacientes que utilizam medicações, como Ozempic, Monjauro e Wegovy, pode se tornar um protocolo específico dentro da Saúde Estética. Com a crescente demanda por essas medicações, os profissionais de Estética têm a oportunidade de desenvolver abordagens integradas que considerem as necessidades particulares desses pacientes. Isso poderia incluir um plano de cuidados personalizados para prevenir e tratar flacidez, melhorar a elasticidade da pele, e garantir uma remodelação corporal adequada. Estabelecer protocolos específicos pode não apenas otimizar os resultados, mas também aumentar a satisfação dos pacientes, promovendo um tratamento global”.
FRASES
“Os tratamentos estéticos são de extrema importância para pacientes que utilizam essas medicações, pois a rápida perda de peso pode resultar em flacidez e perda de tonicidade da pele. Procedimentos estéticos, como radiofrequência, ultrassom microfocado ou bioestimuladores de colágeno, podem ajudar a combater esses efeitos, promovendo a firmeza da pele e melhorando a aparência geral do corpo. Dessa forma, esses tratamentos complementam a terapia medicamentosa, garantindo resultados mais harmoniosos e esteticamente satisfatórios”
Renata Taylor, fisioterapeuta dermatofuncional
“As canetas injetáveis – e outros medicamentos – oferecem uma abordagem promissora para o tratamento da obesidade, proporcionando nova esperança para pacientes que lutam contra essa condição desafiadora. Com a devida orientação e supervisão, essas terapias podem ser agregadas com sucesso ao sistema integrado de tratamento, abrindo caminho para uma vida mais saudável e plena para muitos” Dra. Caroline Accorsi, médica nutróloga