Há 34 anos trabalhando na área de estética, a professora Vânia Leite não esconde sua paixão pelos cosméticos. E vislumbra o futuro: produtos cada vez mais eficazes e seguros para o consumidor – e para o planeta
Karina Hollo (@karinahollo)
Farmacêutica e bioquímica, com mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP), Profa. Dra. Vânia R. Leite e Silva trabalhou mais de 22 anos na indústria, na área de cosméticos voltados para estética, especialmente, com produtos para esteticistas e cabeleireiros, de uso profissional. Vânia conta que tudo começou quando ela trabalhava em uma indústria de cosméticos profissionais. “Lá eu tive contato com a estética, fiz um curso de esteticista até para entender como aplicar os produtos, porque às vezes você faz algo e coloca numa embalagem lindíssima, mas ela não é prática para o profissional na hora de aplicar, por exemplo”, diz. Nessa época, ela trabalhou muito com esteticistas, cabeleireiros, massoterapeutas, fisioterapeutas.
Há 12 anos, trabalha na área acadêmica como professora doutora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-Diadema), o que soma 34 anos na área estética. É Honorary Senior Research Fellow, The University of Queensland -Austrália e Presidente do conselho da ABC (Associação Brasileira de Cosmetologia). “Meu mestrado foi na área de controle de qualidade de extratos vegetais e o doutorado, em biometrologia cutânea, especialmente em hidratação da pele”, conta. O pós-doutorado, fez na Austrália, na The University of Queensland, na área de segurança de produtos com nanotecnologia, em especial de filtro solar e em prevenção de câncer de pele. “Este último, realizei em etapas, já fui quatro vezes à Austrália. A cada visita, fico seis meses desenvolvendo pesquisa na área de permeação cutânea, segurança, eficácia na área de produtos cosméticos.”
Desafios constantes
Ela conta que se no passado os cosméticos eram creminhos que se não fizessem bem, mal não faziam mal, hoje a pesquisa está muito avançada nesse setor. “Todo mundo tem que entender que um cosmético tem que ser seguro, não é tudo que que a gente faz em casa que é natural, que é bom para pele. Por exemplo: eu posso tomar Coca-Cola, mas passar na pele, não é tão bom. Eu posso chupar limão, mas passar seu suco na pele e sair no sol, não pode de jeito nenhum”, observa, acrescentando que produtos feitos sem parâmetros de qualidade, sem rigor na parte de pesquisa, podem, sim, causar muitos danos a curto, médio e longo prazo. “Essa é uma área de pesquisa a que eu me dedico muito hoje. Trabalhar com segurança dos produtos que depois um profissional vai aplicar. Acho que uma esteticista tem a grande responsabilidade da escolha do produto que vai usar e as empresas precisam realizar o teste de segurança e de eficácia desses itens”, ressalta.
“Dentro do curso de Farmácia, nós temos uma matéria que é cosmetologia. Aliás, é o único curso de graduação que tem essa disciplina aqui no Brasil. Quando eu comecei a ter aula de cosméticos, já trabalhava na área e resolvi que queria seguir para pesquisa e desenvolvimento.” Fez especialização e desenvolveu parcerias no exterior – com universidades em Portugal, na Austrália, na Suíça. O Brasil pode ser considerado um terreno fértil para testes de cosméticos. A gente tem algumas características específicas… Na Ásia, por exemplo, se estuda muito a parte de despigmentação, porque eles sofrem com manchas. Aqui no Brasil, a gente tem um público com pele oleosa e mista, encontra todos os tipos de cabelo. O mundo todo está de olho no nosso mercado para desenvolvimento de pesquisa, é muito interessante”, conta ela.
Área em constante crescimento
De acordo com Vânia, a área de cosmetologia cresce muito – e não estamos falando só em venda de produtos, mas de pesquisa também. “Hoje você tem uma preocupação completa: o produto precisa ser eficaz e seguro. É preciso estar preocupado com o consumidor e com o meio ambiente, tanto da parte seca, quanto da parte molhada, terra e águas.” E para isso, tem que haver pesquisa na área de embalagem, na interação da embalagem com o produto. “Nos preocupamos também com a contaminação de rios, de oceano, com os animais que vão ter contato com este resíduo e também na parte de sustentabilidade. Se você vai trabalhar, por exemplo, com um extrato vegetal, precisa saber como ele é colhido, qual é o dano que ele causa no meio ambiente, quais são as comunidades que estão envolvidas. Para produzir um cosmético, você precisa ter um olhar geral”, explica.
O que vem por aí
“Essa é a pergunta de um milhão de dólares”, brinca Vania. Mas ela vê vejo um cosmético cada vez mais seguro, além do foco na parte ecológica, sustentável. “Vamos trabalhar muito a biodiversidade e acho que as empresas estão priorizando nichos ao invés de fazer um produto que todo mundo possa usar. Existem empresas pequenas que são muito direcionadas para isso: homem com calvície, pele oleosa e de 30 anos, ou de 50 anos, que gostam de produtos de origem natural, mulheres grávidas, jovens… Existem nichos”, aposta ela, observando que os consumidores acabam escolhendo os cosméticos que mais se parecem com eles. “E se eu puder deixar uma dica aqui, é o seguinte: hoje os cosméticos estão muito evoluídos, os produtos estão cada vez mais eficazes e mais seguros. Então, não faça produto em casa. É muito perigoso. A gente acha que é só uma frutinha batida e acaba com problema de contaminação, de incompatibilidade com a pele. Tem vários casos de pessoas que têm dermatite, acne, coceira, conjuntivite nos olhos, tudo em resposta a produtos que fizeram em casa. Melhor comprar um produto de uma marca conhecida, responsável e preocupada com o consumidor.”