Lipedema: a doença silenciosa que afeta milhões de brasileiras

O lipedema é uma condição que interfere profundamente na vida de milhões de brasileiras. Embora atinja por volta de 11% das mulheres no mundo, ainda é pouco conhecido, frequentemente mal diagnosticado e muitas vezes confundido com outros problemas de saúde. No Brasil, estima-se que cerca de 5 milhões de mulheres convivam com os sintomas, muitas vezes sem saber que existe um diagnóstico específico e opções de tratamento adequadas.

O lipedema se manifesta pelo acúmulo anormal de gordura subcutânea, principalmente nas pernas, quadris e, em alguns casos, nos braços. Trata-se de uma doença crônica e progressiva, cuja gordura não responde aos métodos tradicionais de perda de peso — ou seja, mesmo com dieta equilibrada e prática regular de exercícios, o volume corporal nessas regiões não diminui, gerando frustração e desgaste emocional nas pacientes.

Um quadro que se disfarça

O maior obstáculo está em identificar corretamente o lipedema. Muitas mulheres percorrem uma longa jornada por diferentes consultórios, entre angiologistas, endocrinologistas e dermatologistas, sem receber um diagnóstico preciso. A condição é comumente confundida com obesidade, linfedema (disfunção do sistema linfático) ou até celulite, levando a tratamentos ineficazes.

As causas exatas ainda não são totalmente conhecidas, mas estudos apontam forte influência genética, hormonal e inflamatória. Os sintomas tendem a surgir ou se intensificar com fases de flutuação dos hormônios, como puberdade, gestação ou menopausa. Em muitos casos, há histórico familiar, reforçando o componente hereditário.

Predominantemente clínico, o diagnóstico considera distribuição anormal da gordura, sensibilidade ao toque, dor e desproporção no corpo. Outros sintomas comuns incluem sensação de peso nas pernas, tendência a hematomas espontâneos, fadiga e limitação nos movimentos. Exames como doppler e linfocintilografia podem ser utilizados para excluir outras doenças, mas ainda não existe um teste específico que confirme o lipedema.

Tratamento e cuidados

Embora não haja cura definitiva, o lipedema pode ser controlado com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. O tratamento é individualizado, dependendo da gravidade e do estágio da doença. Nas fases iniciais, estratégias como drenagem linfática manual, uso de meias de compressão, atividades físicas de baixo impacto e alimentação anti-inflamatória contribuem para aliviar os sintomas e conter a progressão.

Desde em casos mais leves até os avançados, pode ser considerada a realização de cirurgia. Porém, nos casos mais avançados, quando a dor não responde aos tratamentos conservadores e a limitação funcional é acentuada, a lipoaspiração especializada é considerada a intervenção mais eficaz. O procedimento visa remover a gordura afetada, preservando os vasos linfáticos e promovendo melhora no contorno corporal e nos sintomas associados.

Conhecimento que liberta

Em um cenário onde a pressão estética sobre o corpo feminino ainda é intensa, compreender que o acúmulo de gordura pode ter origem em uma condição médica é um passo importante para combater estigmas. Reconhecer os sinais da doença e procurar orientação especializada é essencial para garantir acesso a um tratamento adequado e mais qualidade de vida. No caso do lipedema, informação é mais do que poder: é uma forma de liberdade.

Dra. Juliana Tenorio @jutenorio é médica cirurgiã plástica e referência no tratamento do lipedema no Brasil. Com pós-graduação em Cosmiatria e Procedimentos Estéticos pelo Hospital Israelita Albert Einstein (SP), também se aprofundou na Medicina Hiperbárica, tornando-se referência no manejo de complicações cirúrgicas. Fundadora do Tudo Sobre Lipedema e do LipedemaLab, tem papel essencial na disseminação de conhecimento sobre essa condição pouco reconhecida. Palestrante em congressos nacionais e internacionais, dedica-se à constante atualização científica e ao desenvolvimento de abordagens inovadoras para o tratamento do lipedema.

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