A chegada do 5G, os novos hábitos criados com o isolamento imposto pela pandemia, a explosão da gamificação e a troca do nome do Facebook para Meta fizeram a gente cair na real de que a construção de um mundo virtual onde as pessoas podem interagir a partir da realidade aumentada, da realidade virtual, da realidade estendida, da inteligência artificial, das redes sociais, das criptomoedas e de outras tecnologias pode estar muito mais perto do que se imagina. Daí a importância de entender que revolução é essa que estamos presenciando, e que não tem nada a ver com gostar ou não de internet, mas, sim, com o fato de viver neste planeta
Shâmia Salem (@shamiasalem)
Na correria do dia a dia, pode ser que você não tenha se dado conta, mas você está vivenciando o próximo capítulo da internet. E, a que tudo indica, ele será marcado por um universo virtual mais “palpável” do que o que a gente conhece atualmente e usa por meio do computador e do celular. Trata-se do metaverso, que é tão novo que ainda não há uma definição definitiva para explicá-lo. O CEO da Disney, Bob Chapek, arrisca que “ele pode ser descrito como uma integração ilimitada do mundo físico e do mundo digital”. Outros dizem que se trata de uma espécie de internet 3D, onde cada pessoa terá seu próprio avatar, que é uma representação virtual de si mesmo, e poderá interagir de maneira online e plena numa rede de ambientes virtuais com outros avatares ou objetivos digitais reproduzindo todos os aspectos da vida real e tudo aquilo que você já faz em seu dia a dia de corpo presente. “Você será capaz de fazer quase tudo que possa imaginar – reunir-se com amigos e família, trabalhar, aprender, brincar, fazer compras, criar –, bem como ter experiências completamente novas que realmente não se encaixam na forma como pensamos sobre a tecnologia de hoje”, disse o CEO do ex-Facebook, atual Meta, Mark Zuckerberg.
Por tudo isso a expectativa é de que o metaverso dê novos contornos à comunicação humana. Para ficar num exemplo prático, imagine que seu avatar pode combinar de ir à uma livraria com o avatar de uma amiga. Chegando lá, vocês passeiam pelas estantes, folheiam livros, escolhem um exemplar, pagam com criptomoedas e ganham de brinde um marcador de páginas. Em outro momento, ao entrar num jogo, um outro amigo pede esse livro virtual emprestado, e você não só empresta como pede para ele não retirar o marcador da página em que parou sua leitura. Essa é uma hipótese baseada no fato de que todas as plataformas sejam compatíveis entre si – só assim para que o livro comprado na Amazon possa ser compartilhado no Meta ou então no WhatsApp, Roblox, Microsoft Teams e por aí vai. Essas possibilidades mostram que mais do que socializar, o no metaverso poderá ser possível fazer compras, participar de eventos, trabalhar e, naturalmente, usar essa combinação tecnológica para cuidar melhor de si mesmo.
Futuro à vista?!
Se você está achando tudo isso muito distante da sua realidade, pense no seguinte:
- a chegada da tecnologia 5G garantirá uma internet muito mais veloz;
- ficar enclausurado tanto tempo em casa por causa da pandemia fez com que a gente aprendesse a trabalhar em home office e estudar à distância;
- a explosão dos recursos dos games fez com que o número de jogadores saltasse de milhões para bilhões de usuários.
Por tudo isso acredita-se que os ganhos expressivos com a realidade virtual, a realidade aumentada e a realidade estendida vão se expandir para outros segmentos que não só o dos games, entre eles os do autocuidado e da saúde. Em termos de funcionalidade, ferramentas do metaverso como óculos de realidade virtual, luvas e outros acessórios podem permitir que os avatares de alunos e professores sejam transportados para os mais variados lugares e épocas, o que facilitaria o entendimento de técnicas bem como o treinamento e o teste de suas aplicações sem expor o paciente a riscos. Outra possibilidade seria reunir especialista e cliente numa mesma “sala”, com acesso a imagens 3D de exames e de casos clínicos para realizar um atendimento ainda mais assertivo, um diagnóstico mais preciso e a simulação de resultados para prevenir problemas e garantir um atendimento mais personalizado. E, no intervalo de tudo isso, você ainda poderia relaxar dando uma caminhada no Valle de la Luna, no Chile, fazer um test drive num Porsche de 2 milhões de dólares, simular como seria entrar com o vestido dos seus sonhos na igreja onde você pretende casar ou checar como os seus filhos se comportam no online.
Vai mesmo virar realidade?
“O metaverso ainda não aconteceu”, lembra Pablo Sáez, sócio líder de digital technology da NTT Data, uma prestadora de serviços de tecnologia da informação e parceira de inovação global líder de mercado, sediada em Tóquio. Segundo ele, também não há data para que essa revolução aconteça. Até porque estamos falando de um projeto em fase inicial, e o que se tem até agora são especulações elaboradas a partir dos planos e desejos das gigantes da tecnologia que dominam o que é a internet. O que explica inclusive por que há quem diga que o metaverso será uma extensão da internet, não um substituto; outros que falam que seu uso será concentrado no entretenimento; e muitos que acreditam que ele fará parte de vários ambientes e atividades do dia a dia. “Há muito ainda o que construir, e não só o avatar. Mas, falando especificamente da área da estética, imagino que seria necessário desenvolver maquinários específicos e ainda ter a aceitação real do usuário, que não busca apenas o tratamento e o resultado, mas a experiência gerada pela realização do procedimento. E, para isso, será que haverá necessidade de usar lentes especiais como na série Black Mirror, que deixou tanta gente surpresa e ao mesmo tempo assustada com as possibilidades de viver num mundo superavançado?”, reflete Pablo Sáez.
Em contrapartida, o líder de digital technology da NTT Data acredita que o metaverso poderia ajudar de maneira significativa nos negócios, a fortalecer uma marca, alavancar vendas. “Com o metaverso não haveria, por exemplo, limitação geográfica. Ele também permitiria a realização de simulações, o que poderia ter um peso importante na comercialização e divulgação de procedimentos”, imagina Pablo Sáez, fazendo referência a um tratamento odontológico estético que realizou primeiro em seu avatar e contou com a opinião da esposa e dos filhos antes de aceitar a proposta do dentista. Pois é, já começa a ficar difícil saber a diferença entre sonho e realidade…