Entender como esse tratamento sem agulhas é realizado e todas as suas possibilidades de uso é estar preparado para o futuro, que, na verdade, já chegou. Nele, hoje, pacientes querem poder escolher não se submeter a procedimentos injetáveis; e profissionais que, devido às normas brasileiras, não têm habilitação para realizar tais técnicas desejam parar de sentir medo ou frustração sempre que recebem um cliente querendo resultados rápidos e transformadores. As respostas para as maiores dúvidas são dadas aqui por duas feras no assunto: Rafael Ferreira (@rafaelferreiradoutor), de São Paulo, mestre em ciência da saúde e farmacêutico especializado em estética e tem MBA em cosmetologia; e Alexandra Vicentini (@draalexandra.curvas), biomédica, esteticista, professora de estética e palestrante, proprietária da Maison Curvas, em Sertãozinho (SP) Shâmia Salem (@shamiasalem)
1. Por que a intradermoterapia pressurizada está causando tanto alvoroço?
Alexandra Vicentini Essa técnica elevou o setor da estética a outro patamar. Não só tecnológico, mas, e principalmente, por permitir que os profissionais que não têm habilitação para realizar procedimentos injetáveis possam oferecer tratamentos e resultados que até então só podiam ser feitos e alcançados usando agulhas. O paciente também se beneficiou demais, já que todos querem resultado rápido, mas nem sempre querem ou podem se sujeitar a métodos feitos com agulhas.
2. Quais profissionais podem oferecer a intradermoterapia pressurizada?
Alexandra Vicentini Depois de se especializarem na técnica, todos os que atuam na área de estética: enfermeiros estetas, farmacêuticos estetas, biomédicos estetas e, claro, os que não podem realizar procedimentos injetáveis devido às normas brasileiras, como é o caso do esteticista e do fisioterapeuta.
3. Qual mecanismo de ação do equipamento usado no procedimento que garante a penetração dos ativos sem o uso de agulhas?
Rafael Ferreira O tratamento é feito com um acessório que parece uma caneta. E ela possui um sistema de pressão capaz de disparar jatos do produto em alta velocidade – de tão intenso, esse jato rompe o tecido epitelial e introduz na pele ou no couro cabeludo os ativos de maneira rápida e precisa.
4. A entrega de ativos na pele acontece de modo semelhante à técnica com agulhas?
Rafael Ferreira Não, ela se comporta de maneira diferente no tecido, porque age de forma multidimensional. Para ter uma ideia, quando o ativo é entregue pela agulha ele fica retido no ponto da aplicação, tendo sua dispersão retardada em comparação com a entrega pressurizada, que consegue respostas fisiológicas mais rápidas devido a dissipação do produto na área tratada, agindo mais ou menos 2 cm além do local aplicado.
5. A técnica é conhecida por outros nomes? Quais?
Alexandra Vicentini A intradermoterapia pressurizada também é conhecida como caneta pressurizada e mesoterapia pressurizada. Qualquer uma que você usar, estará correta.
6. Só o corporal pode ser trabalhado com a intradermoterapia pressurizada?
Rafael Ferreira De jeito nenhum! Brinco dizendo que a técnica não tem limites, já que com ela o profissional pode fazer tratamento capilar, facial, corporal e até estética íntima, para clarear a virilha e diminuir o acúmulo de gordura no monte de vênus, por exemplo. Isso significar ampliar seu leque de atuação e de oferta para tratar flacidez, linhas finas, rugas, gordura localizada, manchas, celulite, estrias, hiperhidratação, booster de rejuvenescimento, revitalização, lifting…
7. Por não utilizar agulha, pode-se dizer que aplicar a técnica é tão simples quanto parece?
Alexandra Vicentini Apesar de ter deixado a agulha de lado, a intradermoterapia pressurizada exige que o profissional tome os mesmos cuidados de um procedimento injetável. Regra geral, ele precisa estar muito bem preparado tecnicamente, realizar a antissepsia correta da pele antes e depois do procedimento, usar somente produtos de boa qualidade, redobrar a atenção ao manipulá-los e também ao utilizar a caneta pressurizada.
8. Como devem ser os produtos usados na intradermoterapia pressurizada?
Rafael Ferreira Preciso dizer que as empresas cosméticas estão inovando no quesito formulação para permitir que a gente realize essa técnica com tanta segurança e resultados surpreendentes. Só aí já dá para entender que não é qualquer cosmético que se usa na pressurização: ele precisa ser estéril, ser testado clinicamente, para se mostrar eficaz e seguro contra alergias, e ser apirogênico, ou seja, ser livre de vírus, fungos, bactérias e resíduos de metabolismo desses micro-organismos.
9. A pressão realizada pela caneta da intradermoterapia pressurizada é sempre a mesma, independentemente do objetivo do tratamento?
Rafael Ferreira Não. Essa pressão deve variar conforme a área trabalhada e o cuidado desejado, conforme a profundidade da pele que você quer atingir e a entrega de ativos que deseja fazer. Por exemplo, para reduzir gordura corporal você calibra uma pressão e uma entrega de volume de ativos maior do que a realizada para afinar o rosto numa harmonização.
10. Quais os riscos de não atentar à pressão utilizada e à entrega dos ativos de maneira mais profunda ou mais superficial na pele?
Rafael Ferreira O melhor jeito de responder é dando o seguinte exemplo: tratar um problema profundo como gordura localizada deixando a pressão muito superficial pode causar lesões na pele e deixar a “porta aberta” para infecções, que podem desencadear inúmeras complicações.
11. Quais são as intercorrências mais comuns com a técnica?
Rafael Ferreira Acredite se quiser, a maior parte delas está relacionada a contaminações causadas por falhas na higienização realizada pelo profissional. Por isso é que insisto tanto na importância de fazer a antissepsia adequada da pele que será tratada, de usar luvas, manipular corretamente os produtos e fazer a higiene cutânea também depois do procedimento. E, se o tratamento foi realizado no corpo, ainda recomendo que a área seja envolvida com um plástico-filme, para evitar o contato com o tecido da roupa. Devemos atentar para o controle de irritações e processos inflamatórios na pele para evitar casos de hiperpigmentações.
12. É verdade que a intradermoterapia pressurizada pode ser usada até mesmo para emagrecer o rosto?
Rafael Ferreira Pode! E sou fã desse protocolo pelo resultado de harmonização facial que ele oferece somente com o uso da intradermoterapia pressurizada. Mas, para isso, é preciso conhecer a fundo o mapeamento facial, conhecer os pontos estratégicos de aplicação, saber qual gordura você pode tratar e qual não pode. Tudo isso para afinar o rosto, melhorar o contorno, dar um up nas bochechas e reduzir a papada sem o risco de acentuar sulcos e a flacidez nas laterais da face e no pescoço ou até mesmo provocar uma necrose.
13. Apesar de não usar agulha, o procedimento oferece resultados com boa durabilidade?
Alexandra Vicentini Sim! Mas, para isso, repito, é preciso se especializar e se atualizar constantemente em intradermoterapia pressurizada. Afinal, novos estudos estão surgindo para garantir que a gente consiga resultados cada vez melhores com menos riscos.
14. Quais os efeitos colaterais da técnica?
Rafael Ferreira Como a entrega do ativo é feita com muita pressão, mesmo quando ela é realizada mais superficialmente na pele, alguns capilares sanguíneos podem romper, fazendo surgir pequenos hematomas. Também acontece o que a gente chama de edema transitório, um inchaço que tem esse nome por desaparecer até 24 horas depois a aplicação.
15. A intradermoterapia pressurizada é liberada para todo tipo de paciente?
Rafael Ferreira É importante deixar claro que as contraindicações não são referentes à técnica em sim, mas aos ativos que são injetados. Sendo assim, um cardiopata, por exemplo, não pode fazer tratamentos à base de cafeína, que é figurinha carimbada em protocolos de gordura localizada. Daí a importância de ler o rótulo do produto com muita atenção, fazer uma boa anamnese no cliente e, na dúvida, entrar em contato com o fabricante, além de, claro, se manter atualizado no procedimento.
16. Qual a explicação para o sangramento que acontece durante a aplicação?
Rafael Ferreira Ele ocorre – e é natural que aconteça – porque, apesar de não possuir agulha, a pressão usada nesta intradermoterapia abre canais na pele para que os ativos sejam introduzidos nela. E o sangramento é a prova de que as substâncias realmente penetram na cútis. Vale dizer ainda que a quantidade de sangue que sai em cada aplicação é muito, muito pequena, coisa de gota.
17. É possível aumentar as dosagens de produtos para potencializar e acelerar resultados?
Rafael Ferreira Jamais! A quantidade depende do objetivo do tratamento que vai ser realizado e do local que será trabalhado. Regra geral, quanto mais superficial for o protocolo, menor a dosagem deve ser; e vice-versa.
18. A falta de agulhas exige que mais sessões sejam realizadas na intradermoterapia pressurizada em comparação com a técnica convencional?
Alexandra Vicentini Cada paciente deve ser avaliado de maneira individual e o tratamento prescrito para ele deve ser sempre personalizado. Porém, é fato que na pressurizada você acaba colocando menos produto do que na injetável.
19. Qual o preço médio de uma sessão de intradermoterapia pressurizada?
Rafael Ferreira O valor vai depender do custo que você teve com o produto usado, da quantidade que você utilizou desse produto e do número total de sessões que serão realizadas no paciente. Mas, de maneira muito geral, posso dizer que cada sessão pode girar em torno de R$ 200, R$ 250. Ou seja, tem um excelente custo-benefício para o paciente e ótimo retorno financeiro para o profissional de estética.
20. Quais cuidados o paciente precisa tomar pós-aplicação?
Rafael Ferreira Imediatamente depois do tratamento ele não pode receber nenhuma massagem e deve evitar o contato da roupa com a pele da área tratada, pelos canais que foram abertos pela pressurização e funcionam como uma porta de entrada para agentes contaminantes. Por esse mesmo motivo é importante não frequentar praia nem piscina durante o tratamento, além de não coçar a área nem não tomar sol enquanto estiver com hematomas, para evitar o aparecimento de manchas.
21. Qual o intervalo ideal entre uma sessão e outra?
Rafael Ferreira As aplicações podem ser feitas a cada semana, ou com intervalos de 10 a 15 dias. Quem vai ditar o prazo certo são os hematomas, já que eles precisam desaparecer por completo para não provocar uma hiperpigmentação.
22. Toda aplicação, independentemente do tipo de tratamento e da área trabalhada, sempre deve ser feita com a caneta de pressurização na posição vertical, a 90 graus?
Rafael Ferreira Sim. Porque qualquer inclinação do acessório pode causar um corte na superfície da pele devido à velocidade com que o líquido cosmético penetra nela – de tão rápido, é como se ele fosse uma lâmina! Isso pode gerar uma cicatriz, tanto atrófica, deixando uma marca profunda na região, como pontos hipercrômicos, que vão exigir tratamento clareador.
23. Qual o erro mais grosseiro que profissionais têm cometido ao aplicar a intradermoterapia pressurizada?
Rafael Ferreira Na ânsia por atingir as camadas mais profundas da pele, eles pressionam a caneta pressurizada com muita força na área da aplicação, a ponto de criar um fosso na pele. Isso é absolutamente desnecessário, e arriscado, já que pode acabar atingindo um órgão.
24. Qual a pressão correta da caneta pressurizada sobre a pele?
Rafael Ferreira Ela deve apenas encostar na pele, porque a penetração será realizada pela pressurização do equipamento. Ele é capaz e o responsável por fazer com que o ativo chegue à camada cutânea que você deseja atingir.
25. É possível driblar a volumetria limitada para os ativos colocados no equipamento?
Rafael Ferreira Sim. Você pode ter um transferidor em T, que conecta a caneta direto no frasco da ampola, ou então usar um transferidor de seringa, para aspirar o produto e fazer a aplicação.
26. Por que a massagem pós-procedimento imediata é contraindicada?
Rafael Ferreira Porque a ideia é que eu tenha a entrega dos ativos e os mesmos não tenham mobilização, podendo ser removidos ou diminuir a concentração de água na região tratada.
27. Tudo bem fazer o pincelamento da pele com as mãos para aplicar a pressurizada da mesma forma que se faz com a intradermoterapia com agulhas?
Rafael Ferreira Isso é contraindicado, porque ao fazer esse pincelamento você compacta muito o tecido e com a pressão da intradermoterapia pressurizada acaba rompendo mais vasinhos, deixando a pele mais roxa. Porém, essa técnica de pincelamento só deve ser usada na pressurizada em algumas exceções, como em tecidos que não deem condição de fazer aplicação normal, como zonas de margens, bordas ou cantos ou numa pele com extrema flacidez.
28. Assim como a técnica tradicional, na intradermoteria pressurizada pode-se trabalhar com mesclas de tratamentos em vez de usar apenas um único princípio ativo?
Rafael Ferreira Pode, sim. Mas essas mesclas têm algumas regras que precisam ser respeitadas, principalmente em relação a como elas devem ser preparadas e à ordem da aplicação de cada uma das substâncias. Também é importante verificar se houve alguma alteração físico-química durante o preparo desse mix, que muito provavelmente vai ser vista a olho nu, com a combinação ficando turva ou mudando de cor. Se isso acontecer, não utilize.
29. Dá para se autoaplicar a intradermoterapia pressurizada?
Alexandra Vicentini Dá! Desde que você tome todos os cuidados, inclusive o de descontaminar a região que será tratada. É importante lembrar que não é por utilizar a pressurização que a intradermoterapia deixou de ser uma técnica infiltrativa. Então, todos os rigores tomados com procedimentos com agulha devem ser igualmente seguidos na técnica pressurizada.
30. Ao trabalhar com substâncias viscosas, pode-se tirar o êmbolo da seringa da caneta pressurizada e usar uma seringa normal com agulha para preenchê-la?
Rafael Ferreira Jamais! Porque as boas práticas de manejo injetável preveem que nunca se pode tirar o êmbolo de uma seringa, porque ela será contaminada. Para fazer esse procedimento com segurança você pode usar um transferidor, tanto a versão torneira de três vias quanto uma versão simples, que liga uma seringa na outra de forma direta.
“A intradermoterapia pressurizada exige que o profissional tome os mesmos cuidados de um procedimento injetável. Regra geral, ele precisa estar muito bem-preparado tecnicamente, realizar a antissepsia correta da pele antes e depois do procedimento, usar somente produtos de boa qualidade, redobrar a atenção ao manipulá-los e também ao utilizar a caneta pressurizada”
Alexandra Vicentini
“Cada paciente deve ser avaliado de maneira individual e o tratamento prescrito para ele deve ser sempre personalizado. Porém, é fato que na pressurizada você acaba colocando menos produto do que na injetável”
Alexandra Vicentini
“Não é qualquer cosmético que se usa na pressurização: ele precisa ser estéril, ser testado clinicamente, para se mostrar eficaz e seguro contra alergias, e ser apirogênico, ou seja, ser livre de vírus, fungos, bactérias e resíduos de metabolismo desses micro-organismos”
Rafael Ferreira
“Como a entrega do ativo é feita com muita pressão, mesmo quando ela é realizada mais superficialmente na pele, alguns capilares sanguíneos podem romper, fazendo surgir pequenos hematomas”
Rafael Ferreira