Pode a tecnologia influenciar no resultado da micropigmentação a longo prazo? Um novo estudo sugere que sim. E, em temos de sucesso e expansão da técnica como profissão, informação científica nunca é demais
Karina Hollo
Na micropigmentação, as agulhas perfuram o tecido provocando uma dupla resposta inflamatória. Primeiro, à agressão mecânica, que ativa os sistemas de reparação que buscam fechar a ferida. E depois ao pigmento, que ativa o sistema imunológico da pele que busca a eliminação total deste material. Acontece que a lesão dérmica provoca um processo mais intenso chamado de cicatrização – que gera a cicatriz. Na micropigmentação, o processo de cicatrização incluirá uma nova estrutura, cujas características finais dependerão de uma série de fatores nem sempre previsíveis: quantidade e profundidade do tecido lesado, sua localização, grau de pigmentação cutânea e tratamento dado à ferida. Como garantir um resultado ideal, a longo prazo? A esteticista e cosmetóloga Kathrin Schmidt, de São José dos Campos (SP), realizou um estudo que demonstra que a escolha do aparelho de micropigmentação influencia, e muito.
Tecnologia X micropigmentação
A tecnologia do dermógrafo pode representar a possibilidade de um procedimento com menos trauma, permitindo um processo inflamatório menor e, consequentemente, menos tecido cicatrizado aparente. “Isso é de extrema importância pois o pigmento da micropigmentação será eliminado com o tempo, restando no local somente a cicatriz”, alerta Kathrin Schmidt. “A escolha de um dermógrafo com tecnologia que preserve a integridade da pele, apesar do trauma inerente ao procedimento, é de extrema importância para a estética da cicatriz que prevalecerá”, continua. Conclusão: a cicatriz pode ser controlada de acordo com o controle do trauma gerado pelo dermógrafo.
Dermógrafos e agulhas
Ambos influenciam nesse processo de cicatrização. “Primeiramente, a agulha é feita de um material chamado aço inoxidável. A qualidade deste material é diferente dependendo do fabricante”, observa Kathrin. Outra questão importante é o tipo de “lança” ou precisão da ponta da agulha. “Algumas agulhas não passam por controle de qualidade e chegam ao mercado com falhas ou defeitos muitas vezes imperceptíveis a olho nu, prejudicando totalmente o toque suave e menos traumático da agulha com a pele.” Mais uma vez, tudo isso resultaria em um processo traumático mais intenso, fazendo com que a cicatrização também resulte em lesão aparente.
Cicatriz imperceptível
Equipamentos com tecnologias diferentes geram lesões diferentes – e algumas podem ser permanentes? “O tecido uma vez modificado no processo de cicatrização pode nunca mais regredir para uma textura normal”, avisa Kathrin. “Esta diferença de trauma é observada principalmente em procedimentos feitos com agulhas de uma ponta porque estes podem ser bem mais traumáticos dependendo da habilidade de quem executa”, continua. Toda vez se observa sinais de processo inflamatório intenso como dor, calor, rubor, edema e sangramento no processo de pigmentação, é preciso ficar atento. Em todos estes casos, a precisão do equipamento e a qualidade da agulha influenciarão no resultado cicatricial definitivo.
Processo de cicatrização ideal
Equipamentos ou dermógrafos com tecnologias diferentes podem gerar lesões diferentes e algumas dessas lesões podem ser permanentes, apesar do processo de pigmentação em si apresentar resultado temporário. “O processo inflamatório gerado pela micropigmentação será proporcional ao dano causado ao tecido, ou seja, a profundidade e a amplitude da lesão determinarão a intensidade da resposta cicatricial.” No processo de cicatrização será criada na pele uma nova estrutura, cuja qualidade estética dependerá de uma série de fatores dentre eles quantidade e profundidade do tecido lesado. “O mecanismo do trauma neste caso é fator decisivo. Quanto mais preciso o equipamento menor a lesão”, explica.
Pele vermelha, hiperpigmentada ou despigmentada
“Muitos micropigmentadores observam que em torno de 12-18 meses após o procedimento de micropigmentação, o residual do processo de eliminação do pigmento pelo organismo é avermelhado”, diz a esteticista. A maioria imagina que isso seja por causa da base do pigmento implantado ou pelo fato de o pigmento ser inorgânico. “Contudo, o que se descobriu é que o eritema pós-procedimento ocorre durante a fase inflamatória com vasodilatação e pode prolongar-se ou ficar indefinidamente, especialmente em peles dos tipos I e II de Fitzpratick”, fala Kathrin. O cuidado seria evitar o aprofundamento produzido pelas escoriações, pois este avermelhado é também tecido cicatrizado pós- micropigmentação com cicatriz.
As cicatrizes podem ainda ser hiperpigmentadas ou despigmentadas. “A despigmentação pode ser explicada por perda de função de melanócitos, alteração de número e tamanho de dendritos, diminuição de transferência de melanossomos e alteração dos grânulos de melanina. Há ainda aparente vulnerabilidade do melanócito ao trauma físico, com diminuição do número de mitoses. A hiperpigmentação pode ser explicada por aumento na produção de melanossomos, aumento da melanização dos melanossomos, produção de melanossomos maiores, aumento da transferência de melanossomos para queratinócitos e aumento da sobrevivência de melanossomos nos queratinócitos.”
Micro sem marcas
O que garante uma micropigmentação sem marcas depois que o pigmento some é a quantidade e a profundidade de tecido lesado. Isso é controlado com o equipamento usado. ”O investimento em tecnologia é de suma importância quando há a busca por um efeito que permita uma remoção total pelo organismo após o período de permanência da pigmentação temporária na pele. Fatores como investigação de procedência de fabricação, reconhecimento diante da comissão científica mundial, pesquisa de controle de qualidade dos materiais e da fabricação, certificação da ANVISA aqui no Brasil e indicação de utilização pelo fabricante são alguns itens que podem ser considerados antes de escolher se o material é adequado para trabalhar. “Além da importância de todos os itens extremamente modernos de biossegurança já disponíveis em agulhas e equipamentos no mercado brasileiro que evitam processos de infecção com lesões ainda mais aparentes pós-cicatrização.”